IV - Belezas da Natureza

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     No dia seguinte, Amber resolveu ir até Green Falls para aliviar seus incensáveis pensamentos sobre o jantar da noite anterior. Pegou sua bicicleta e seguiu em direção a uma trilha, pedalou por quilômetros adentro de uma floresta até a entrada do parque verde. Chegando lá, ela estacionou sua bicicleta perto de um alto pinheiro e se sentou na grama, abrindo seu caderno de ideais para histórias. Ela precisava continuar trabalhando no seu livro, já que acreditava que isso seria seu futuro.


     Quando começou a sair com Peter sua criatividade aflorou, ela escrevia dia e noite sobre o amor de um doce homem, mas quando acordou de manhã tudo o que tinha criado já não fazia mais sentido, e ela estava se sentindo enganada por si mesma. Ela rasgaria as páginas escritas e começaria tudo de novo, ou continuaria criando através de uma desilusão?  O que Peter havia feito com seu irmão no jantar não era aceitável para Amber. Ele devia ter ao menos o defendido das falas afiadas do pai. A falta de atitude e sensibilidade do namorado a afetou, e afetou a história de seu livro.


     Depois de quase uma hora pensando no que fazer em meio àquela natureza, ela decidiu caminhar até a Cachoeira das Lágrimas — uma das doze cachoeiras que havia dentro de Green Falls — se agachou em cima de uma pedra larga e acinzentada, e observou a impetuosa queda d'água à sua frente. Devo ser igual essas águas, que caem de um penhasco sem pensar, apenas seguindo o impulso de suas emoções?  Ela pensou, misturando sua própria vida com a metáfora de uma cachoeira. Ficou por mais alguns minutos ali, parada, apenas observando as belezas do mundo e ouvindo o canto dos diferentes pássaros, tentando se reconectar consigo mesma. O sol da tarde iluminou as paisagens do parque, e Amber decidiu pedalar de volta para casa, sentindo a brisa do vento tocar seu corpo, fazendo seus cabelos voarem em harmonia com um sentimento de liberdade.


     — Conseguiu escrever bastante hoje? — Belinda pergunto à neta quando ela chegou em casa.

     — Quem me dera, vó, parece que todos esses dias que venho escrevendo foram em vão. Minhas ideias parecem não ter mais sentido.

     — E por que passou a pensar assim? Algo aconteceu?

     — Não. — Amber fez uma pausa — Quer dizer, sim. — Ela bufou em um tom de confusão. — Tudo parece tão simples. A escolha me parece tão óbvia. Quer dizer, não que eu tenha uma escolha para fazer... mas se eu tivesse... Então por que eu ainda me questiono?

     — Se há dúvida, é porque a escolha não é tão óbvia assim... Talvez você só esteja dizendo que é para fugir de algo que tem medo.

     — Mas esse "algo" não pode me levar a nada bom, vovó.

     — E como pode ter tanta certeza disso?

     — Porque é algo óbvio.

     A avó riu e Amber se sentiu um pouco ofendida.

     — Você não consegue parar de usar essa palavra, minha querida. Claramente você a está usando para mascarar um sentimento.

     Amber refletiu sobre o que a avó falou, mas logo uma chamada de Evelyn a tirou de seu foco.

     — Festa na casa dos Mury! — Evy se empolgou antes mesmo que Amber pudesse dizer "Alô".

     — O quê? Que festa?

     — O príncipe do seu namorado não te chamou? Todo mundo da cidade está sabendo!

     Amber deixou Evy no alto falante para checar suas mensagens, e tinham MUITAS de Peter. Ela estava tão imersa na biodiversidade de Green Falls que nem teve tempo para checar o celular.    

      — "... vai ser uma festa para celebrar a partida dos meus pais nesta manhã..." — Ela leu a mensagem. 

     — Os pais dele foram embora?! 

     — Nem eu estou sabendo, amiga... Aqui diz que a senhora e o senhor Mury foram viajar para as Maldivas e só vão voltar daqui uma semana... Peter não tinha mencionado nada disso ontem. 

     — Talvez ele quisesse fazer surpresa. 

     — Talvez. 

     — E entãaaooo?

     — E então que nós vamos, né. 

     — Que animação em, Amber... Algo aconteceu no jantar? 

     — Falamos sobre isso na festa mais tarde. Tenho que ver se tenho algo para vestir. 

     — Beijos. — Evy desliga. 


     — Problemas com o namoro, não é? — Belinda pergunta, da mais graciosa forma possível. 

     — Sim... mas talvez eu esteja intensificando demais o que me incomoda...

      — Pode ser que sim. Porém nunca se acomode diante de algo que te faz mal. 

       Amber respondeu Peter, confirmando sua presença na festa. Mas será que seria uma boa ideia mesmo?



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