0. 12 de fevereiro de 1826

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Muito antes de Victória Katarina Dallarosa nascer, ou mesmo antes de qualquer Budapeste chegar a cidade, quando não haviam castelos construídos no cume do Monte Ferrovia e nem ferrovia alguma para dar nome a ele, a Última Bruxa do Leste foi executada na cidade.

Na praça central, que ainda permanece como centro histórico e decadente de Prado, há uma lápide feita em basalto negro fosco, com inscrições vermelhas incrustadas na pedra. Fora ali que Joane Grey tinha sido condenada por bruxaria, em 12 de fevereiro de 1826, onde antes havia um palanque de madeira mofada, erguido nos primeiros dias de existência da Vila das Pradarias. Ficava bem aos pés da antiga Igreja que rodeava a praça, mas que desabou consumida pelo fogo em 1850, deixando para trás apenas seu campanário inutilizado. Era ali que todo o julgamento e condenação ocorria, com os delgados incitando a multidão contra seus acusados.

Ali, a frente da Igreja em cima do palanque, Joane suspirou pela última vez.

Contudo, agora o palanque se fora, junto com a Igreja e suas memórias obscuras. A lápide que os substituíra não tinha corpo algum enterrado abaixo dela. Era uma monumento para marcar o fim de uma tradição, não de uma pessoa específica. O corpo da Última Bruxa do Leste já tinha se transformado em pó quando Henry Budapeste mandou fazer aquela homenagem, mas, de alguma forma, era como se ela estivesse enterrada ali.

Nas inscrições brilhantes e vermelhas, em contraste com a pedra negra, lê-se:

"Aqui jaz o túmulo das nossas velhas tradições,

Onde Joane Grey suspirou pela última vez.

Vê o nascer da noite diante de nós?

É o mistério soberano que nos aguarda.

1826-1850."

Uma pena a garota não estar mais aqui para poder ler. Mas esse é o destino de todos os epígrafes. E, ainda que hoje Prado seja um lugar diferente daquele que executou Joane Grey, há um desejo sombrio correndo nas veias ocultas dessa cidade que permanece tão intacto quanto antes.

Escondido pela penumbra, nenhum mal se dá por vencido. 

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