Agachada, presa no silêncio da clareira que a rodeava, Victória Katarina Dallarosa sentia o estômago revirar conforme tentava por em ordem os pensamentos que conflitavam em sua mente.
– Eu não sei. – Foi tudo que conseguiu responder à Luísa, que naquele momento parecia tão assustada quanto ela. Victória tremia, sem saber se por medo ou frio. Ela tentou entender o que tinha ocorrido – teria sido um caso aleatório de sonambulismo? Não parecia fazer sentido, nunca tinha acontecido antes.
Magia, então? Mas dê que tipo? um feitiço podia se manifestar de muitas formas, mas ela teria de ter sido enfeitiçada ou provocado aquilo, ainda que inconscientemente, enquanto dormia. Mas não conhecia nenhuma magia de teletransporte e, principalmente, ninguém ali no acampamento saberia usar algo tão avançado.
A noite teve o silêncio cortado por um pio distante. Num súbito movimento, Luísa pareceu sair do seu estado de perplexidade e se levantou.
- Fique aqui! – Ela falou. Victória só conseguiu encarar a garota por um segundo antes dela sair em disparada pela noite. Sozinha, encolhida numa posição quase infantil, enquanto seu cabelo e roupas pingavam e seus dentes batiam uns contra os outros, Victória sentiu o impacto da situação absurda – e chorou.
As lágrimas vieram aos poucos, primeiro marejando seus olhos e depois escorrendo silenciosas, se misturando as gotas do lago que dominavam seu rosto. Então tudo se transformou numa torrente e ela começou a soluçar.
Mal percebeu quando Luísa voltou, estendendo uma toalha sobre seus ombros.
- Vem, vamos para o Farol. – Ela comentou, enquanto ajudava Victória a se levantar. Mesmo dias depois, teria sido difícil dizer se ela mesma teria reagido melhor do que Luísa naquela situação. Afinal, principalmente sendo fosco, não é todo dia que se vê alguém imergindo desesperadamente de um lago. Prado era cercada por magia até suas entranhas, mas aquilo não era comum.
Dentro do Farol, entre as estantes de livros que subiam em círculos e as mesas cheias de arquivos e papéis, o assoalho parecia infinitamente mais quente do que a grama do lado de fora e o ambiente aconchegante ajudou que ambas se sentissem melhor.
Victória respirou fundo, deixando que choro morresse aos poucos com seus últimos suspiros, enquanto secava o corpo com a toalha de Luísa.
- Obrigada. – Disse, por fim, apontando para a toalha. Luísa acenou.
- Achei que não ia querer voltar direto pro chalé, sabe... – A garota ponderou. – Toda molhada e confusa... se alguém acordasse iria te encher de perguntas... – Luísa deixou que sua voz fosse morrendo aos poucos. Por um segundo, toda a segurança que ela demonstrara até agora pareceu minguar, enquanto seu rosto transparecia a incerteza de como prosseguir.
Victória se adiantou, impedindo que o silêncio aumentasse a estranheza da situação.
– Realmente não sei o que aconteceu. Eu estava sonhando, num primeiro momento... ou pelo menos eu acho que estava e então, de repente, eu percebi que sufocava...
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A Noite das Coroas
HorrorVictória Katarina Dallarosa não queria passar mais um feriado no Acampamento Velho Bosque. Principalmente, por causa das visões estranhas que anda tendo. Durante o Mardi Grade, o maior evento do ano, é comum que os pais deixem seus filhos para serem...