— Você está bem?Exasperada, Millie questionou, erguendo o queixo — porque, caramba, que sujeitinho alto, ela pensou — para encarar aquele desconhecido, que estava boquiaberta, com a face enrubescida e as palmas das mãos raladas. Meu Deus, talvez ele tenha rachado o crânio!, cogitou, desesperada, quando não obteve respostas ao passar de alguns segundos, e estendeu as mãos para o garoto segurá-las.
— Você está bem? — repetiu, esganiçada.
Ele, enfim, reagiu, piscando confusamente e segurando as mãos suaves de Brown, impulsionando-se para cima e levantando-se.
— O quê?
— Perguntei se você está bem. — aumentou o tom de voz. — Eu te machuquei?
— Não!
— Não, você não está bem? Ou não, eu não te machuquei? — perguntou, esforçando-se para não irritar-se com toda aquela morosidade.
Após sair de casa, Brown passou no Red Cadillac e abasteceu-se com uma grande dose de café extra forte, demasiadamente enérgico para adolescentes de apenas dezessete anos — ainda mais para adolescentes de apenas dezessete anos que passaram a madrugada em claro, ingerindo quantidades absurdas de energético saborizado, obcecados com roteiros de peças de William Shakespeare.
— Não, você não me machucou! — finalmente respondeu, fazendo-a suspirar em alívio e deslaçar seus dedos.
— Ah, bom, me desculpe, de qualquer forma.
Sentou-se novamente sob o banco estofado da bicicleta e ajeitou o boina rosa, fitando-o meticulosamente e tentando detectar resquícios de ferimentos mais graves.
— E eu? — ele retribuiu a análise, com um sorrisinho ladino.
— E você o quê?
— Eu te machuquei?
— Ah, sim. Quero dizer, não. Você não me machucou, mas... — deu de ombros.
— Mas...?
— Não é muito seguro andar de skate com os olhos fechados. — rangeu os dentes, sem conseguir esconder a irritação com a situação. — Poderíamos ter nos machucado, sabia disso?
— Ah, desculpe, mas você apareceu do nada. — protestou, arqueando as sobrancelhas.
— As pessoas não costumam anunciar a entrada delas. Bom, pelo menos pessoas normais, como nós.
— Como você sabe que eu não sou um visconde?
Millie entreabriu a boca, sem reação; será que ele está sob efeito de drogas?, perguntou-se. Fixou o olhar no dele, tentando decifrar se suas pupilas estavam dilatadas, e engoliu em seco quando deslumbrou-se em um dos rostos mais simétricos que já viu, com olhos castanho-escuros, maçãs do rosto altas e saudavelmente coradas, lábios rosados e carnudos e queixo em formato de coração.
— Estou brincando com você. — o garoto riu quando Brown continuou em silêncio, encarando-o com o cenho franzido. — Na próxima vez, preste mais atenção também.
— Como é?
Ele gesticulou para o seu roteiro, agora encharcado e encardido, que acabou caindo no asfalto devido ao tombo, umedeceu o lábio inferior, esboçando um sorriso malicioso e rebatendo, antes de subir no skate e seguir em direção ao colégio. — Não é muito seguro andar de bicicleta lendo.
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Quarta-feira costumava ser o dia da semana predileto de Millie por três principais motivos: 1) aula de teatro, 2) dia de usar rosa, 3) admirar Finn Wolfhard secretamente.
Há quatro anos, no baile SnowBall do oitavo ano, o pequeno Finn, com adoráveis dentinhos tortos, sardas salpicadas pelas bochechas róseas e corte de cabelo em formato de tigelinha, convidou-a para uma dança e deu-lhe o seu primeiro beijo, ao som de Every Breath You Take, do The Police — que, por acaso, era sua música favorita. Foi desajeitado e molhado, mas gentil e doce, e fez com que Brown sentisse milhares de borboletas dançando em seu estômago e se apaixonasse perdidamente.
Mil quatrocentos e sessenta dias depois, ela ainda sentia o mesmo, mas a diferença era que, agora, ele não tinha os mais dentes irregulares, o corte de cabelo antiquado e, muito menos, continuava desastrado. Wolfhard era muito inteligente, fazia parte de uma banda de garagem e caminhava pelos corredores do colégio com o semblante sério e penetrante, cachos desgrenhados e, mesmo assim, perfeitamente alinhados, e profundos olhos negros como o céu noturno sem estrelas — descrição de Millie —, arrancando suspiros apaixonados e piscadelas descaradas.
No entanto, naquela quarta-feira, quando a Srta. Ryder adentrou o auditório de teatro, tipicamente exalando elegância com sua echarpe importada da França, Millie desejou não ter saído da cama, pois ao lado da professora, com um par de all star imundo, calças surradas e skate velho, estava o mesmo garoto do tombo de horas atrás.
E tudo piorou quando os seus olhares encontraram-se, e ele sorriu daquele jeitinho sujo.
— Bom dia, alunos. Este é Louis Partridge, nosso novo colega. — anunciou a Srta. Ryder.
E Brown grunhiu, achando que a situação não poderia se agravar. Mas ela estava errada, pois aquele era apenas o início de tudo.
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Oi, oi. O capítulo de hoje foi mais curtinho, então talvez eu poste mais um hoje ou amanhã.
Deixem o voto, comentem e bebam muita água!!
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Romeo and Juliet
FanficLouis Partridge nunca reparou no fato de que Millie Bobby Brown andava sempre com algum livro clássico nos braços, um roteiro amassado nas mãos e os lábios cheios de gloss labial sabor morango até ser obrigado a fazer o teste para o papel de Romeu...