'eu não gosto do gu'

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Seokjin voltou para sua casa naquele sábado, depois de lavar o rosto da tinta, tentando pensar bem no que aconteceu com Yoongi. A única coisa que sabe é que o menor saiu naquele sábado sem terno, então não foi trabalhar e que Dah-ko não gosta de alguém chamado Gu.

Trocou algumas mensagens com ele, falando sobre domingo, sobre a ideia de ir ao parque e Yoongi respondeu 'tudo bem' e nada além disso.

Não se surpreendeu quando se encontraram lá e viu Yoongi com um boné sobre o rosto e maquiagem nos machucados. O baixinho que conhece não se envergonharia de uns cortes no rosto, mas ele sabe que fez isso para que Dah-ko não ficasse triste ou preocupado.

— Tio Jin! – gritou correndo na sua direção. O pequeno usa uma jardineira jeans, sapatinhos amarelos e os cabelos negros penteados debaixo de um boné quase igual ao de Yoongi. Abraçou Seokjin pelas pernas e riu. — Olha, estou igual ao appa!

— Nada disso, você está três vezes mais bonito – o segurou no colo e riu. Yoongi se sentou em um banco próximo aos brinquedos, sentindo o sol bater e o vento fresco da primavera. — Quer brincar um pouco?

— Yeee! – gritou com as mãozinhas para cima.

Assistiu os dois brincando no pequeno balanço colorido, pensando em como seu filho parece gostar tanto de Seokjin, mas é difícil não gostar dele, lembrou. Mesmo que Seokjin fosse um pentelho implicante, é uma das pessoas de melhor coração do mundo inteiro.

O que deixou Yoongi magoado. Porque acabou se envolvendo com alguém tão diferente dele?

Levou a mão ao rosto, distraído, massageando a parte inchada e parou quando Jin deixou o pequeno sozinho brincando com uma outra criança da mesma idade e se sentou ao seu lado.

— Hoje está bonito – comentou olhando para a copa das árvores. — Não acha?

— Ah, claro... faz muito tempo que não saímos de casa – sorriu de leve. — Ele nunca pede nada, então eu acabo esquecendo. Dakkie tem essa mania de não pedir, ele tem medo de desagradar ou me incomodar.

— Normal, muitas crianças são assim – levou os olhos ao amigo. — Você era assim, lembra? Na verdade, é assim até hoje, não mudou muito e isso é legal

Yoongi bufou. — Mudei sim... pra pior, infelizmente.

Dakkie ria da menina a sua frente, parece ser uma criança fofa como ele e gentil ao dividir seus brinquedos.

— Dakkie disse que não gosta de alguém chamado Gu, quem é esse?

Arregalou os olhos e piscou algumas vezes, tentando não surtar. Respirou fundo, levou a mão ao rosto e gemeu de dor ao tocar o machucado sem querer.

— Gu foi quem te machucou?

— Não pensei que ele lembraria do nome – respondeu. — Gu é um amigo meu, ele só o viu uma vez.

— O suficiente para não gostar – o fitou de canto e Yoongi franziu a boca. — Não quero estragar o dia com essas perguntas, não quero incomodar, mas fomos amigos por tantos anos, não consigo evitar me preocupar

Ajustou o boné na cabeça, observando seu filho feliz rindo com um brinquedo emprestado e a menina rindo dele.

— Yoongi, não é só por você, você tem um filho, e ele tem medo dessa pessoa... e eu gosto do Dakkie.

Ele tem razão, muita razão. Não pode pensar só nele, não pode pensar que suas ações não irão se refletir na vida de Dakkie.

Abaixou a cabeça e sentiu uma lágrima quente escorrer pelo rosto. — Tem razão... preciso pensar nele primeiro e... é tão difícil resolver, é como se eu estivesse preso

— Ele é seu namorado? – perguntou e Yoongi confirmou com a cabeça. — Sabe, eu passei a noite em claro pensando nisso, se fosse esse o caso, machucar alguém como você deveria ser pecado. Não é amor, Yoon.

— Eu nunca amei Hyung-gu.

Então, é esse o nome do cara. — E por que está com ele ainda?

Deu ombros, não sabe a resposta, é absurdo não ter controle de suas escolhas, ter se envolvido com alguém controlador e assustador como Hyung-gu.

— Yoon, ele machuca você e você não o ama, então, pense no seu menino – apontou para Dah-ko e acenou. — Ele sim é sua família e ele quase viu o pai com o rosto todo machucado.

Enquanto falava, Min chorava baixinho. Um relacionamento abusivo, é o que ele encontrou, é onde ele está. Um ciclo violento, repetitivo, cansativo e desgastante, que agora, está se expandindo, chegando em Seokjin e na pessoa que ele mais ama no mundo: seu filho.

— Relacionamentos abusivos são assim, você conhece essa expressão? Um colega meu no serviço se envolveu em um assim com a ex namorada dele, quase perdeu o emprego e tudo o que ele gosta – continuou a falar sem o ver chorar. — Essas pessoas são ruins, aproveitam um momento seu de fraqueza e tomam conta da sua alma.

Yoongi fungou alto, alisou o rosto com as mãos e Seokjin se surpreendeu ao vê-lo chorar.

— Vou terminar com ele o mais rápido possível, vou marcar um encont-

— Nada disso – levou sua mão as costas dele. — Nunca mais vai ver esse idiota. Se for sozinho, vai te convencer a ficar com ele. Termine por mensagem, senão, vou com você.

O encarou sério e Seokjin sorriu, com aqueles lábios macios empurrando suas bochechas, deveria ser terapia aquela cara tão gentil.

— Por que se preocupa tanto?

Seus olhos se encontraram, como se ambos se recordassem de passados comuns, uma amizade de anos, um amor que nunca aflorou. Seokjin respirou com calma, alisando suas costas com carinho. Contato físico, algo que Yoongi nunca teve de Seokjin, porque ele nunca deu e nunca pediu e Seokjin acreditava que o menor não gosta.

Sendo que não tem problema, Yoongi não se importa em ser tocado por alguém que ele gosta e confia.

— Appa! – Dah-ko veio correndo e mostrou o cotovelo ralado, incrível mesmo foi que ele não chorava, ele ria. — Olha, eu fiz um bubu...

— Ah, Dakkie... – o segurou no colo. — Meu filho, tem que tomar cuidado...

— Mas nem ta doendo – fez um bico e mostrou para Seokjin. — Tio, olha... agora eu to com bubu igual appa

Doeu, nossa, e como doeu. Doeu mais do que o soco que levou do namorado, mais do que qualquer coisa. Seokjin o fitou, viu sua dor no fundo dos olhos e segurou o pequeno para si.

— Vamos para casa, eu cuido do seu bubu – sorriu. — Vamos, Yoon.

Yoongi balançou a cabeça, seguindo os dois pelo parque, próximo ao prédio, sentindo o sol, o vento, percebendo que não sai de casa assim faz um tempo, Seokjin levava seu filho nos ombros, como se fosse dele, cantando uma música infantil boba.

— Vamos assistir Frozen!

— Pela vigésima vez... – Yoongi resmungou colocando as mãos no bolso. — Elza já congelou e descongelou Arendelle vinte vezes, igual o sorvete da mercearia ali perto de casa.

DAKKIE | yoonjinOnde histórias criam vida. Descubra agora