Havia uma piscina na sua casa.
Ela era muito grande, maior do que o quintal inteiro de Albus, e ela passou anos não sendo usada, porque a sua mãe não sabia nadar e seu pai não gostava de molhar o cabelo dele. A única razão que ela estava lá era que eles eram ricos, e gente rica adorava ter coisas que eles não usavam, mas que eram grandes e impressionavam outros ricos. Então você nasceu.
Você sempre foi um bom nadador, e desde que você era muito pequeno e sem amigos, você sempre passou todo o seu tempo livre lá na piscina. De vez em quando seu pai até nadava com você, porque ele sempre te amou mais do que se importava com o cabelo dele, e a sua mãe ficava tomando sol por perto, rindo e fazendo piadas com vocês. De vez em quando você ficava lá sozinho. Principalmente sozinho, desde que a sua mãe morreu.
Você podia nadar por horas sem cansar. Podia passar o dia inteiro, na verdade, até toda a sua pele estar tão enrugada que ela parecia que nunca ia voltar a normal e ter tanto cloro nos seus olhos que você não conseguia ver nada.
Quando você era bem, bem pequeno, você fingia que era uma sereia, mesmo que você soubesse que só meninas pudessem ser sereias. Depois, quando você cresceu um pouco mais, você fazia corridas consigo mesmo ou ficava nadando em círculos com as maiores braçadas que conseguia fazer ou só flutuava ou mergulhava o mais fundo o possível e contava quanto tempo podia ficar lá segurando o seu fôlego. Havia algo tão pacifico. Você não conseguia ouvir nada. Você não sabia de nada que estava acontecendo no mundo lá fora.
Você era um bom nadador. Sempre foi, e você dificilmente era bom em alguma coisa. Ainda mais dificilmente se sentia bom ou talentoso. Durante toda a sua infância, nadar tinha sido a única coisa que te trouxe orgulho além da sua família e, depois, a sua amizade com Albus.
Quando você tinha doze anos, você tinha tentado entrar pro time de natação da escola – e você tinha conseguido, na verdade. Por um dia, você tinha estado tão feliz que era como se nada pudesse te atingir. Você tinha passado o dia inteiro sorrindo, tanto que Albus e seus pais tinham percebido. Sua mãe tinha te dado um beijo e seu pai tinha falado que ele estava orgulhoso, mesmo que você não tivesse feito nada ainda.
Você estava tão feliz, por um dia.
Então, depois de uma dezena de reclamações dos outros meninos sobre como eles não se sentiam "confortáveis" ficando só de sunga em frente ao "viadinho", e então aquela vez em que Karl Jenkins puxou seu pé enquanto vocês estavam no fundo e ele quase te afogou, você tinha desistido da natação.
O treinador tinha dito que você tinha talento e que você era bem rápido. Ele disse que você até podia fazer parte de competições no futuro, se você ao menos continuasse. Você tinha insistido que não tinha tempo com todos os seus deveres. Isso o fez suspirar.
"Eu vou ser honesto, Scorpius," ele te disse, o rosto bem triste, "estou decepcionado com você. Eu sei que os outros meninos podem ser malvados, mas eu não achei que você ia deixar eles ganharem. É uma pena. E uma decepção."
Isso tinha te feito chorar, porque você sempre foi um menino especialmente emotivo, e isso, em troca, tinha feito os outros meninos zombarem de você ainda mais. Pelo resto do ano, sempre que você passava por Karl e os amigos dele enquanto eles iam treinar, eles te olhavam com um sorrisinho, como se eles soubessem que tinham estragado algo muito importante pra você. Como se eles soubessem que pelo resto daquele ano você tinha evitado até a piscina da sua próxima casa.
Essa era a razão para você nunca falar nada com nenhum dos seus professores – eles achavam que você tinha alguma chance de ganhar dos meninos que faziam bullying com você. Eles achavam que era só ignorar e então eles iam te deixar em paz. Que era fácil.
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lost boys, SCORBUS ✔️
FanficConcluída. O sorriso de Albus é brilhante e selvagem - você são jovens e é verão e parece que aquilo vai durar para sempre. De vez em quando a única coisa que você pode fazer depois de se formar é fugir com o melhor amigo pelo qual você está secreta...