História de um Imortal 02

O Polium e a queda de Tirty

    A noite começara a cair, a neblina tomava cada vez mais a pequena vila, a ponto de ser quase impossível ver um pouco mais de 2 metros à frente. Todos estavam reunidos em um bar, até que me aproximei e abri a porta lentamente. Caminhei até o balcão e joguei sobre o mesmo uma folha.

   -Essa pessoa é quem estou procurando. Quero um serviço. – Eu disse ao que parecia ser o garçom. 

   O mesmo pegou o papel, olhou e apontou para uma porta a direita, na qual me aproximei e abri, revelando um pequeno cômodo, iluminado apenas por uma fogueira.

   -O que desejas senhor? – Uma voz ecoou por todo o cômodo.

   -Preciso de seus serviços. – Eu disse com um tom de seriedade na voz.

   -Qual o preço que estás disposto a pagar e o que você quer exatamente?

   -Eu quero encontrar um membro da Organização SM – Disse eu, jogando uma bolsa que carregava. – Sei que eles já contrataram seus serviços.

   Vi então uma silhueta se aproximando da mochila e abrindo a mesma.

   -Quanto tem aqui? – A voz ecoou mais uma vez.

   -Não perguntei aos comerciantes que roubei. – Eu disse com um tom irônico.

   -Ainda assim, quero outra dessa em troca do serviço.

   -Darei outra a você se vier comigo atrás de qualquer um deles. – Disse estendendo a mão.

   -O que você quer com a Organização SM? – A silhueta se aproximou de mim até revelar uma mulher de estatura média, com cabelos curtos e pretos.

   -Eu quero um item. Uma relíquia que eles guardam desde que criaram a organização a séculos atrás. O Polium.

   -Você deve estar de brincadeira. Sabe que isso é só uma lenda né? – A mulher disse e riu.

   -Assim como a do Lagarto Demônio que matou toda sua família no incidente de 8 anos atrás?

   A mulher rapidamente se aproximou de mim e pressionou uma faca sobre o meu pescoço.

   -Como sabe tanto sobre mim? – Ela perguntou.

   -Acha mesmo que essa era a única mochila de dinheiro que eu tinha? Mas vai em frente, corta meu pescoço! Não precisa se conter, mas tem algo que quero te dizer, a OSM está diretamente ligada ao ataque a vila. 

   A mulher afastou a faca de minha garganta e se afastou lentamente de mim.

   -Como assim? – Ela perguntou confusa.

   -O Lagarto e o Polium são reais. Nosso mundo não é tão normal quanto achamos que é. – Eu disse com um olhar sério. – Eu me chamo Kaler. Sei que não importa, mas ao menos você sabe algo sobre minha pessoa agora. E se vier comigo, darei mais dinheiro e direi tudo o que sei sobre a OSM estar ligada ao ataque.

   -O incidente a 8 anos atrás. Nunca mais volte a mencioná-lo com um tom de sarcasmo. E quanto ao seu serviço. – A mulher estendeu a mão. – Sou Helena. Um deles deve estar escondido na antiga cidade de Tirty. Eu vou com você!

   Apertei a mão dela e logo virei de costas.

   -Vamos, você não tem tempo para perder. – Disse eu, saindo do bar.

   Seguimos em direção a cidade de Tirty que não ficava muito longe de onde estávamos. Caminhamos até encontrar os muros quase destruídos da cidade.

   -Então foi aqui que o acidente aconteceu. – Eu disse olhando ao redor.

   Me aproximei da primeira casa que vi, já em pedaços, retirei de um dos meus bolsos uma semente e plantei a mesma na frente da casa como forma de trazer a vida a um lugar tão deserto.

   -O que você está fazendo? – Perguntou Helena um pouco confusa.

   -Nada demais. O que de fato aconteceu aqui? – Perguntei com um tom triste.

   -Eu não sei exatamente, eu apenas fugi daqui.

   -Desembucha logo, acha mesmo que vou te julgar ou achar que está mentindo? Eu estou atrás de um item que concede qualquer desejo que eu quiser. Não tenho moral para te julgar.

   -Um grupo de demônios atacou a cidade. Não sei o motivo, mas mataram todos, inclusive a mim.

   -E como você ainda está viva? – Me perguntei se ela seria uma imortal como das lendas que ouvi.

   -Essa é a parte que eu não consigo explicar.

   -Tente do início! – Eu disse curioso.

[Oito anos atrás]

    -Helena, você vai se atrasar mocinha. – Ouvi uma voz feminina gritar ao longe.

    -Já estou indo mãe, só mais cinco minutinhos! – Gritei levantando da cama.

    Arrumei-me e logo desci para a cozinha.

    -O que tem hoje para o café da manhã? – Perguntei entusiasmada.

    -Está na mesa, coma e vá para a escola. – Meu pai disse levantando da mesa e indo para a sala.

    Após comer, fui para a escola e no caminho toda a tragédia aconteceu. Não sei bem o que eram aquelas coisas, mas não eram humanos, ao menos não mais.

    Um deles notou minha presença e então comecei a correr, mas ele era mais rápido do que eu. Com apenas um golpe eu caí no chão e senti o mesmo rasgar meu tórax com as garras. Desmaiei, e quando milagrosamente acordei, vi de pé diante de mim um lagarto de dois metros de altura, bípede, e que carregava consigo uma espada. Achei que eu morreria ali mesmo, mas diferente do que eu havia pensado, o lagarto virou as costas e foi embora. A cidade estava completamente destruída e eu podia ver vários corpos na rua. Minha casa estava destruída e minha família estava morta. Meu peitoral ardia como se estivesse em chamas.

    Quando me recuperei, caminhei até a vila mais próxima, em meu peitoral, havia uma cicatriz, de um seio ao outro e no centro descia até o abdômen, formando um “T”. Não consigo entender o motivo, mas, eu ganhei mais força, velocidade e agilidade. Demorou um tempo para eu parar de me perguntar o que havia acontecido naquele dia e apenas aceitar que aqueles seres não eram humanos, e que restou apenas a mim, da antiga cidade de Tirty.

    Comecei a usar minhas novas habilidades para ganho próprio. Tornei-me uma mercenária.

 [Dias atuais]

    -Então o lagarto não te matou? – Perguntei a Helena.

    -Eu não sei qual a motivação dele, talvez seja me fazer sofrer lembrando tudo o que aconteceu, mas também não entendo a força que ganhei. – Helena disse pensativa e um pouco abalada. – Mas o que você vai pedir ao Polium se conseguir ele?

    -Vou pedir a vida. – Eu disse.

    -O maior desejo da humanidade é de fato a vida eterna. Você tem certeza que quer ser imortal? – Helena perguntou com um sorriso no rosto.

    -Seu humor muda tão rápido assim mesmo? –Perguntei.

    -Isso não responde minha pergunta. – Helena sussurrou.

    -Mas por fim, onde está o tal membro da Organização SM que você falou? – Perguntei e senti algo em minha garganta.

    -Como pôde trair nossa Organização? – Um homem perguntou a Helena enquanto segurava uma faca em meu pescoço.