XI - Chuva

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     A noite estava fria, e por mais que estivesse chovendo, James resolveu passar por Green Falls. Pensou que talvez o grande parque florestal fosse lhe dar uma pista de onde ir, e resolveu seguir sua intuição. 

     Ele não tinha ideia de onde recomeçar sua vida, apenas sabia que tinha que ir.  

     Chegando lá, estacionou seu carro, e ao sair não se preocupou em pegar um guarda-chuva, queria sentir a chuva. Ele andou por uma trilha iluminada por postes de luz amarela, sentindo a água caindo em seu corpo. Fechou seus olhos por um momento, no intuito de se conectar com o ambiente. Nada passava pela sua cabeça. Andou mais um pouco até chegar em uma das cachoeiras, onde se sentou em uma pedra por alguns minutos, observando a queda d'água. Nenhum pensamento vinha em sua mente. Juntou suas mãos e abaixou a cabeça, pedindo por um sinal, mas nada veio. Resolveu que era hora de voltar e deixar Freeze Mountains de uma vez, já havia tomado muita chuva por uma noite. Voltou pela mesma trilha, e quando chegou em um campo aberto viu uma mulher sentada na grama, no espaço de piquenique, também sem um guarda-chuva. Ele se aproximou para ver quem era, e começou a reconhecer cada traço dessa mulher. Ela tinha um cabelo escuro que tocava nos ombros, sua pele era morena e refletia a luz da lua, seus olhos eram tão castanhos quanto seu cabelo e as maças de suas bochechas tinham um leve tom rosado. Não havia dúvida, essa mulher era Amber Hill. O coração de James palpitou, curioso para saber o que ela estava fazendo ali, em meio àquela chuva.

     — Amber? — Ele chegou bem próximo dela.     

     — James! — Ela ficou tão surpresa quanto ele. — O que faz aqui a essa hora? Com esse tempo?

     — Posso perguntar o mesmo a você.

     Eles sorriram um para o outro. Ainda surpresos.

     — Eu vim me despedir do parque, estou indo embora de Freeze Mountains.

     — O que? Agora?

     — Agora.

     Amber ficou um tempo em silêncio antes de dizer:

     — Mas o que aconteceu? Seus pais te fizeram algo? Peter te fez algo?!

     — Não. Eu mesmo me fiz esse favor. Já me não encaixo naquela família a muito tempo... 

     — E eu nunca mais ia te ver? — Ela se levanta, e fica de frente para ele. — Você ia apenas desaparecer, do nada?

     James ficou sem saber o que dizer. Ele havia pensado em se despedir dela, mas não achou que Amber sentia o mesmo, que fosse algo tão forte a ponto dele fazer uma grande falta. Mas ele iria fazer.

     — Eu não achava que era importante para você.

     — Aparentemente eu não sou para você. — Ela deu uma risada sem graça, esperando que ele não respondesse, mas James a surpreendeu mais uma vez quando disse:

     — Eu te levaria comigo.

     Ela o olha, com a água da chuva tocando todo seu rosto, descendo pelo seu pescoço até seu colo.

     — Desde a noite em que te mostrei o mirante na árvore... — James não moveu seu olhar da profundidade dos olhos de Amber, estava aflito. Não sabia como falar, mas tinha que falar — Eu estou apaixonado por você, Amber.

     O coração de Amber entra na mesma frequência do de James. Se ele está apaixonado por que iria embora sem dizer adeus? E por que não me disse antes?! Tivemos oportunidades... eu tive... Um milhão de palavras passou pela cabeça dela, mas ao contrário de James, ela não teve coragem de dizê-las. Só o que conseguiu, foi:

     — Você foi muito especial para mim. Espero que encontre o que procura.

     James expira, desanimado, e beija a testa dela por longos segundos, passando a mão em seus cabelos molhados pela primeira vez.

     — Adeus, Amber. — O som da chuva interlaçou o som de sua voz, e Amber sentiu a energia correndo em suas veias.

     Ele se vira, e vai embora.


      Amber ficou ali, travada, sem saber como reagir. Seu coração parecia pulsar para fora de seu peito, e ela começou a pensar em sua vida, nas coisas que tinha em Freeze Mountains. Se fosse embora, o que deixaria? Suas amigas entenderiam sua partida, e com certeza dariam um jeito encontrá-la novamente. A casa lilás de sua avó ficaria lá, junto com todas as memórias, mas todas as boas lembranças também eram carregadas em sua alma, não era preciso nada material para isso. Enquanto ao seus livros, ela poderia escrevê-los em qualquer lugar que estivesse. O que estou esperando então?

     Ela viu James se aproximar do carro, e percebeu que tinha apenas uma chance. Eu realmente vou deixar passar?

     — JAMES! — Ela o chamou, um segundo antes dele abrir a porta do carro.

     James olhou rapidamente para onde a voz de Amber veio, e se afastou do carro para vê-la a metros de distância em baixo da chuva. Eles se olharam por um momento e ela finalmente correu em sua direção. Ele se apressou na direção dela, sentindo as gotas frias de chuva em cada parte do seu corpo. Ela saltou para os braços de James, que a beijou apaixonadamente. A chuva continuou caindo, e em um breve momento Amber se lembrou do romance de sua avó com o soldado. Ela tinha que seguir o coração do mesmo jeito que Belinda seguiu, e, ainda no colo de James, ela disse:

     — Eu vou com você.

     O sorriso de James não poderia ter sido mais sincero, e Amber sentiu paz pela primeira vez.

     Eles correram, em êxtase, até o carro e se sentaram nos bancos, os molhando por inteiro.

     — Vamos precisar de um banho. — Ela riu. — Afinal, para onde estamos indo?

     Ele a olhou, com um sorriso desajeitado, e disse:

     — Eu não onde é esse lugar, mas eu sei que a gente vai saber quando chegar lá. — Ele segurou nas mãos geladas dela. — Você confia em mim?

     Ela se lembrou da noite da festa e respondeu:

     — Eu confio em você.

     James deu a partida no carro e pegou a estrada principal. Os dois pararam em um hotel na beira da estrada, onde tomaram banho e se amaram profundamente. No dia seguinte, pegaram a estrada novamente, sem rumo, apenas deixaram o Universo dizer onde iriam chegar. Não sabiam onde iriam parar, mas podiam sentir que seria um lugar repleto de música, onde as ondas do mar quebrariam em seus pés dançantes, dizendo que estavam exatamente onde deveriam estar.

     

     

Montanhas GeladasOnde histórias criam vida. Descubra agora