Capítulo 4 - Você vai me dar respostas?

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                               2016
Era por volta de dez horas quando Bonnie reclamava com sua mãe Gina de uma forte e permanente dor de cabeça. Sua mãe segurava um saco de gelo em seu olho inchado enquanto segurava os palavrões dentro de sua boca.

-Eu não entendo como isso aconteceu Bonnie, você contou algo pra ele?

-Não mãe, eu não disse nada.

Bonnie estava inquieto, batendo os pés ansioso para se levantar da cadeira.

-Me deixa sair mãe! Eu preciso terminar o projeto na escola, os meninos estão me esperando!

Bonnie empurrou com força o braço de Gina, olhando pro chão a procura do seu tênis.

Gina interviu, indo atrás do menino pela sala de estar da casa, a casa  enorme possuia uma lareira acessa em um fogo baixo, a governanta Pam estava confusa com todo acontecido da manhã, quando um menino filho de sua patroa apanhava e discutia com um outro menino muito irritado, ela limpava as taças de vinho atenta a conversa da patroa com o filho.

-Você não vai a lugar nenhum sem me contar o que aconteceu, porque o filho daquela mulher estava aqui, tentando te agredir filho.

Bonnie não disse uma palavra. Gina suspirou. Colocou a mão no próprio rosto e se olhou no espelho. Percebeu que seu batom vermelho estava um pouco borrado e resolveu retocar.

Gina usava um lindo vestido vermelho, e saltos de bico fino preto, era uma mulher bonita e tinha uma postura de madame, como esposa do Xerife pertencia a classe média alta, e frequentava os melhores eventos da cidade. Ainda de costas, falou para quem quisesse ouvir.

-Bonnie, não estou com paciência hoje. Você não tem a opção de não falar, você precisa me contar o que está acontecendo entre o Nate e você. Eu te contei a verdade filho, e eu imaginei que o Nate não fosse gostar, mas ele não precisava saber agora, então por que contou a ele?

Gina foi interrompida com o toque da governanta em seu ombro de leve.

-O menino pulou a janela senhora.

Gina suspirou firme, e apertou as mãos irritada, foi andando em direção ao seu quarto, que era tão bonito quanto o restante da casa, o sol iluminava a janela de vidro do quarto e a enorme piscina nos fundos.

Ao entrar no cômodo pegou sua bolsa e disse com autoridade para a governanta.

-Se meu marido ligar, diga que estou na piscina aproveitando o dia, e que o Bonnie... Deep... diga Deep, está no seu quarto de castigo por causa do que houve, com dor de cabeça, e com o olho roxo, porque aquele garoto imb...

Gina se recompôs e foi em direção a garagem, determinada a encontrar respostas e o porquê dos seus planos não terem dado certo, andava com passos firmes e com a cabeça erguida até seu carro. Seus vizinhos porto-riquenhos acenavam para ela, enquanto ela permanecia desconexa de sua realidade tomada por uma frustração antiga, acenava de forma automática.

-Quando faremos nossos jantar grã-fino novamente, em primeira dama? Por onde está seu filho adorável, ele anda sumido!

Gina sorriu e respondeu enquanto entrava no carro:

-Ele é muito caseiro, um bom menino... tchau Martina!

Ao se sentar, colocou seus óculos de sol e saiu, rumo a um destino temido mas por agora inevitável.

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Bonnie sentia seu olho doer um pouco, e culpa por deixar sua mãe falando sozinha.  Estava cansado por ficar varias madrugadas elaborando planos para fechar o Roper Lake. Havia placas e garotos da comunidade grafite na frente do lago gritando para que os hippies saíssem e apenas a cidade tivesse acesso ao lago, tudo plano do Bonnie e seus amigos da comunidade.

Bonnie andava de cabeça erguida pela calçada, enquanto tentava ligar para seu amigo Daniel.

-Oi cara!

-Bonnie, cadê você cara? Ficamos sabendo que o Rabanete te deu um abraço? Algo assim...

Daniel Riviera não era o mais inteligente dos meninos da comunidade grafite que o Bonnie participava.

A comunidade era um projeto que ensinava as crianças e adolescentes do Condado de Safford a pescar e escrever poemas sobre seus sentimentos.

Quando o Xerife Sanders assumiu, o projeto foi tomado por delinquentes que cometiam pequenos delitos. Como filho do Xerife, Bonnie precisava ser encoberto, por isso assumiu o nome de seu tataravô, Deep. Seu pai Joan Sanders desconfiava, mas por medo e intervenção de Gina, nunca falou sobre isso.

-Nate e eu nos desentendemos sobre um assunto pessoal, e o idiota agora está na delegacia com o meu pai, o que é ótimo porque ele não vai ao Lago ... a polícia já chegou aí?

Bonnie notava que havia muito barulho pelo telefone, como uns gritos com vozes de confusão.

-Melhor você vir logo para o lago, Bonnie, acho que a polícia vai fechar o lago, acho que vamos conseguir.

Bonnie desligou o telefone com um sorriso enorme no rosto, correndo em direção a rua principal que dava acesso a floresta e ao lago, quando estava virando a esquina, olhou seu rosto por um retrovisor de um carro.

Bonnie estava um pouco acima do peso, usava uma calça de moletom gasta, um tênis branco impecável, e uma jaqueta Jeans larga, seu cabelo castanho caia por cima de seus olhos, e seu óculos estava em algum lugar largado no seu quarto, porém ele não estava preocupado em procurar.

Ao se encarar por um momento pensou sobre Nate, no fundo ele não sentia ódio ou ressentimento, ele sabia que em algum momento as peças iriam se encaixar e tudo faria sentido na sua cabeça.

"-Você só precisa seguir com o plano Bonnie, você não vai ser mais enganado. Se ninguém quer te dar respostas, você mesmo vai conseguir as respostas..."

Enquanto vivia seu devaneio, seu telefone começou a tocar, revirou os olhos acreditando ser Daniel cobrando sua presença novamente no lago.

-Fala Daniel, sabe que estou indo escondido então vou pela floresta e...

-Bonnie, sabe quem está falando?

Por um momento o menino tremeu, sem acreditar na voz que ouvia. Ele queria sorrir, ou mesmo tempo chorar, manteve a postura e respondeu com a voz firme.

-Agora você quer falar comigo? Você é uma pessoa horrível Taylor, o idiota do seu filho me bateu e está na delegacia! Acho bom você ir até lá porque o delegado Stephen chega hoje e ele não joga limpo!

-Bonnie, Sally está nesse carro na sua frente, eu acho melhor você entrar agora.

Bonnie ficou arrepiado, e começou andar rápido, a medida que ele andava, um Honda Civic cinza ia atrás, bem devagar.

-Taylor para com isso! Está me assustando.

-Bonnie só entra no carro, eu não quero discutir com você... afinal você não quer tanto respostas? Eu também quero, mas só o Nate sabe... e ele não soube agir e agora está na delegacia, vamos conversar e resolver isso. De homem para homem.

Bonnie parou por um minuto, suas mãos começaram a suar e sua cor era branca.

-EU VOU CHAMAR A POLÍCIA!

Uma mulher alta e magra saiu do carro, estava usando botas de couro, um casaco vermelho quadriculado e um óculos escuro fora de moda, encarou o menino com um sorriso maligno.

-Vamos logo, facilite as coisas.

Bonnie encarou a mulher e entrou no banco do carona cabisbaixo, ele sabia porque estava ali, não era um sequestro, não era uma afronta.

Olhou a mulher que dirigia e disse segurando seu choro.

-Você vai me dar respostas?

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