4- O Ônibus

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Não acredito que a minha tia fez isso comigo, ela sabe que eu sou tímido e não sou muito bom em puxar assunto e para ajudar, Alana parecia que somente seu corpo estava presente, como se estivesse viajando por vários universos, tive até medo dela cair como se a alma dela tivesse saído do corpo. 

Com o pouco diálogo que eu tive até agora com ela eu percebi duas coisas:

1- Ela vive em outros universos menos na realidade;

2- Ela tem os olhos mais lindos do mundo.

A última eu tinha percebido desde quando estávamos no ônibus, mas eu ainda estava admirado, poderia ficar horas encarando aqueles olhos que pareciam ver o fundo da minha alma, fazendo um lindo contraste com o tom marrom médio de sua pele, sério, se eu não tivesse tanta vergonha, eu iria pedir para pintar eles. Mas acredito que não conseguiria captar tudo, nem sei se conseguiria os tons certos.

Tá, eu admito, estava bastante encantado com ela, mas acho que foi porque ela me inspirava a pintar, algo um pouco difícil de acontecer com pessoas.

O ônibus tinha chegado e ela parecia ainda distante, então toquei em seu ombro e ela 'acordou' e entrou no ônibus e eu fui atrás. 

Estava consideravelmente cheio, mas achamos dois lugares no fundo do ônibus, um do lado do outro, nos sentamos lá, ela começou a olhar para a janela novamente viajando para outros universos ou para o seu mundinho particular. 

Eu já não aguentava mais o silêncio e resolvi puxar assunto.

_ Que cor são os seus olhos?

_ Oi?_ falou ela voltando para a realidade, mas ainda olhando a janela.

_ Seus olhos. Eles parecem ser azuis, mas ao mesmo tempo verdes e cinzas. _ expliquei um pouco com vergonha, eu devia estar vermelho, minhas bochechas estavam queimando como sempre.

_ Na verdade, nunca consegui definir, mas prefiro falar que são cinzas azulados esverdeados._ falou dando de ombros.

_ São ótimos para se pintar. _ falei quase murmurando.

_ Você pinta?_ Alana olhou para mim, seus olhos brilhavam.

Minhas bochechas voltaram a queimar. _ Sim, mas não é nada muito bom, é só um jeito de meu de registrar os sentimentos e a beleza que eu observo nas coisas.

 _ Então você achou os meus olhos belos?_  Alana falou levantando uma de suas sobrancelhas.

_ Eles são interessantes, principalmente quando perecem estar brilhando._ Eu nunca senti tanta vergonha na vida. Se minha tia Rosa começasse a contar histórias minhas de quando bebê para uma plateia gigantesca eu estaria sentido menos vergonha._ Mas e você? Gosta de pintar?

_ Sim, não pratico tanto, eu gosto mais de escrever. _ Ela disse um pouco mais animada, pelo visto quer conversar.

_ Então temos uma escritora entre nós? 

_Não. Eu disse que gosto de escrever, não que eu escrevia bem.

_ Você poderia me mostrar alguma história sua qualquer dia. 

_ E você uma pintura sua. 

_  Que tal fazermos um trato?_  Eu propus para ela.

_Um trato?_ Ela parecia curiosa e desconfiada.

_ Você traz uma história sua qualquer dia, que eu trago uma pintura minha.

_ Feito._ Alana disse estendendo sua mão.

Eu apertei como se estivéssemos fechando um negócio entre duas empresas. Acredito que isso é o começo de uma amizade.

_ Agora vamos descer porque chegamos.

 O ônibus parou e nós descemos em um lugar bem bonito e movimentado, como no centro da cidade só que tinha várias casas e alguns prédios, o que para mim era novidade, porque  Santo Antônio do Pinhal é uma cidade pequena e  não tem tantos prédios e nem era tão movimentada, tirando os pontos turísticos e quando tinha eventos como a Festa do Pinhão.

Voltei para a realidade quando Alana segurou o meu braço e começou a me puxar para onde ela estava indo, o que me assustou um pouco, mas só segui.

Chegamos em um prédio de mais ou menos 12 andares, com um portão azul parecia um pouco antigo. Alana pegou uma chave do bolsinho da sua mochila, abriu o portão e nós entramos. Continuamos no silêncio até chegar no elevador que ela me parou e avisou:

_ Josh, o prédio é meio velho e o elevador faz alguns ruídos esquisitos e eu não sei se você tem claustrofobia ou algo do tipo.

_Não, tudo bem, eu não tenho claustrofobia. 

_ Certo._ Ela parecia apreensiva, mas eu conseguia entender ela, levar uma pessoa que acaba de conhecer para sua casa é complicado.

O elevador realmente fazia uns ruídos estranhos, como se fosse despencar a qualquer momento, mas nada muito preocupante.

Quando chegamos no oitavo andar, saímos do elevador e tinham 4 apartamentos, ela foi para o primeiro á esquerda e destrancou a porta e me pediu para esperar um minuto. 

_ Mãe, temos visita, posso deixar ele entrar?_ ela gritou.

Segundos depois uma voz gritou um 'sim' e Alana abriu a porta me permitindo entrar no apartamento. O apartamento não era nem muito grande e nem muito pequeno, era bem acolhedor e arrumado, o primeiro cômodo que se vê quando entre é a sala que  tinha um sofá uma poltrona, um raque com a televisão e uma mesa com alguns livros e um notebook, depois vinha um corredor com quatro portas, onde estava um mulher que parecia ter seus 39 ou 40 anos de cabelos curtos e lisos, muito parecida com a Alana, só com a cor do olho e o cabelo diferente, ambos escuros, devia ser a mãe dela.

_ Josh essa é a minha mãe Camila e mãe esse é o Josh sobrinho da Dona Rosa.

_ Olá Josh, seja bem vindo, me desculpe a bagunça, é que a Alana não tinha avisado que teríamos visita._ falou fuzilando a filha com os olhos_ Mas você chegou em uma hora boa, acabei de passar o café, vou pegar uma xícara para você.

_ Não precisa se incomodar._ eu com certeza estava com as bochechas vermelhas, às vezes queria não ser tão tímido.

_ Não é um incomodo, vou pegar e já volto._  dona Camila já estava saindo da sala e indo em direção da cozinha.

_ Mãe, a dona Rosa fez uma solicitação para eu trabalhar no sebo e ela foi aceita! Agora só precisa da sua assinatura para eu começar a trabalhar ainda hoje. 

_ Calma, você vai começar a trabalhar hoje? Mas a quanto tempo você está enrolando para me mostrar isso?

_ Mãe, nem eu sabia que iria trabalhar, faz uns 30 minutos que eu descobri. Então dessa vez eu não esqueci de nada. E fique calma, é a dona Rosa.

_Tudo bem._ disse dona Carla desistindo de uma discussão.

Depois de me entregar uma xícara de café, a senhora assinou o papel e as duas pegaram o computador para mandar a confirmação e terminar de resolver as coisas com a Guardinha. No meio tentaram me colocar no assunto para eu não me sentir ignorado.

_ Mãe, acho melhor eu indo dona Rosa está nos esperando e a Sarah tem catequese. _ Alana já estava se levantando.

_ Tudo bem, foi um prazer te conhecer Josh, qualquer dia eu te chamo para tomar um café aqui em casa. Alana nunca traz ninguém para casa, menina antissocial. _ o sorriso de dona Camila era amigável e só ajudou a me deixar sem jeito. 

_ O  prazer foi meu dona Camila. _ pela milésima vez no dia, eu estava vermelho como um pimentão, o lado bom, é que eu não era o único, Alana parecia sem graça.

Voltamos para o sebo, onde a minha tia já aguardava, essa tarde seria longa.

Oi seres humanos!

Quero agradecer já pelas 250 leituras!!! Sério, nunca que eu pensei que algo escrito por mim chegaria a isso. Muito obrigada <3

N.A.: Sobre a Festa do Pinhão: ela existe e eu já fui. É maravilhosa e tem pinhão em quase tudo kkkkkkkkkk

Mas se você não gosta de pinhão, tem outros tipos de comida que são muito boas.


𝕆 ℝ𝕦𝕚𝕧𝕚𝕟𝕙𝕠 𝔻𝕠 𝕄𝕖𝕦 ℂ𝕠𝕣𝕒𝕔𝕒̃𝕠Onde histórias criam vida. Descubra agora