Com as mãos baixas para não assustar o homem que estava com uma faca em meu pescoço, comecei a pensar em uma maneira de escapar.
-Olha, se ela traiu vocês, então essa faca deveria estar no pescoço dela, e não no meu. – Eu disse com um tom sarcástico e senti a faca ser pressionada com um pouco mais de força. – Não está mais aqui quem falou.
-Trair a Organização? Eu nunca me aliei a vocês. Apenas estava fazendo meu trabalho. – Helena disse.
-Cuidado com as palavras ou ele morre. – O homem disse.
Antes que eu pudesse ver ou entender alguma coisa, Helena se aproximou de nós e puxou o braço do homem e a faca para longe de minha garganta, foi para trás do homem e o derrubou no chão.
-Eu nunca me aliei a vocês, principalmente agora que sei que estão ligados ao que aconteceu aqui oito anos atrás. – Helena disse com seriedade no olhar.
Ela não parecia mais a mesma mulher que eu vi a pouco tempo atrás. Ela esbanjava uma aura péssima, só de sentir me fez ter vontade de recuar.
-Se me permite, preciso fazer umas perguntas a ele. – Eu disse virando na direção de Helena que ficou em silêncio. – Vou ser direto, afinal, odeio enrolações. Onde está o Polium? E quantos de vocês atuam na capital?
O homem permaneceu calado.
-Se não fosse assim também nem teria graça. – Eu disse pegando a faca do mesmo no chão.
-O Polium está no país do leste. – O homem disse parecendo estar desesperado. – Eu nem sou tão ligado a eles, mas a um mês atrás me deram uma lista com quatro itens lendários, mas eu só lembro dois deles, o Polium no país do leste com o nosso líder e... - O homem se interrompeu ao perceber que falara demais.
-Qual é o segundo item? – Eu disse apontando a faca na direção do homem que estava no chão.
-O Colar de Ossos. – O homem disse com um tom de sofrimento na voz.
-Helena, você está sufocando-o. – Eu disse ao ver que ela estava com a mão no pescoço do mesmo.
Quando Helena afastou sua mão, pude perceber uma área um pouco queimada no pescoço do homem onde Helena estava segurando, fazendo um contorno exato da mão dela, talvez o desespero dele viesse dali, preferi não comentar nada com Helena no momento. A aura que emanava dela ainda era assustadora.
-É você quem quer o Polium? – O homem perguntou virando o rosto em minha direção. – Você realmente quer usar um objeto criado por um demônio? A missão da Organização é proteger a todos os humanos do mundo demoníaco, para que não se tornem pessoas ambiciosas como você.
-Ambicioso? – Sussurrei. – Quer nos proteger assim como protegeu essa cidade? Vocês não passam de idiotas colecionando itens demoníacos para se protegerem dos próprios demônios por puro medo.
-O que vai pedir? A vida eterna? Realmente acha que vale a pena viver e ver todos morrerem? Todo mundo indo embora e você torcendo para ir junto sem poder. Você sabe como é essa dor? – O homem perguntou com raiva no olhar.
-Eu já me decidi, eu quero o Polium. – Sussurrei novamente. – Ninguém vai me impedir de pegá-lo. E aquele que tentar conhecerá a morte antes do que de fato deveria! – Elevei a voz.
-É por causa de pessoas como você que nós existimos. Gananciosos que fazem de tudo para conseguir a vida eterna e não se importa em tirar a vida de todos para fazê-lo. – O homem disse.
Me aproximei lentamente do mesmo que estava imobilizado por Helena, pousei a faca ao lado de sua cabeça, abri a boca do mesmo que tentou impedir, mas sem sucesso, peguei a faca e coloquei em sua boca empurrando a mesma para dentro.
-Ganancioso? Sim, eu sou ganancioso. E eu vou ter o Polium, eu prometo em nome da minha ganância. E talvez assim com a faca dentro da sua garganta você pare de falar tanta besteira. – Disse eu me virando. – Vamos Helena, preciso te pagar e contar tudo o que sei.
Helena caminhou na direção da vila e comecei a segui-la. Agora que eu sabia onde estava o Polium, era só questão de tempo até ele estar em minhas mãos e eu finalmente vou poder ter o que tanto desejo.
Se bem que às vezes me pergunto se eu de fato devo tê-lo, afinal, a vida sempre tende a acabar independente de desejos ou poderes.
-Eu vou com você para o país do leste. Preciso resolver algumas coisas com o líder deles. Seu pagamento será me suportar. – Helena disse enquanto caminhava.
Permaneci em silêncio por um tempo, fazia tanto tempo que alguém não se juntava a mim em uma jornada ou algo assim que eu já não sabia mais como reagir, senti a aura ruim de Helena melhorando aos poucos, tudo ao redor parecia estar mais tranquilo.
-Já pode ir me dizendo o que sabe sobre a Organização Kaler.
-A Organização atraiu os demônios até Tirty, pois achavam que ia ter menos impacto, tendo em mente que nenhuma das suas bases ou seus itens estavam nessa cidade. O que atacou essa cidade são demônios conhecidos como sangrentos. Esses demônios são na verdade humanos que foram mordidos por Noturnos, outro tipo de demônios. Se o humano sobreviver a mordida de um Noturno, ele se torna um sangrento. Os sangrentos têm forças e velocidades absurdas, e uma vez a cada meio ano sentem muita fome, e vão caçar, normalmente caçam sozinhos, mas dessa vez juntaram mais e foram em grupo. Por isso sua cidade foi destruída. Por isso e pelo demônio que estava liderando-os, o Lagarto Demônio.
-Você acha que o Lagarto era um Noturno? – Helena perguntou um pouco confusa.
-Não, já ouvi muitas histórias sobre esse Lagarto. Uma delas é a que diz que certa vez ele acabou com uma guerra entre anjos e demônios.
-Ele matou todos os anjos? – Helena perguntou.
-E todos os demônios que estavam na guerra também, a verdade é que se você viu esse Lagarto alguma vez, você só está viva porquê ele quis.
Seguimos o resto do caminho até a vila em silêncio, Helena parecia estar absorvendo toda informação que passei, quanto a mim, só não queria conversar mesmo. Chegando na vila arrumamos nossas coisas e descansamos, partiríamos ao amanhecer, arrumei um local para ficar e adormeci.
Acordei um pouco tonto, como se tivesse bebido muito na noite passada, procurei a porta mais próxima para fora de onde eu estava e quando saí eu vi em minha frente alguém familiar. Seus longos cabelos castanhos voavam por causa do vento e seus olhos claros me fitavam com intensidade.
-Você... Não, isso não é real, não vou me deixar levar por isso mais uma vez! – Eu disse gritando e tentando acordar.
Acordei gritando e ao meu lado estava Helena, um pouco assustada.
-Você está bem Kaler? – Ela perguntou levantando-se de sua poltrona.
-Estou, foi só um sonho ruim.
-Estava sonhando com alguém que você matou? – Helena perguntou se transformando na mesma moça com a qual eu havia sonhado.
Demorei alguns segundos até entender que eu não acordara de fato, mas enquanto não acordava eu vi aqueles olhos, novamente me fitando com cada vez mais intensidade, até que a moça sorriu e uma lágrima escorria em seu rosto.
Acordei em uma cabana um pouco afastada da vila, e logo percebi que de fato estava acordado por lembrar que fui dormir ali. Rapidamente me aprontei e fui ao encontro de Helena para irmos ao país do leste.
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História de um Imortal 02
AdventureKaler, um homem que busca por um item que pode realizar desejos, junto com Helena, uma mulher que quer descobrir a verdade por trás da destruição de toda sua cidade. A jornada de ambos se coincide os levando ao mesmo lugar, a Organização SM.