Diabo Da Guarda

720 60 46
                                    

     A figura pequena da menina entrava na cobertura através do elevador, procurando o próprio Diabo. Sua postura estava nervosa, como um animal preso em uma jaula, seus olhos colados no chão e sua respiração estava acelerada.

     "Pequena humana, o quê te traz aqui?" Lucifer perguntou virando sua cabeça para ela, deitado no sofá com um copo de whisky em sua mão. Ele finalmente olhou para Trixie e percebeu seu olhar fixado ao chão, as linhas de preocupação em seu rosto, como ela mexia suas mãos nervosamente com o zíper de sua jaqueta e sua cabeça que parecia estar cheia de pensamentos esperando para sair.

     "O que há de errado?" Lucifer a questionou com um tom preocupado ao ver o estado da menina e se levantou do sofá, se aproximando dela e dirigindo a menina ao bar onde ele a serviu de um copo de água.

     "Eu..." Trixie começou e bebeu um gole do copo. "Eu queria te perguntar uma coisa." Ela finalmente tirou seu olhar do chão e fitou o homem à sua frente.

     "À vontade, cria." Ultimamente Lucifer andava tentando entender um pouco mais da vida dramática de uma adolescente de 15 anos, tendo em vista de que agora ele passava muito mais tempo com a criança da detetive e que ele está realmente criando uma conexão com ela. O diabo nunca admitiria, mas começou a apreciar a presença de Trixie. Depois de algumas sessões confusas com Linda, aprendeu como fazer um ambiente confortável para a pequena praga, deixando a saber que ele sempre estaria ali para ela, e que poderia confiar no seu padrasto/Diabo da Guarda a todo custo.

     Beatrice respirou fundo.

     "Antes de namorar a mamãe... você beijava garotas e garotos, certo?" Ela perguntou, hesitantemente.

     Lucifer abriu um sorriso de canto. "Realmente, criança. Eu ficava com ambos. Por que pergunta?" Ele inclinou sua cabeça para o lado, parecendo um cachorro ouvindo o barulho de um brinquedo.

     "É que esse menino, Bryan, me convidou para sair. É o meu primeiro encontro!" Trixie disse, e se acalmou mais agora, confiando completamente em Lucifer.

     "E... isso não é bom? Do que eu saiba, você já atingiu a puberdade, e agora está explorando o mundo cheio de hormônios. Eventualmente, você será chamada em encontros." O Diabo ponderou, confuso.

     "Esse não é o problema, Luci. Na verdade, o que está me fazendo confusa é que outra pessoa me chamou para sair." Ao dizer isso, Trixie começou a corar. Lucifer abriu um sorriso ao ver o constrangimento da criança. "É uma menina. O nome dela é Leah." Beatrice terminou.

     "Oh... entendi. E com quem você quer sair?" Lucifer perguntou.

     "Sinceramente..." Trixie ponderou. "Com a Leah. Eu gosto do Bryan, mas ela me faz rir demais e quando me chamou pra sair meu coração fez essa coisa estranha..." A adolescente tentou explicar, fazendo gestos com suas mãos.

     "Então saia com a Leah. É simples." Lucifer respondeu, franzindo a testa.

     "Mas... isso não é errado? Sair com meninas, em um encontro romântico?" Beatrice perguntou, constrangida e olhando para o chão novamente.

     O coração de Lucifer doeu por ela. Colocou sua mão no queixo da menina para que seus olhos se fixassem nos dele.

     "Beatrice. Me escute bem. Sair com meninas, com meninos ou quem quiser não é errado. Você não escolhe por quem se atrai. Poxa, eu sou o melhor exemplo disso." Ele pausou para dar uma risadinha. "Eu nem deveria me apaixonar. Fui feito para ignorar todas essas emoções, e do mesmo jeito... me apaixonei pela sua mãe. Agora, não importa se as pessoas que você gosta são homens ou mulheres, ou qualquer outra pessoa. O que realmente importa é que esteja feliz." Ele disse, tentando confortá-la. "Afinal, estamos em 2020. Somos livres para sermos quem quisermos. E é exatamente isso que você vai fazer, pequena praga. Saia com a Leah."

     Ela respirou fundo e acenou com a cabeça. Apesar de saber o quanto Lucifer odiava isso, Trixie abriu os braços e envolveu seu Diabo da Guarda em um abraço.

     "Obrigada, Luce." Ela sussurrou, sorrindo no paletó dele. Os braços do Diabo apertaram a menina de volta, fechando-a em uma jaula de amor e afeto que ela nunca havia visto vindo dele antes.

     "Eu sempre estarei aqui se precisar, pequena humana. Fico feliz em responder qualquer uma de suas dúvidas, e também que você confie em mim o suficiente para falar comigo." As bochechas de Trixie começaram a doer de tanto sorrir, e seus braços apertaram ainda mais a figura gigantesca, porém inofensiva, do antigo Rei do Submundo. Ele descançou a sua cabeça no topo da menina, percebendo o quanto ela cresceu nesses anos e até sentindo uma pequena falta da cria pegajosa que ele conheceu no início de tudo.

     "Oh, Beatrice. Mais uma coisa."

     "Diga."

     "Quando estiver pronta para dividir isso com sua mãe e seu pai, eu tenho certeza de que eles irão lhe amar da mesma maneira, então não se preocupe. Mas se você precisar da minha ajuda para contá-los, segurarei sua mão grudenta e lhe defenderei com minha vida se for necessário. Entendido?"

     "Entendido." Ela respondeu.

     ***

     Chloe Decker saiu do elevador algumas horas depois, esperando voltar para os braços do Diabo, receber uma refeição divina feita pelo mesmo e esperar para ver o que ele preparou para a noite. A última coisa que ela esperava era ver a televisão ligada enquanto sua pequena Macaquinha e seu namorado dormiam abraçados no sofá, completamente livres e despreocupados. Um sorriso gigantesco se abriu em seu rosto.

     Ela não se resistiu e retirou o celular do bolso traseiro de seu jeans, capturando o momento de seu paraíso doméstico e já ouvindo a voz de Lucifer reclamando: "Detetive, eu não sou fofo! Eu sou o Diabo, pelo amor do Pai." Mas tudo bem. Esse momento faria tudo valer a pena.

One shots - LuciferOnde histórias criam vida. Descubra agora