Transformation e a Grande Okakeva

21 1 0
                                    

     Vi então o Lagarto se aproximando lentamente de nós, Helena não parava de se contorcer e gritar de dor, quanto a mim, estava paralisado, a presença daquela coisa era muito pior do que qualquer sensação que qualquer ser vivo possa ter em toda sua vida, ou até mesmo beirando a morte.

     Peguei uma faca que guardo na cintura, e apontei a mesma para o Lagarto. Eu sabia que não adiantaria de nada fazer aquilo, se o poder dele fosse igual ao que diziam as lendas, nós só estávamos vivos por que ele queria. Respirei fundo e corri em sua direção, tentei cortá-lo varias vezes com a faca, mas o mesmo desviava de todos meus golpes com facilidade.

     Em dado momento o mesmo se descuidou, parecia muito ser proposital. Ele não atacava, apenas desviava de meus golpes, ele estava apenas brincando comigo. Quando eu finalmente ia acertá-lo, ele levantou a mão e do chão saiu algo como uma agulha feita de osso, a mesma cravou em meu pulso e então eu paralisei.

     -Não consigo me mexer, ele deve possuir manipulação óssea. - Pensei - Consegue lançar, expor ossos de seu corpo, e se uma pessoa estiver com o osso exposto, poderá controlar a mesma, como marionetes. Por isso essa agulha é feita de osso.

     Era apenas uma teoria que pude confirmar quando o mesmo fez surgir do chão um esqueleto e usou o mesmo para atacar Helena, que estava se levantando como se não estivesse mais sentindo dor.

     Helena correu na direção do esqueleto e deu um soco no mesmo, que parecia nem ter sentido, enquanto isso o Lagarto caminhou lentamente em minha direção e olhou em meus olhos.

     -Eu sei o que você quer, e só quero avisar que se você perder o controle, eu não vou hesitar em te matar. - O Lagarto disse.

     Olhando com atenção eu pude notar algumas coisas. Do lado direito da cintura do lagarto estava uma espada de osso, do lado esquerdo estava um colar, também feito de ossos. Em seu peitoral havia uma cicatriz muito grande em formato de "T".

     -Quanto a garota - O Lagarto disse. - Se fizer algum mal a ela, o menor que seja, eu recomendo que se esconda enquanto pode. Pois eu juro pelo meu nome, Transformation, que eu vou apagar sua existência.

     Agora eu entendi o motivo de ainda estarmos vivos, era Helena quem ele queria, e a queria viva. Quando me dei conta o Lagarto desapareceu e eu recuperei meus movimentos, logo me virei para ajudar Helena e vi a mesma quebrando osso por osso daquele esqueleto que foi atacá-la.

     -Você está bem? - Perguntei.

     -Acho que sim, precisamos sair logo daqui! - Helena disse e voltou a caminhar para o leste.

     Segui Helena, meu pulso doía como nunca, retirei de um dos bolsos uma atadura e a enrolei em meu braço que ainda sangrava graças a agulha. Eu ainda estava tentando entender o motivo da aparição dele e o que Helena tinha de tão importante para ele. Talvez ele se culpasse por ter destruído toda a cidade dela e queria protegê-la para diminuir o peso em sua consciência, o que parando para pensar não faz sentido algum.

     -Vamos descansar por agora. - Eu disse indo na dreção de uma casa destruída.

     -Essa noite eu não vou parar de andar, na verdade eu só vou parar de andar quando sair daqui. - Helena disse e seguiu sem mim.

     Corri na direção da mesma e a acompanhei, caminhamos até o amanhecer e só então lembrei de Marcello.

     -Helena, você não acha que deveríamos esperar o Marcello? - Perguntei.

     -Não, talvez ele não esteja mais vivo. - Helena disse. - E já estamos quase no fim dessa cidade.

     Decidi não discutir por isso, ela poderia não estar se sentindo bem nesse lugar e quanto mais rápido eu chegar até o Polium, melhor será para mim.

     -Kaler, você morreria por alguém? - Helena perguntou com um tom de timidez na voz.

     -Como assim? - Perguntei sem entender.

     -Esquece, besteira minha, afinal, você está em busca da vida eterna. - Helena disse.

     Após caminhar mais um pouco chegamos na fronteira da cidade de Tirty com a Grande Okakeva.

     -Enfim, Grande Okakeva, a  maior cidade das proximidades, perdia apenas para a Antiga Tirty. O homem disse que o Polium estaria no país do leste, não vejo cidade melhor para ele do que essa aqui. - Eu disse sentando no primeiro banco que vi.

     -Eu ouvi dizer que essa cidade só começou a prosperar a sete anos atrás. - Helena disse se jogando no banco. - um ano depois da queda de Tirty, se a OSM está envolvida com a queda de Tirty, também deve estar envolvida com o crescimento de Grande Okakeva.

     -Sem o comércio de Tirty, as outras cidades foram obrigadas a comprar dessa aqui. O problema é maior do que pensavamos. - Pensei. - Não vão reconstruir Tirty? - Perguntei a Helena.

     -Apesar da alta econômia que Tirty tinha, tanto pela localização, quanto a matéria prima. Eles preferiram não reconstruir por medo de haver outro ataque tendo em mente que o único local a ser atacado foi Tirty, não houve nenhum prejuízo a outra vila ou cidade próxima, foi apenas em Tirty. E muitas pessoas sumiram enquanto transitavam por Tirty. - Helena disse deitando a cabeça em minha coxa.

     -O que você tá fazendo? - Perguntei.

     -Eu tô caminhando a mais de um dia. - Helena disse com voz de sono. - Não seja cruel, deixe-me descansar.

     -Era só o que faltava mesmo. - Eu disse. - Vou aproveitar para descansar também. - Pensei fechando os olhos.

     ...

     Abri os olhos e vi em minha frente o corpo de uma mulher caído ao chão, senti minhas mãos formigarem e minha vista escureceu.

     -O que eu fiz? - Me perguntei e senti lágrimas escorrerem pelo meu rosto. - O que eu fiz?...

     Ouvi algumas risadas ao longe, quando desviei meu olhar para onde vinham as mesmas vi um ser, completamente branco e com asas, olhos negros. Era um sombrio. Um demônio que vive no corpo de um humano.

     -Parabéns por matá-la Ka... - O Sombrio foi interrompido por um soco dado por mim.

     -Não ouse completar essa frase! - Eu disse.

     Meu pulso começou a arder como se estivesse pegando fogo e então acordei sentindo dor no pulso por conta da agulha de osso. Olhei para meu colo e Helena ainda estava dormindo nele, o sol estava nascendo.

     -Por quanto tempo eu dormi? - Me perguntei.

História de um Imortal 02Onde histórias criam vida. Descubra agora