𝕆 ℝ𝕦𝕚𝕧𝕚𝕟𝕙𝕠 𝔻𝕠 𝕄𝕖𝕦 ℂ𝕠𝕣𝕒𝕔𝕒̃𝕠

2- Menina Do Livro

Eu estava meio perdido, o centro de Campinas, a cidade da minha tia (e a minha nova cidade temporária) é bem maior que o centro de Santo Antônio do Pinhal, a cidade onde eu morava, o que complica muito a minha vida, porque eu já estava atrasado.

Como minha mãe está internada e meus irmãos mais velhos não podem ficar comigo, pois trabalhavam demais, então pediram para minha tia Rosa se eu poderia ficar com ela até minha mãe melhorar, e como ela precisa de ajuda no sebo além de querer companhia, aceitou. Hoje eu tinha que encontrar ela no sebo meia hora antes de abrir, mas como ônibus atrasou, eu precisaria sair voando para lá.

Ela já deve estar preocupada porque a viagem foi longa e um tanto perigosa, pois se eu me perdesse, seria muito complicado achar o caminho de volta. E apesar de já ter ido para Pernambuco sozinho com meus amigos Miguel e Arthur (três adolescentes com 15 anos indo para um retiro do outro lado do país), não deixa de ser perigoso.

Mas não era só por causa de eu não estar acostumado com a cidade que eu estava confuso, também era por causa da menina que eu encontrei no ônibus . Ela estava lendo um livro, O Lado Mais Sombrio, enquanto ouvia música.

Fiquei olhando, tentando disfarçar, algo nela chamou minha atenção, deveria ser seu moletom do Clã Uchiha ou a forma como ela lia e parecia que estava dentro do livro. Só que em um momento ela reparou e começou a me encarar de volta, ela tinha olhos cinzas que parecia ser azuis, mas também parecia ser verdes, eram penetrantes e pareciam olhar para o fundo da minha alma e sua pele, era mais escura, fazendo seus olhos se destacarem mais . Nós trocamos algumas palavras, mas logo o assunto acabou.

Com a ajuda de uma moça, que me mostrou onde era, eu cheguei 15 minutos antes do sebo abrir e na porta estava minha tia com a mão na cintura e com cara de brava, eu já conseguia ver o sermão que ela iria me dar.

_ Josh, eu fiquei preocupada, eu te disse para chegar meia hora antes do sebo abrir.

_ Me desculpe tia, o ônibus se atrasou e eu não estou acostumado a andar aqui, principalmente no centro. _ falei olhando para o chão.

_ Tudo bem, eu te entendo e a viagem foi longa você deve estar meio cansado, agora entre que daqui a pouco o sebo abre._ ela foi após me abraçar.

_ Ok.

A ultima vez em que eu tinha visto o sebo da minha tia, eu era bem pequeno, então eu não me lembrava de quase nada. Mas era um sebo consideravelmente grande e tinha muitos, muitos livros que estavam organizado perfeitamente. Fiquei admirado, porque apesar de eu não estar esperando um lugar com pilhas e pilhas de livros empoeirados, eu não pensava que seria um lugar tão organizado, pois minha tia já tinha uma idade um pouco avançada e é bastante complicado ela ficar arrumando sem nenhuma ajuda.

_ Tia, você tem funcionários?

_ Sim, a Júlia, mas ela está em licença-maternidade, então tem a minha ''quebra galho''. - disse comum sorrisinho. O que será que ela está aprontando?

_ Qual é o nome dela?

_ Alana, ela tem a sua idade, acho que você pegou o mesmo ônibus que ela, quase todo dia ela vem aqui para comprar livros ou para fazer companhia, um amor de pessoa.

O ônibus estava cheio, mas a maioria das pessoas eram adultas. E se essa tal Alana for a menina do livro? Seria muito engraçado, mas é quase impossível. Mas seria algo interessante.

Segui minha tia para o fundo do sebo, que tinha uma portinha meio escondida escrito: ACESSO PERMITIDO SOMENTE PARA FUNCIONÁRIOS. Ela abriu e lá dentro tinha muitos livros empilhados, de certa forma meio organizada, apesar de eu querer pegar todos eles e organizar direito e limpar melhor o lugar. Eu tenho que controlar as minhas manias de limpeza, afinal isso aqui é o estoque do sebo, que comparando com alguns estoques, é bem limpo e organizados.

Continuei a seguir ela, que foi para o fundo do estoque, onde tinha uma escada para o andar de cima e a porta para a casa da minha tia.

Ao entrar, sinto uma nostalgia, a casa parece quase a mesma de quando eu vinha visitar ela na minha infância e isso me acalma um pouco, com todas as mudanças na minha vida, eu fico feliz com algo familiar.

Ela para na terceira porta á esquerda e fala:

_ Como Tom não vai vir me visitar por um bom tempo, acho que você gostaria de ficar com o quarto dele, por ser melhor.- Tom, meu irmão do meio sempre vinha visitar minha tia, tendo um quarto só para ele.

_ Obrigado tia, por tudo o que você está fazendo por mim.- falo e ela me abraça.

_ Ah meu querido, não precisa agradecer, eu que agradeço por ser a minha nova companhia. Agora seremos eu, você e Alana. Porque não sei se já te falei, mas é da Guardinha e já arrumei toda a papelada para ela vir trabalhar aqui.- disse se afastando.

_ Guardinha?

_ Associação de Educação Do Homem de Amanhã (AEDHA). É uma instituição que um dos grandes destaques é o Jovem Aprendiz que ajuda jovens a se familiarizarem com o mercado de trabalho. Eu virei parceira a dois anos atrás e Alana entrou nesse projeto no meio do ano passado, mas ainda não começou a trabalhar em nenhum lugar. _ ela foi em direção a escada_ Mas depois eu explico melhor agora descanse. Preciso ir lá no sebo, fiz vitamina de mamão e tem comida na geladeira, se você estiver com fome. Sinta-se a vontade.

Ela saiu e fechou a porta, me deixando sozinho com a minha mala. Decido que vou arrumar as minhas coisas no meu novo quarto, vou comer algo e ajudar a minha tia no sebo. Era isso, ou eu ficava aqui dentro lembrando do porquê eu vim para Campinas.

Entro no quarto, suas paredes são pintadas de branco azulado, com guarda-roupa marrom de madeira em uma parede e do outro lado uma cama de solteiro grande com uma escrivaninha do lado marrom como o guarda-roupa. Tirei tudo da mala e fui me organizando.

Hoje é o começo de uma nova etapa da minha vida, que eu não sei se estou pronto. Mas a vida não espera que você esteja pronto.

Oi pessoas! 

Vim falar que não sei muita coisa sobre a Guardinha e sobre Campinas. Já passei por lá, mas nunca visitei mesmo a cidade.

A Guardinha foi uma amiga virtual que era de Campinas que me falou sobre e eu pesquisei. Mas eu só usei essa instituição como desculpa para a dona Rosa não ter problema com a justiça, pois ela já vai ter problemas demais no futuro.

Bjs!