Capítulo Um

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LILY

Dor

É somente o que sinto a exatos 11 meses, ao olhar para cada canto desta casa que um dia já foi meu lar.

"Lar"

Mamãe sempre me disse que lar é onde mora o coração. Que talvez não seja onde mas sim quem.

- Ah mamãe se você soubesse a falta que faz - um suspiro pesaroso escapou dos meus lábios.

Sim, mamãe faleceu, e hoje completa 11 meses, em que de repente você acorda, e passa por um dia comum como todos os outros... ou talvez não.

Era um dia comum, até eu receber uma ligação com a notícia que mamãe havia simplesmente caído no chão mercadinho que fica a uns bons minutos longe de casa. Uma mulher que se encontrava no local fazendo compras viu e socorreu. Ligaram para a ambulância e logo foi atendida e prestado os primeiros socorros e foi ai que eu cheguei e a vi.

Mamãe ainda disse que me amava uma última vez, eu me lembro, dentro daquele momento presa em uma espécie de choque, da incredulidade, eu lembro.

- Eu te amo meu raio de sol.

- Mamãe...

E então ela se foi.

Eu fui burra, fui estúpida e ainda me culpo, me xingo por não ter dito que a amava naquele momento também. Ou talvez eu só não tivesse tido tempo.

É engraçado não é?

Procuramos nos importar tanto com dinheiro, beleza e futilidades. Mas eu ouvi uma vez em um filme e aquela frase ficou na minha memória: "Tudo o que nós temos e nos resta de mais precioso é o Tempo".

E hoje eu entendo. Eu queria ter tido mais tempo, com ela, a mulher que me deu a vida, que me criou sozinha, deu tudo de si, trabalhou e nos sustentou do seu próprio esforço. Sempre com amor, respeito e honra, valores estes que ela me ensinou.

É ruim olhar pra essa casa e vê - la em cada móvel, com seu sorriso alegre que contrastava com seu olhar cansado, e as marquinhas que o tempo havia feito questão de deixar claro, que aquela mulher era uma guerreira e vivida, embora em seus 50 anos, mamãe fosse muito bonita e não lhe dariam mais que 35 anos.

Depois que partiu tudo que me restou foram as memórias. Essas mesmas que estão presentes em cada pertence seu para comprovar que ela esteve aqui, que existiu.

Suspirando em meio as lágrimas que banham e descem sem permissão pelo meu rosto, eu entendi que deveria seguir em frente.

- Tudo que me restou foram as lembranças, e é nelas que eu vou me apegar e jamais soltar - falo segurando o peito como isso fosse aliviar a dor que sinto - mamãe você partiu mas estará sempre aqui e na minha mente, me fortalecerei com as suas memórias ainda vívidas em mim, irei viver, mas viver por nós duas, ter a vida feliz que planejamos aqui no jardim enquanto eu estava com a cabeça deitada em seu colo - me recordo que tinhamos este hábito desde de que eu era pequena, me lembro também que mamãe me chamava de meu raio de sol, e um sorriso triste dança em minha boca.

E aqui no jardim no quintal da casa que vivi, eu observo a lua, um hábito que se tornou comum pra mim, um refugio nas noites sufocantes de saudades.

- Vivei, amarei, e você verá mamãe, de onde quer que esteja. Verá que ainda brilharei como seu raio de sol outra vez.

Eu a perdi para um aneurisma cerebral, e o que me restou foi a solidão. Mas a partir de hoje eu prometo que tentarei todos os dias acabar com esse sentimento de vazio e frio que sinto aqui dentro de mim, e sei que conseguirei.

Any 🦋

Meu Sr. EstranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora