Havia passado já um ano, e não sabia nada sobre a Nika, nenhum sinal dela.
Comecei a pensar, se tudo havia dado errado, talvez havia sido por culpa minha, talvez tivesse acelerado as coisas demais, talvez deveria ter esperado ela se curar por completo de todas suas feridas.
Tudo havia voltado como o de costume, as mesmas rotinas. Foi aí que havia percebido que talvez ela tivesse razão, eu precisava sair daí, do mesmo lugar, nem que fosse por um pouco, para respirar um novo ar e me encontrar em um bom lugar.
Em uma manhã de cacimbo, havia acordado com uma má disposição. Quase que nem queria levantar da cama, mas acabei levantando e indo trabalhar. Quando cheguei, encontrei uma encomenda, bem embrulhada. Estava escrita:
"Para Léo
No caixa 2"
Fiquei surpreso, já que não conseguia imaginar de quem era a encomenda ou o que era. O embrulho era grande, mas leve.
No mesmo instante passou um colega, que disse que a encomenda havia chegado bem cedo e que era especificamente para mim. Fiquei curioso para saber o que era e de quem era. Havia pegado o embrulho e ido nas loja. Me sentei em um cadeirão abandonado que havia lá. Desfiz o embrulho, e abri a caixa que o embrulho forrava. Era uma caixa de papelão. Lá havia garrafas de plástico, com várias coisas dentro das garrafas, havia areia, flores, água e muitas outras coisas. Pareciam ter sido colocadas com muito cuidado. Também havia um bilhete. Era a Nika. O bilhete dizia:
"Oi Léo
Deixe - me começar por me desculpar. Desculpa pela nossa última conversa ter terminado daquele jeito.
Eu estava desapontada comigo e frustrada, nunca quis te magoar com minhas palavras, e espero que saiba isso. A culpa não era sua.
Eu sei, desapareci sem resolver as coisas. Como eu disse, eu precisava sair daí, ir embora, mas não sabia para onde, então eu só fui, e nos últimos meses, acabei por me encontrar em lugares fantásticos que eu nunca sonhei ver, e gostaria de partilha - las contigo.
A areia na garrafa é do deserto do Namibe, a água na garrafa é das Quedas de Calandula, umas das flores é da Floresta do Mayombe, e muitas outras coisas são das 18 províncias. Ah, tem uma garrafa que parece vazia, essa é a minha favorita é um pouco de nuvem que peguei no Morro do Môco, e tinhas razão é um lugar incrível.
Léo, preciso que me faças algo por mim. Preciso que retornes todas essas coisas para os lugares de onde vieram. Sei que parece loucura, e eu entendo se não quiseres ir, mas eu prometo que se ires, não irás te arrepender.
Você me deu amizade, carinho, amor e cuidado em uma época difícil para mim, e essa é a minha maneira de dizer obrigado.
Não sei quando ou como nos voltaremos a ver outra vez, tudo o que eu sei é que quando acontecer, nós teremos crescido de um jeito que nunca imaginamos. Por agora estou na ilha de Luanda, e espero que nessa aventura, você encontre um bom lugar. Um bom lugar como esse.
Com amor, Nika.
