Prologue

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Em uma madrugada de inverno, havia uma rua deserta. Ela nem sempre é deserta, na verdade está quase sempre cheia. Gente correndo, segurando seus copos de café logo de manhã cedo. Pessoas com guarda - chuvas em uma noite chuvosa. Outras caminhando com seus cachorros em uma tarde de sol e os carteiros fazendo seu trabalho. Esse, era o normal. Mas naquele dia, não.

Você acredita em destino? Pois é, se você não acredita, poderia me explicar como duas pessoas completamente diferentes, vão se conhecer em uma avenida tão movimentada como essa? E por que, justo quando ela está deserta? Sim, porque para elas se conhecerem quando está justamente vazio, é porque existe o destino. Se não, estariam uma em cada calçada ou passariam em horários opostos. E se você está confuso, ainda se perguntando o porquê de ser mais fácil isso acontecer quando ela está cheia, eu explico. Porque aí elas provavelmente, se esbarrariam em algum momento.

Bárbara Passos acabava de sair de uma festa, a mesma não bebeu, não fumou ou sequer beijou alguém. Ela estava tendo problemas em casa e acho que isso já explicava tudo. Não pensou em pegar um táxi aquele dia, pois achou melhor ir caminhando para esfriar a cabeça. Sua mãe sequer ligava em ir busca - lá nas suas saídas e a amiga que tinha a levado, estava muito bêbada para traze - lá. Caminhando de volta para a casa, Bárbara pode perceber que na rua não tinha ninguém e ventava bastante. Mas aí, do nada, ela vê um flash em seu rosto e depois escuta um click. Mas que merda é essa? Ela pensa. Pois bem, Carolina Marzin passava por ali.

- O que foi isso? - Bárbara grita apavorada.

- Oi, moça. Eu te achei muito linda, por isso a foto. - Responde Carolina calma, como quem não quer nada.

- Acha que pode tirar uma foto minha, só porque eu sou bonita? - Bárbara já começa a ter indícios de quem vai perder a paciência.

- Eu disse linda, - fez aspas com a mão - mas pode chamar assim se quiser. E sim, foi só por isso. - Carolina explica - Acha que eu não vou me incomodar com o fato, de uma pessoa tirar uma foto minha se nem a conheço? Olha, eu me importo. Então, por favor apague. - Diz Bárbara, batendo o pé e apontando o dedo para Carolina.

- Prazer, meu nome é Carolina Voltan Marzin. Tenho 24 anos e sou formada em administração de empresas, mas meu hobby é ser fotógrafa. Pronto, agora me conhece, será que posso ficar com a foto? - Diz ela balançando a câmera de um lado para o outro.

- Mas, o que? Que parte de eu gosto de ter privacidade você não entendeu? - Fala ela gesticulando com as mãos - Mas ficou tão bonita, veja - Carolina estende a câmera para que Bárbara possa olhar a foto.

- É, ficou bonita mesmo. - Bárbara se impressiona - Eu não disse? - Carolina se convence - Isso não quer dizer que vai ficar com ela, já pedi para apagar. - Carolina volta seu olhar para a câmera e clica no botão de deletar - Ok, desculpa se invadi sua privacidade. - Ela se desculpa.

Bárbara não se deu o trabalho de dizer adeus, passou por Carolina como um vulto e desapareceu entre as esquinas como um sopro. Deixando para trás uma Carolina inquieta e abismada.

A verdade era que Carolina gostava muito de tirar fotos de tudo, seja uma ponte, um pássaro, ambientes e até mesmo estradas, entre outras coisas. Mas nunca chegou em ninguém desconhecido, do nada e disparou o flash. Ficou se perguntando do porquê fez isso com a garota, tentou buscar na mente o que lhe passou pela cabeça quando em algum momento pensou que poderia ser considerado normal, tirar foto de alguém que mal conhece. Percebeu que tentar entender aquilo seria desperdício de tempo e foi se embora para a casa.

Se algo não tivesse a empurrado para cometer tal ato, nunca teria tirado foto de uma pessoa tão linda.

Você acredita que os opostos se atraem? Certamente já citei que Bárbara e Carolina são bem diferentes, mas talvez não tenha me aprofundado nesse fato. A diferença de popularidade na escola entre Bárbara e Carolina era gritante, enquanto uma bebia e transava nas inúmeras festas que aconteciam, a outra vivia dentro da biblioteca. Enquanto uma amava histórias e conhecimento, a outra amava aventuras e coisas proibidas. Enquanto uma era controlada pelos pais até pelo horário que chegava em casa, a outra não tinha pai e não se entendia com a mãe. Enquanto uma ganhava a coroa de rainha do baile, a outra estava na igreja. Enquanto uma ralava o joelho aprendendo a andar de bicicleta, a outra desenhava. Se uma prefere preto a outra prefere branco, se uma prefere café a outra prefere leite, se uma prefere dormir a outra prefere comer.

Literalmente, elas não são nada parecidas. Mas aí é que está a graça né? Talvez seja um pouco difícil de conviver nos primeiros momentos, mas depois você acostuma. Você aprende a pensar diferente e explorar outras possibilidades, quando alguém faz você questionar as suas próprias. E com o tempo as duas aprendem juntas a dividir e compartilhar ideias.

Se uma gosta de preto e a outra de branco, façam um xadrez. Se uma prefere café e a outra leite, façam um café com leite. Se uma prefere dormir e a outra comer, comam e depois durmam. Dizem que na vida tudo tem solução, basta você querer que dê certo.

(...)

Naquela madrugada Bárbara disse a Carolina para apagar sua foto e a mesma o fez. Mas na cabeça de Carolina, Bárbara não disse que ao chegar em casa ela não poderia recuperar a foto, disse? São diferentes até em questão de teimosia, quem ocupa esse posto é Bárbara mas parece que naquele dia tudo estava do avesso. Pois Carolina tinha acabado de imprimir através de seu computador a foto da mais nova. Era linda, Carolina não conseguia parar de admira - lá. Olhando para o teto preto de seu quarto logo adormeceu e acabou dormindo abraçada a imagem da mulher de olhos castanhos.

Bárbara chegou em casa bufando, não viu ninguém na sala e logo subiu para seu quarto. Tomou banho ainda resmungando do acontecimento de agora a pouco, queria saber como as pessoas tem a audácia de tamanho absurdo. Logo depois, vestiu suas bermudas esportivas de dormir, uma regada malpassada e deitou em sua cama de solteira. Só quando colocou a cabeça no travesseiro que notou como Carolina era bonita. Lembrou dos detalhes dela, de sua boca, da forma como agia, como explicava, mas principalmente lembrou - se dos olhos verdes tão intensos da americana. Antes de dormir, imaginou como seria transar com aquela mulher.

*

twitter: clbvfan

Coward (PAUSADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora