capítulo terceiro

1.3K 131 115
                                    

Eu nunca entendi a relatividade do tempo

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Eu nunca entendi a relatividade do tempo. 

Para mim, o tempo é uma das mais fascinantes invenções humanas, e o fato dele ser relativo é o que mais me intriga.  Mamãe sempre me disse que temos a sensação de que às vezes ele passa muito rápido porque nosso cérebro recebe uma sobrecarga de informações, e bem, ela está certa.

Estive tão atarefada nas últimas duas semanas que nem vi o tempo passar direito. A todo momento surgiam novas pendências sobre a Seleção para resolver, e a Sra. Lane não pegou leve em suas aulas particulares, mas ao menos a minha evolução gradativa a deixava contente. Mamãe confidenciou-me que antes de casar e ter filhos, o sonho da Sra. Lane era lecionar para uma turma de alunos. Fiquei contente em saber que ela estava realizando seu sonho de juventude através de mim.

Para a minha sorte, hoje eu tinha o dia livre. Isso porque eu já cumprira todas as minhas obrigações e dei a mim mesma uma pequena recompensa por todo esforço que venho fazendo. Aproveitei o descanso para fazer algo que não estava conseguindo ultimamente: ficar sozinha.

Peguei um pedaço de papel e minha caneta favorita. Saí pela porta da cozinha e andei em direção a uma parte do terreno de casa que era coberta de árvores. "Havia uma ladeira nesta região arborizada e, no fundo do declive, estava o meu lugar favorito: um pequeno vale rochoso onde as samambaias drapejavam como se fossem o echarpe de seda verde de uma dama colocado sobre as pedras, rastejando sob a trilha de uma pequena corredeira que formava um charco embaixo de um salgueiro inclinado. Apesar de estar vestindo saia e pantalonas, passei pelas pedras e rochas até que cheguei ao salgueiro. Abraçando seu tronco grosso, encostei meu rosto em sua casca musgosa. E então me agachei e rastejei até um espaço sombreado entre a árvore e o charco.

Aquele recanto calmo era o meu esconderijo secreto, conhecido apenas por mim. Ali eu guardava as coisas que gostava, coisas que a Sra. Lane teria jogado fora se eu as houvesse levado para dentro de casa. Enquanto meus olhos se acostumavam com as sombras, me ajeitei em minha toca suja de terra, olhando ao redor para as pequenas prateleiras de pedra que havia construído. Sim, ali estavam meus caracóis, minhas pedrinhas coloridas, minhas bolinhas, algumas penas brilhantes de gaio, uma abotoadura, um camafeu quebrado e alguns outros tesouros que encontrei nos ninhos dos corvos. 

Respirando aliviada, dobrei meus joelhos sob meu queixo, numa posição em que uma dama nunca deveria ficar, com os braços ao redor da canela, e fiquei tocando com meus pés a água que chegava à margem, a centímetros dos meus pés."

Desdobrei o papel, que eu havia guardado por dentro das minhas roupas, e comecei a traçar pequenos rabiscos com a caneta preta, colocando minha mente criativa para funcionar um pouco. Meus lábios se curvaram em um sorriso quando percebi que havia desenhado um rápido retrato de Sherlock, com suas pernas magras, seu nariz grande e seu queixo.

Um barulho vindo de um dos arbustos me assustou, e deixei meu papel cair no chão. Estiquei-me para pegá-lo, mas antes que pudesse me mexer, alguém já havia o feito por mim.

Senti o sangue fugir de meu rosto quando percebi que meu irmão estava olhando para o desenho dele. Fechei os olhos esperando que ele reclamasse comigo ou algo do tipo, mas franzi o cenho quando notei que o mesmo estava rindo.

-Ficou muito bom, Enola -ele disse, tentando abafar a risada. -Você tem talento para a caricatura. Isso pode lhe ser muito útil no futuro.

-O que faz aqui? E como me achou? -Perguntei, desconfiada. Pensei que ninguém conhecia esse lugar além de mim.

-Vim de Londres para lhe trazer algumas informações extras sobre o palácio. Preciso te explicar algumas coisas antes que você esteja lá dentro. -Ele me devolveu o papel. -E eu te segui quando percebi que estava andando em direção à floresta. Não sabia onde estava indo e fiquei preocupado.

Ele se sentou ao meu lado e tirou de dentro de seu paletó um jornal muito bem dobrado.

-Essa edição só será publicada no início da semana que vem, trouxe para que você pudesse dar uma olhada no perfil das selecionadas. Uma coluna foi acrescentada ao jornal para cobrir os eventos da seleção. Há também informações sobre o príncipe Tewksbury, e uma foto dele, caso queira dar uma olhada.

-Não há necessidade de olhar um retrato dele, obrigada. -Desprezei sua oferta. Certamente Tewksbury não era tão bonito assim, porque caso o contrário, já teria arranjado uma esposa e provavelmente a rainha teria que pensar em outra forma de infiltrar um detetive no castelo. 

Olhei as fichas das selecionadas superficialmente, atentando-me apenas para seus rostos e idades, que variavam entre os dezesseis e vinte anos.

-Quantos anos você disse que ele tem mesmo?

-O príncipe tem dezoito, por isso as idades das selecionadas variam muito. Algumas são dois anos mais novas, como você, e outras dois anos mais velhas. Essa aqui por exemplo, possui a mesma idade que você -ele apontou para a foto de uma garota sorridente e simpática. -Maya Lewis, da província de Londres. Talvez vocês possam ser amigas.

-Eu não preciso fazer nenhuma amiga enquanto estiver por lá. Posso me sair muito bem sozinha. -Eu disse séria.

Repeti o mantra que ouvia mamãe me falar todos os dias, quando eu perguntava porque não podia sair e brincar com as outras garotas da minha idade. Cresci frustrada por não ter amigas, mas depois de um tempo, entendi o que mamãe queria dizer.

Eu deveria confiar somente em mim mesma, pois quando estamos no escuro, até nossa própria sombra nos abandona.

Ela queria que eu me torna-se autossuficiente.

-Enola, sei que Eudora presa pelo individualismo, e pelo que posso ver, você também -ele disse calmamente. -Mas terá que fazer um esforço e se enturmar com as outras garotas. Não podemos chamar atenção.

Dei de ombros, sem opções. Preferi mudar de assunto a ter que discutir com um dos homens mais inteligentes da Inglaterra, que certamente me mostraria mil motivos para provar que eu estava errada.

-Quais são as informações que você tem para me passar? 

###

Oi gente! Me desculpem pela demora, eu estava ocupada nos últimos dias e não pude atualizar a história. Pra compensar o sumiço, o capítulo teve mais de mil palavras.

Continuo??

The Selection - Enola HolmesOnde histórias criam vida. Descubra agora