6°- CAPÍTULO ✝

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Taehyung e eu empurrávamos os últimos carrinhos, lado a lado. Os outros artistas estavam encarregados de limparem dentro da tenda, enquanto Marrie faria o jantar.

Paro por um segundo e ajeito o carrinho de mão. Ele estava um pouco pesado. Todos esses restos de carne estavam balançando, quase saltando para fora, ao mesmo tempo, que deixavam para trás um rastro vermelho marcado pela roda do carrinho.

— Estamos quase lá, Cherry. Aguente mais um pouco. — Agora, alguns passos à frente, Taehyung me encara de canto de olho.

— Eu estou bem. — Respondo e empurro com mais rapidez o carrinho, enquanto atravessamos o murro verde-limão-escuro e passávamos pelas jaulas que abrigavam alguns dos animais que participaram do espetáculo hoje.

Contornamos a casa e seguimos para o fundo, onde, um velho triturador de carne foi colocado. Ele estava de pé com o auxílio de uma barra de ferro, e ficava acima de um grande balde branco.

Empurramos os carrinhos até ele e paramos. Os três tigres dentro do vagão de trem, nos observavam deitados como se fossem os mais dóceis gatinhos.

— Estive pensando em algo. — Taehyung comenta assim que pega um dos braços decepados e o coloca dentro do triturador. Em seguida, ele começa a girar a manivela, fazendo o braço virar um amontoado de carne que caia direto dentro do balde branco.

— Pensou no quê? — Pergunto, o observando pegar mais uma das partes.

— Deveríamos escapar do circo. — Sua voz soa calma, contrastando com o som grotesco do triturador esmagando a carne e os ossos.

Automaticamente arqueio uma das sobrancelhas.

— Do que está falando? Pensei que não desse para escapar.

Ele ri pelo nariz e continua girando a manivela com a apenas uma mão, enquanto, com a outra, aponta para o meu carrinho, sem me olhar.

Curiosa sobre o que Taehyung tinha a dizer, nem presto atenção no que pego, apenas apanho a primeira coisa que os meus dedos tocam e entrego para ele.

— Estou cansado de apenas fazer o que Babadook deseja. Vamos fugir e abrir nosso próprio circo.

Os meus olhos se arregalam e meu peito enche apenas por imaginar tal ideia.

— Está falando sério? Como faríamos isso? — Pergunto, tentada e esperançosa.

Ele me encara de canto de olho mais uma vez.

— Tudo que precisamos, é roubar nossos corações da sala do Babadook. Então, fugiríamos com o trem. Eu sei como ligá-lo e pilotá-lo, mas para isso... — Ele se agacha, mexe dentro do balde cheio de carne e depois assovia para os tigres, que se levantam, saltam do vagão e vão até o dono. Taehyung empurra o balde em direção aos felinos, que o derrubam, fazendo a carne triturada se espalhar pelo chão para que eles possam comê-la.

— Continue. — O incentivo.

Taehyung apoia as mãos sujas sobre os joelhos, observa por alguns segundos seus tigres e depois se levanta.

— Precisaríamos matar todos na casa.

Me inclino para trás, surpresa.

— Por quê?

Taehyung suspira.

— Eles nunca concordariam em fugir, ou nos deixar partir depois do que aconteceu com Angelique. — Ele agarra minhas mãos, as sujando de sangue fresco. — Cherry, podemos ir até à sala do Babadook. Esfaqueamos os corações dos artistas e roubamos os nossos, assim, Babadook nunca poderá nos ferir.

Oh!... essa era uma ideia louca, mas o meu amor era louco.

— Vamos fazer isso. — Falo, decidida e concita.

{Ele sorri.}

Suas mãos soltam as minhas e seguram o meu rosto, antes que ele toque os meus lábios com os seus.

— Vá ajudar Marrie para que não suspeitem de nós. Irei terminar de me livrar disso. — Ele aponta para as partes dos corpos que ainda restavam nos carrinhos.

Assinto, me sentindo completamente persuadida e apaixonada. Por isso, apenas me afasto e corro para a frente da casa.

Apesar de não ter mais um coração dentro de mim, o sinto batendo loucamente. Muito, muito ansioso pelo que faríamos.

Entro na casa e escuto o som familiar de um gramofone. O sigo até à cozinha, onde encontre Marrie assoviando ao som da música, enquanto mexe em uma tigela azul-brilhante. Suas mãos manchadas de vermelho, sujavam a tigela e a colher de pau.

— Precisa de ajuda? — Pergunto, atraindo sua atenção.

Ela olha para a entrada da cozinha e sorri largamente.

— Claro. Corte aqueles legumes para mim. — Seus olhos vão até à tábua de madeira sobre a pia. — Farei um delicioso gizado de carne com legumes, e com meu molho secreto. — Marrie pisca para mim.

Rio baixo e vou para perto da pia, sem me importar com as sombras que nos espreitavam em cada canto da cozinha. Não era mais assustador, já havia se tornado normal para mim, como se sempre tivessem feito parte da minha vida.

— Você está bem suja. Tem sangue até no seu rosto. — Marrie ri, parando do meu lado.

— Não sabia que era tão trabalhoso se livrar dos espectadores. — Digo, sincera e ela ri de novo.

— Eu não gosto dessa parte, mas, pelo menos, eles duram o resto do mês. — Ela comenta e se arrasta para o outro lado, até o gramofone que estava no balcão.

Marrie aumenta o volume e a música se torna alta dentro da cozinha.

Rio e continuo cortando os legumes.

— A vida é bela aqui no circo, Cherry. — Ela cantarola, antes de começar a rodopiar pela cozinha.

Marrie coloca a tigela na pia e me puxa, quase me fazendo tropeçar nos próprios pés. Ela segura minha mão livre e usa a outra para apoiar em minhas costas, antes que começássemos a dançar ao som do gramofone, enquanto eu apoiava minha faca em seu ombro.

Ríamos animadamente, enquanto éramos observadas por todas aquelas sombras, que começavam a sair da escuridão para se juntarem a nós.

Ríamos animadamente, enquanto éramos observadas por todas aquelas sombras, que começavam a sair da escuridão para se juntarem a nós

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HELLISH CIRCUS || KTH [SHORTFIC]Onde histórias criam vida. Descubra agora