Mamãe e eu não costumávamos receber visitas em Ferndell Hall, por isso, quando ouvi um barulho diferente ecoar do lado de fora dos portões, levantei apressada de minha cadeira e corri até a janela para dar uma espiada no jardim.
Pisquei os olhos repetidas vezes imaginando que minha mente criativa estava pregando-me peças. Uma carruagem elegante, repleta de bandeiras do nosso país, atravessava os portões de casa. Me perguntei quem poderia ser, enquanto a observava percorrer o pequeno percurso até parar próxima ao chafariz.
Dois homens -que eu supus serem guardas do exército britânico, pois usavam vestes de cor vermelho vivo e chapeis engraçados- saltaram detrás da carruagem e se colocaram próximos à lateral da mesma. O cocheiro saiu de seu assento e andou rapidamente até a porta.
O que vi em seguida, me deixou surpresa: meu irmão Sherlock, o famoso detetive, estava de volta em casa após mais de dez anos. Demorei um pouco para reconhecê-lo, só consegui graças às muitas vezes que vi seu rosto estampando em manchetes do jornal, mas o choque maior foi perceber que ele estava acompanhado de uma mulher, que usava uma coroa brilhante na cabeça.
-O que ela está fazendo aqui? -perguntei para mim mesma.
Sr. e Sra. Lane, nosso mordomo e sua esposa, foram logo ao encontro dos dois. Fizeram uma reverência exagerada -o que só confirmava minhas suspeitas em relação a identidade dela-, e então o Sr. Lane passou a dar instruções para o moço de vestes verde musgo claro, apontando para o velho estábulo. Provavelmente estava explicando que os cavalos poderiam ficar lá para descansarem da viagem.
Meu irmão e a mulher começaram a andar até a fachada, acompanhados pela Sra. Lane, que exibia um grande sorriso nos lábios. Ouvi a porta da frente ser aberta, e o som de vozes preenchendo o silêncio que antes estava ali. Fui em direção as escadas e desci os degraus apressada, a tempo de ver mamãe colocar uma bandeja contendo um bule de chá e xícaras de porcelana em cima da mesa que ficava no centro da sala de estar.
-Enola, estávamos mesmo precisando falar com você! -meu irmão exclamou assim que me viu, parada no batente da porta. Seus olhos me analisaram como se ele tentasse fazer uma conexão entre a jovem na sua frente e a garotinha de quatro anos que ele se lembrava antes de sair de casa e ir morar em Londres.
A mulher sorriu para mim e eu fiquei sem saber o que fazer, observei sua coroa novamente. Ainda incerta, fiz uma pequena reverência e me sentei em uma das poltronas de couro. Então meu irmão voltou a falar:
-Acredito que deva estar se perguntando o que fazemos aqui. -ele disse.- Há uma semana, mandei um telegrama para mamãe anunciando a nossa visita a Ferndell Hall, mas pedi que ela não comentasse nada com você. -bem, aquilo explicava o porquê a Sra. Lane estava encerando o chão ontem a noite.
Olhei para minha mãe, Eudora Holmes apenas lançou-me um sorriso orgulhoso e deu de ombros.
Pela primeira vez desde que entrei no cômodo, vi a mulher abrir a boca para falar, chamando minha atenção para si:
-A questão é que eu preciso da sua ajuda, na verdade, toda a Inglaterra precisa. -o tom de sua voz me deixou preocupada.
-O que aconteceu, majestade? -perguntei.
-É de seu conhecimento que meu marido foi misteriosamente assassinado há alguns dias, mas o problema é que agora estamos sem um líder e a população está em pânico. Meu filho, Tewksbury, subirá ao trono quando completar dezoito anos, daqui a cinco meses, mas não pode fazer isso sem a companhia de uma esposa.
-E qual é a parte em que eu me encaixo nisso?
-Contratei Sherlock recentemente, e ele me aconselhou a investigarmos a situação com cautela, pois antes de tudo precisávamos acalmar o povo, foi então que me lembrei da "Seleção", um método antigo utilizado para escolher a futura princesa do reino. -ela explicou. -Suspeitamos que o assassino está entre um dos empregados do castelo, e precisamos que alguém os investigue discretamente enquanto ficasse de olho no príncipe. É aí que você entra.
-Você seria uma das selecionadas, e coletaria informações secretas para mim. -Sherlock completou. -Você precisa se aproximar do príncipe, pois suspeitamos que ele corre risco de vida, e também terá de competir com outas oito garotas e fazer de tudo para não ser eliminada da competição.
-Eu seria uma espécie de detetive secreta?
Eles assentiram para mim, e eu sorri com a possibilidade. Aquela era uma situação delicada e perigosa, por isso, fiquei em silêncio para refletir um pouco. Enquanto pensava, uma memória de infância me veio na cabeça: uma vez ralei meus joelhos para salvar uma ovelha que estava prestes a cair de um precipício. Mamãe ficou furiosa, mas ainda assim orgulhosa pelo meu ato de coragem. Eu me encontrava em uma situação parecida agora, mas não era uma ovelha que estava em perigo, mas sim o príncipe Tewksbury, e consequentemente, todo o povo inglês. Eu precisava fazer algo, meu irmão precisava da minha ajuda.
-Quando eu começo?
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primeiro capítulo postado! eu estou muito ansiosa com essa história, e já tenho algumas ideias em mente. como vocês acham que a Enola vai se sair dentro do castelo??
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The Selection - Enola Holmes
FanfictionO século XIX estava sendo um período próspero para o povo inglês. Os lucros obtidos a partir da expansão do Império, juntamente com a consolidação da Revolução Industrial, estavam fazendo com que a economia do país estivesse sempre no topo. O povo e...