Lordan XIX

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Interrogatórios não eram a melhor das habilidades de Lordan — na verdade, era uma das suas piores. Tinha um tino razoável para notar mentiras, mas saber fazer as perguntas certas e apertar onde era preciso... ah, como ele queria ser um pouco mais capaz de tanto.

O homem — descobriu-se pouco depois de começarem — se chamava Keren. Estava meio faminto, alimentado pelo clérigo e ganhando pelo menos o conhecimento do nome do homem em gratidão. Mas também, fora só isso.

Ofertas de asilo, proteção, ouro, terras, títulos... nada era atrativo a ele. A única vez em que viu uma sombra de reação foi quando indicou a possibilidade de pagamento em ouro por informações concretas e proteção que seria dada pela delação de seu líder.

— Irmão Wakynan, Sir Cenric, por favor, venham. — pediu aos dois do lado de fora da sala em que conversou com os moradores de Sylben. — Vamos levá-lo até o porão daqui.

— Porão? — Keren perguntou meio assustado.

— Sim, o porão. — respondeu Lordan, parecendo envelhecer pelo menos uns cinco. — Não temos como garantir a sua segurança se prendermos você ao ar livre num tronco de chibata. Além disso, no porão, as chances de ser descoberto pelos seus comparsas é bem menor. Descobriremos para quem trabalha, goste disso ou não.

Levaram o homem e amarraram-no pelos pulsos e tornozelos na coluna central de sustentação da construção, além de amarrarem-no pelo tronco num barril de sal de mais de vinte litros, pesado o suficiente para não conseguir se mover dali.

Saindo do lugar, Lordan virou-se aos dois ali:

— Preciso que revezem a vigia aqui dentro. Não confio completamente no que o homem disse. E a caçadora pode ainda não notar ninguém. Não quero arriscar.

— Sensato de sua parte. — concordou Sir Cenric. — Posso ficar com essa noite.

Acenando, Lordan e Wakynan saíram dali e se dirigiram direto ao templo.


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No dia seguinte, para sua frustração, Lordan confirmara o que tanto rezou silencioso para não tivesse acontecido: Hoathak havia, de fato, usado todo o conteúdo da poção naqueles dois bandoleiros — parecia ter acontecido quase noutra vida.

Quando voltou à enfermaria do templo, pegou seu kit de medicamento e pôs-se a trabalhar na receita do soro conhecido como Desenrola-Línguas.

O nome popular dado ao soro veio do fato de que quem o bebia sentia o órgão homônimo parecer aumentar de peso e volume. Some a isto os efeitos psicotrópicos das ervas que fazem parecer que se está sufocando e uma singela gota d'água pode dissipar a sensação quase que de imediato. Logo, sob a ameaça de que a nova dosagem poderia matar o "envenenado", era bem comum que aqueles sob seus efeitos contassem ao ministrante do "veneno" qualquer coisa depois de uma segunda ou terceira vez.

As Crônicas de Melkos - Crias do AbismoOnde histórias criam vida. Descubra agora