VII - A Ausência do Amor

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      Naquela noite, Amber ficou na casa de Peter, mas ela não dormiu. Ficou acordada pelo resto da madrugada escrevendo seu livro, sua criatividade havia voltado, e quando Peter acordou (mais ou menos pela hora do almoço) ela havia acabado sua obra. Não podia se sentir mais realizada. Estava com um coque bagunçado, e vestida só com uma camisa grande do namorado, descalça. Ela podia até mesmo dançar de alegria com o seu progresso. Tinha que voltar para casa e avisar Belinda, e, mesmo com a ressaca de ter acabado de acordar, Peter a levou. A excitação dela era grandiosa, e não podia esperar.


     Quando estavam na rua de Amber, eles viram dois carros de polícia e uma ambulância estacionados na frente da casa lilás e branca. O coração de Amber congelou, e ela saltou para fora do carro de Peter sem pensar, correndo sobre o chão de terra até dois paramédicos, que levavam um corpo coberto por um lençol em cima de uma maca.  

      Os policiais foram até Amber e a disseram, com o maior profissionalismo possível, que um crime havia sido cometido em sua casa, alguém havia quebrado as janelas e entrado, e que por mais que o criminoso não tivesse tocado um dedo sequer em Belinda, ela tinha sofrido uma parada cardíaca, provavelmente por conta do susto que levou com alguém estourando as janelas laterais da sala às pressas.


      Sabe aquele momento, em que seu corpo para no tempo, e você só consegue se perguntar o que fez para merecer tal vida? Amber estava nesse momento, mas ela não se perguntou nada, ela apenas ficou parada no mesmo lugar por horas, olhando para o mesmo ângulo, sem pensar em nada. Ela não sentia seu corpo, mal podia ouvir seu coração bater. Estava paralisada no sofá de sua sala, com os cacos de vidro em volta de si, espalhados pelo chão de madeira. O vento frio de outono que entrava pelas janelas quebradas não fazia mais seu corpo tremer. Não havia cor, não havia luz.


Montanhas GeladasOnde histórias criam vida. Descubra agora