Capítulo 7

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Pássaro com asa quebrada

***

Como os ensaios para o festival estavam acontecendo no auditório, minha esperança era que tudo isso acontecesse nos intervalos das aulas, para não precisar limpar o espaço até tarde com Arthur em meu encalço. Então, quando ouço o sinal tocar, sigo em direção ao pátio na expectativa de encontrá-lo para agilizar o processo, porém, não o encontro.

Decido ir ao auditório mesmo e, ao abrir a porta, espio pela fresta um casal no palco ensaiando. Fico surpresa ao perceber que é Carol e Pedro dançando tango. Contenho o riso por ver Pedro se esforçando para alcançar os passos, mas, mesmo engraçado, o amor dos dois se reflete até na dança, obrigando a graça a cair por terra. Presto atenção na música por um segundo e lembro-me de já ter tocado essa melodia certa vez no piano.

No fundo, sei que voltar a tocar é meu maior sonho. Só que ainda me sinto sufocada demais sempre que coloco as mãos em um piano e só de pensar em tocar em público um arrepio invade minha espinha. Certa vez ouvi a frase: "nunca deixe seus sonhos morrerem, porque a vida sem sonhos é como um pássaro com asa quebrada". E é exatamente assim que me sinto. Um pássaro com asa quebrada. E acho que essa asa jamais terá conserto. Parece que vou permanecer assim, parada, estagnada, perdida em meu sonho morto e com minha asa quebrada.

— Alguém aí quer aprender a dançar tango também?

A voz de Arthur interrompe meus devaneios, assustando-me.

— Por que você sempre chega de fininho e me assusta? — Reviro os olhos.

— Porque você não vive nesse mundo... — ele revida.

— Agora eu estava longe mesmo. E não tem nada a ver com o tango!

— Se quiser, eu te ensino. Sou profissional. — Arthur faz um movimento com os braços e sou obrigada a sorrir.

— Para, Arthur! — Dou uma gargalhada espontânea. — Até parece que você, um jogador de basquete, bruto, nada romântico, frio, saberia dançar tango. Uma das danças que mais exalam romantismo e sensualidade... — debocho.

— Ih, você não me conhece mesmo, hein, Luíza? — Arthur apoia um dos braços na porta a nossa frente, fitando-me com seus olhos azuis.

— E nem quero conhecer... Poupe-me, por favor! — Faço sinal com a mão para ele se afastar.

A aula de tango de Carol e Pedro chega ao fim, e vejo que eles estão saindo pelos fundos, junto com os professores.

— É a nossa vez. Vamos limpar isso logo? — pergunto, entrando no auditório em seguida.

Ouço os passos de Arthur atrás de mim.

— Só depois que você me deixar te mostrar meus dons na dança...

— Ah, Arthur! Para, por favor! Eu vou morrer de tanto rir se você continuar assim...

— Fica rindo mesmo... Vem dançar comigo? — Ele estende a mão assim que chegamos ao palco.

— O quê? Como? Não, tá maluco? Meu pé está engessado, graças ao bom Deus, que me livrou de dançar com você agora e de fazer qualquer esforço físico. — Levanto as mãos, desvencilhando-me dele.

— Ah, engraçadinha! Vem, eu te seguro — Arthur diz ao apertar play no aparelho de som ao lado e me puxar em seguida.

— Para, Arthur, por favor! Não vou dançar com você, ainda mais com meu pé machucado — ralho com ele.

Ele me segura mesmo assim e dou uma crise de riso com seus movimentos duros.

— Pare de rir, Luíza, tem que olhar sério. Tango é uma dança séria! — ele insiste.

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⏰ Última atualização: Oct 11, 2020 ⏰

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