V - Um Lugar de Paz

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     No caminho para buscar Amber, Peter foi parado por dois dos amigos do seu pai, que o viram jogar no torneio e estavam com uma proposta de patrocínio. Peter não podia deixar a oportunidade passar, então ligou para James, pedindo para ele buscar Amber em seu lugar. Logicamente, Amber se sentiu um pouco incomodada, mas achou que seria uma boa oportunidade para conhecer melhor o irmão do seu namorado.

      James havia chegado, acabando finalmente com a ansiedade de Amber.

     — Oi. — James disse, pelo vidro aberto do carro.

     — Oi. — Ela abriu a porta e entrou, percebendo o olhar perdido de James, e se sentindo atraída por sua franja bagunçada. Ele estava usando uma camisa branca de gola V, que deixava à mostra suas veias saltadas em suas mãos e em seus braços enquanto ele segurava firmemente no volante.  — Obrigada por ter vindo me buscar.

     — Não precisa agradecer, se meu irmão pediu é uma ordem. — Ele sorriu para ela, demonstrando que sua fala havia sido uma brincadeira, e Amber não pôde deixar de notar uma pinta interna que ele tinha no lábio inferior.

      Ela sorriu de volta, apesar de saber que havia ressentimento naquela brincadeira. Ele ligou o carro e dirigiu por uma avenida iluminada por luzinhas penduradas de árvore em árvore. Freeze Mountains sempre teve um clima de Natal, independente da época.

     — E como está o namoro com meu irmão?

     Ela estranhou a pergunta, mas deixou passar, James estava sendo educado demais naquele dia. Talvez tenha sido só uma pergunta aleatória, pensou ela.

     — Não tenho o que reclamar — ela deu um sorriso envergonhado — ele faz praticamente tudo o que eu peço.

     — Peter sempre foi conhecido por ser um cavalheiro.

     — E você, não namora ninguém? — essa era uma pergunta que Amber não faria, mas já que estavam no assunto, ela decidiu ser impulsiva igual as águas da cachoeira e seguiu o que sua emoção estava pedindo.

     Ele soltou um riso debochado.

     — Eu não faço o tipo das garotas.     

     — O tipo bonito e charmoso? — Amber, o que foi isso??? Ela arregalou os olhos em um susto ao perceber o que havia dito e ficou em um silêncio profundo por um breve segundo — Ah, digo, com certeza você faz o tipo de muitas garotas, igual seu irmão.

     — Igual meu irmão? Então também sou seu tipo?

     Amber não podia estar mais envergonhada, a vermelhidão em seu rosto apareceu sem prévio aviso. Ele percebeu, e então riu para descontraí-la.

     "O que acabou de acontecer?" era a frase que não saía da cabeça de Amber até eles chegarem na casa.

     James estacionou o carro, e , da frente da mansão, já conseguiam ouvir um som extremamente alto e ver luzes de várias cores indo de um lado para o outro. Ele percebeu a expressão de Amber e perguntou:

     — Não é muito fã de festas assim?

     — Ah, eu preferia estar em um lugar mais calmo com Peter, talvez no topo de alguma montanha, observando as estrelas.

     — Eu posso te mostrar um lugar parecido com esse se quiser. Eu não sou o Peter, mas — James se aproxima dela — ouvi dizer que também faço seu tipo. — Ele brincou e ela riu, colocando sua franja para trás da orelha.

     — Só enquanto Peter não chega. — Ela sorriu de volta para ele. Esse não é o James que eu imaginava.

     Eles se afastaram da casa o suficiente a ponto do som alto não os incomodarem mais, e a única luz que havia para os iluminar era a que vinha da lua cheia.

     — Você não está planejando me sequestrar, não é?

     — Está vendo aquela árvore? — Ele apontou para uma árvore alta, que possuía um tronco espesso e galhos grossos. — Quando eu era pequeno, meu pai e eu construímos um espaço de madeira em cima dela, como se fosse um mirante, mas sem cercas em volta. Perfeito para observar as estrelas.

     Amber ficou sem palavras.

     Quando eles estavam de frente para a árvore, a única maneira de subir era através de uma escada estreita e íngreme, grudada no tronco.

     — Não sei se consigo subir... — Ela disse, um tanto preocupada. 

     — Eu subo primeiro e te ajudo de cima.

     — Não vai me deixar cair, em.

     — Você confia em mim? — Ele a encarou por um segundo, enquanto ela repuxava os lábios e a ponta do nariz para trás, em um tom de dúvida. Ele então sorriu e subiu as escadas.

     Quando ele já estava no topo, estendeu a mão para ela, que ainda estava receosa. Mas apenas por pouco tempo, pois ela tirou os sapatos de salto, os jogando no chão, e se agarrou nos degraus, sendo ajudada por James no final, que segurou em sua mão e a trouxe para cima. Em um deslize, Amber quase tropeçou para trás, de onde veio, mas James a segurou pela cintura em um movimento veloz, a trazendo de volta para ele. Os dois ficaram extremamente próximos um do outro, e Amber afastou um passo dele ao perceber que estavam praticamente colados, o agradecendo depois do susto. Nisso, ela voltou seu olhar para a vista que o mirante proporcionava. Ficou sem fôlego. Era possível ver todas as estrelas.

     — É perfeito.

    — É o meu lugar de paz. — James se sentou na beira da superfície.

    — Peter não vem aqui? — Ela acompanhou James, se sentando do seu lado, deixando suas pernas suspensas ao vento. As solas de seus pés descalços podiam sentir a leveza da brisa que se passava por ali.

     — Ele vinha, quando éramos mais novos. Acho que ele provavelmente deve ter enjoado.

     — Como alguém pode enjoar disso tudo?


     Eles ficaram ali, em silêncio por alguns minutos. Um silêncio que não incomodava, que não os deixava desconfortáveis. Era um silêncio de paz, de entendimento, de sincronia.


     — Se me permite a pergunta... O que você faz, Amber?

     — Achei que Peter já tinha mencionado a essa altura.

     — Ele mencionou. Mas eu quero ouvir de você. — A brisa leve tocou em seus cabelos, dando um movimento suave para sua franja, que ressaltava seu olhar de curiosidade.

     — Bem... — Ela ficou um pouco sem graça — eu não me candidatei para nenhuma universidade desde que terminei o ensino médio, e isso as vezes me fazia sentir inferior aos outros. Porém hoje em dia eu sei que estou exatamente onde devia estar, criando histórias e as escrevendo para que as pessoas possam se inspirar nelas, para que elas lhes traga algum conforto na vida, assim como trazem para mim.

     — Então é uma contadora de histórias, uma mulher que dá vida às suas ideias. Isso é muito raro hoje em dia, todos têm muito medo de se expressar.

    — Sim.. Eu tinha muito medo, mas percebi que ele não me adiantava em nada.

    — E que tipo de histórias gosta de escrever?

    — Depende muito do momento. Agora estou escrevendo um livro de romance, mas também gosto de escrever sobre aventura e fantasia.

    — Consigo imaginar o que te inspirou para o romance..

     Ela riu.

    — Exatamente. Apesar de eu não ter mais tanta certeza assim. — Amber se arrependeu novamente de suas palavras. Não sabia porque, mas se sentia muito a vontade perto de James, era como se ela pudesse dizer qualquer coisa, compartilhar qualquer sentimento, mesmo que fosse inapropriado.

     — O que quer dizer?

     — Ah, melhor esquecer o que eu disse, não devia ter te falado isso...

     Antes que James pudesse saciar sua curiosidade, o celular de Amber tocou. Era Peter, ele havia chegado na festa.

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