O Wei chegou em casa com os braços abarrotados de livros sobre LSA, havia até mesmo um sobre LSF, ele sequer jantou, folheando, anotando e pesquisando no laptop.
-Ei bonitão. - disse sua colega de apartamento abrindo a porta do quarto dele - Já é quase meia noite, você não tem que acordar cedo amanhã? - ela deixou um prato com um sanduíche ao lado dele e um copo de achocolatado.
-Sanduíche e chocolate? Eu não sou uma criança. - na realidade ele não estava reclamando, mas gostava de fingir não gostar das coisas que gostava.
-Engraçado, porque você realmente parece uma criança. - jogou.
-Meu novo chefe é surdo. Surdo! E o filho dele de 11 anos... O menino é um gênio! Ele simplesmente mandou a real e disse "você aprende LSA ou vaza daqui", Qing, o salário lá é muito bom!
-Eu sei um pouco de LSA, porque não falou comigo antes?!
-Como eu ia saber?!
-Eu tive matérias extras de linguagem de sinais. - os olhos dele brilhavam quando a abraçou.
-Minha heroína.
-Deixe de ser idiota, Wei. Vá dormir, ok? Amanhã quando eu chegar da residência podemos estudar um pouco.
-Te amo, Qing. - disse fazendo um coraçãozinho para ela.
-Retardado. - xingou com uma falsa cara de nojo antes de dar um discreto sorriso - Boa noite, Wei Ying.
-Boa noite! - respondeu animado, então ela saiu e fechou a porta.
Ele arrumou suas coisas, comeu seu lanche e também foi dormir.
No dia seguinte, Lan Zhan trabalhou tranquilo ao lado de QingYang, a moça era bastante habilidosa, tanto com os cliente quanto com ele, de todas as pessoas que passaram ali naqueles anos, a stra. Luo, como ele chamava, era a mais competente. A apreensão começou a lhe tomar quando o turno dela estava acabando, ele não sabia dizer o motivo daquela angústia, talvez por ter alguém sob seu teto com quem ele não podia se comunicar. Bem, ele sabia que o motivo não era bem esse, quando, eventualmente, ficava sozinho na loja, conseguia se virar falando o indispensável com os clientes e lendo seus lábios, ele podia conversar normalmente com qualquer um, somente as poucas pessoas que lhe eram íntimas sabiam que ele não ouvia, Lan Zhan odiava o fato de não poder mais ouvir sua própria voz, falar já não era um de seus fortes, mas há 15 anos se tornara um martírio.
Seu novo funcionário chegou e ele era como o vento da primavera, Wei Ying era belo e vivaz, o Lan tinha descoberto um estranho prazer em observar o balançar de seus longos fios roçando em suas costas, naquele dia ele usava um coque baixo e feito às pressas, provavelmente saíra atrasado de onde quer que estivesse.
-Oi, chefe! - cumprimentou entrando por trás do balcão - Você faz leitura labial certo? - ele fez aquela pergunta perto, perto demais, Lan Zhan quase congelou antes de concordar com a cabeça - Ótimo! Sabe chefe, eu não acho que isso seja um problema, você pode falar se quiser. Eu não vou rir se sua voz for estranha. - o mais alto franziu o cenho para ele, que riu nervoso - É brincadeira! - disse cutucando-o de leve com o cotovelo. O Lan olhou para o braço alheio e para seu rosto como se o advertisse com o olhar - Ok, sem contato físico. - ele deu um sorriso amarelo - Sabe chefe, eu tenho um tio que é deficiente visual e ele mora sozinho! - Lan Zhan não fazia ideia de que rumo aquela conversa estava levando, nada fazia sentido em sua cabeça. Então ele simplesmente deu as costas e começou a mexer na máquina registradora.
Wei Ying havia esquecido completamente que seu chefe precisava olhar diretamente para ele para entendê-lo, então continuou tagarelando até perceber que ele sequer estava ali mais.
-Ei! Para onde raios ele foi? - se perguntou antes de dar um suspiro cansado - Bom... Acho que tenho que me trocar. - concluiu indo para o vestiário.
Antes de terminar de se arrumar ouviu o alarme de uma das mesas e ao voltar para o balcão avistou o belo homem de olhos dourados de pé perto de uma das mesas da parte aberta, um senhor gritava com ele enquanto uma senhora ao lado tentava acalmá-lo, o Wei correu até lá.
-Com licença, posso ajudá-los? - perguntou olhando do chefe para o casal de idosos e vice-versa.
-Este rapaz! - berrou o senhor indignado.
-Senhor, não precisa gritar, o que houve?
-O atendimento daqui é um lixo! Na minha época podíamos ir em casas de chá de verdade e relaxar, mas isso aqui é uma imitação barata e desqualificada! - as sobrancelhas de Lan Zhan se uniram, mas ele não fez nada. Wei Ying percebeu que o homem era britânico e "sua época" deveria ter sido muitas décadas atrás.
-Desculpem meu marido, ele se irrita muito fácil. - ela falava francês, por sorte, o Wei entendia o básico do idioma - É que nossas bebidas vieram erradas e este rapaz não faz nada! - depois ela falou mais algumas coisas que ele não entendeu e chegou a conclusão que seu chefe apenas não sabia francês e provavelmente não havia entendido o que o senhorzinho estava falando, ele próprio não entendia bem, o lugar onde viviam era uma mistura muito maluca de idiomas e sotaques, se ele, que podia ouvir todas aquelas vozes e dialetos, não entendia muito bem, não conseguia sequer imaginar o quão era pior para o seu novo chefe.
-Senhores, desculpe-nos pelo equívoco, eu vou agora mesmo trocar o pedido de vocês, sim? - ele lhes deu um doce sorriso - O que desejam?
Lan Zhan observou a desenvoltura de seu novo contratado, como ele contornou toda aquela situação que ele próprio não sabia como lidar, diversas vezes se deparara com aquele tipo de problema, embora todo o estabelecimento fosse equipado para ele, existiam momentos que sua deficiência o atrapalhava, como quando falavam com ele na rua e ele "ignorava", ou quando ele precisava que seu filho dissesse coisas aos outros ou pior, quando ele não conseguia entender o que os clientes queriam, várias vezes ele se pegava perguntando se o Canadá era realmente sua melhor opção. Ele viu o Wei anotar o pedido e se virar para ele dizendo um "Vamos lá", então o virou de costas e o empurrou em direção ao balcão.
-Lidar com pessoas pode ser realmente complicado às vezes. Que bom que tudo correu bem, não é? Ah! Vamos dar um fatia de bolo como cortesia, sim? - sugeriu com uma piscadela, o coração do Lan quase falha com aquele gesto, então ele pegou o bloco de notas e a caneta das mãos alheias e escreveu "Obrigado", então deu as costas e saiu.
Naquele momento, Wei Ying se sentiu um passo mais perto de seu chefe e isso, de alguma forma, o animou mais do que ele poderia imaginar.
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Voice Silence [concluída]
FanfictionSinopse: Wei Ying é um jovem que foi para Montreal estudar design, no final do curso ele já havia acumulado uma grande dívida no bar ao lado do apartamento onde vivia e precisava arrumar um emprego o quanto antes, foi quando conheceu a casa de chá d...