O Conselheiro e o Andarilho Desconhecido

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     Permaneci no banco vendo que Helena ainda estava dormindo, mas a mesma não demorou muito para acordar.

     -Estava com tanto sono assim? - Perguntei olhando para Helena ainda com a cabeça em minha coxa.

     Vi a mesma corar e rapidamente se levantou.

     -Eu dormi muito? - Helena perguntou.

     -E isso importa? - Perguntei levantando-me - Agora vamos, quanto antes encontrarmos a OSM melhor será.- Eu disse seguindo para o centro da cidade.

     -E como pretende encontrá-los? - Helena perguntou e me seguiu.

     -Segundo você mesma, essa cidade começou a prosperar depois da queda de Tirty, logo, a pessoa que governa essa cidade deve ter algum envolvimento com a Organização. Segundo o conselho desse país, as cidades devem ser governadas por um líder e um conselheiro. - Eu disse.

     -O líder pode estar em qualquer lugar da cidade, já o conselheiro fica o dia inteiro na casa líder. - Helena disse.

     A cidade estava bem movimentada, pessoas de todos os tipos se encontravam na rua, mas uma pessoa em específico me chamou a atenção, estava vestida com um manto completamente branco e capuz, e usava uma máscara que cobria completamente seu rosto.

      -O que é aquilo? - Perguntei para Helena.

     -Um guardião, os que vestem branco são aqueles que foram ordenados a fazer algo para o Conselheiro, tendo em mente que o mesmo não pode sair da casa líder até finalizar seu turno de trabalho.

     -Onde fica a casa líder? - Perguntei.

     -Não sei, vamos seguir ele para descobrir. - Helena respondeu.

     Começamos a seguir o guardião que não demorou a notar que estava sendo seguido, o mesmo parou e ficou imóvel por um bom tempo enquanto olhava em nossa direção.

     Segui andando calmamente até o mesmo.

     -Onde fica a casa Líder? Somos do país do oeste e gostaríamos de falar com o conselheiro. - Perguntei notando certo brilho que vinha de trás de seu manto. Deduzi que era uma espada ou uma faca. - Não quero confusão, apenas algumas informações sobre a Grande Okakeva.

     -Entendo... - Uma voz masculina soou por detrás da máscara. - Apenas continuem a fazer o que estavam fazendo.

     -Como assim? - Perguntei confuso.

     -Me sigam. - O homem disse e voltou a caminhar.

     Seguimos até uma construção no que parecia ser o centro da cidade. O homem seguiu até uma sala, pude perceber três portas fechadas, o homem de manto apontou para uma delas e então entrei junto de Helena.

     -Bom dia. - Um homem bem trajado disse olhando em nossa direção.

     -Bom dia. - Respondemos em coro.

     -Não os conheço da cidade, são estrangeiros? Possuem alguma reclamação de algo da cidade? - O homem perguntou.

     Ele falava de forma tão normal como se aquilo ocorresse todos os dias, era como um texto ensaiado.

     -Deveríamos ter alguma reclamação? - Helena perguntou.

     -De modo algum, apenas estou preocupado com a imagem que passamos para as cidades vizinhas.

     -Bom, ao menos eu não tenho reclamações, parece ser uma cidade bem próspera. Mas não estamos aqui para reclamar ou elogiar, queremos falar com o Líder.

     -No momento o mesmo não se encontra, mas como Conselheiro, eu assumo o cargo de Líder quando o mesmo não está por aqui, então podem tratar de qualquer assunto comigo.

     -Queremos saber de Tirty, vocês devem ter os registros comerciais ou coisas do tipo, gostaríamos de informações sobre a trágica destruição de Tirty. - Eu disse.

     -Bom, as informações públicas estão na biblioteca da cidade. Obviamente não podemos mostrar os registros comerciais, principalmente com Tirty.

     -Agora sim eu tenho uma reclamação a fazer da cidade. - Helena disse.

     -Qual seria? - O homem perguntou.

     -Vocês não permitem aos comerciantes mais importantes do norte ver os registros de negociações com Tirty, para quem sabe podermos fazer tantas negociações quanto Tirty, e tornar Grande Okakeva maior ainda na questão comercial e territorial. - Helena disse confiante.

     -O que procuram está na biblioteca pública, e para a informação de vocês, nós fechamos o comércio com o norte na semana passada, com o acordo de não reerguer as negociações por um ano. Procurem se informar mais antes de mentirem assim. - O Conselheiro disse esticando a mão na direção da porta.

     Saímos da casa Líder e fomos em busca da biblioteca.

     -E eu lá ia saber das questões comerciais de Grande Okakeva com o norte. Pelo menos eu tentei. - Helena disse tentando se explicar. - Mas se quiser podemos invadir a biblioteca da casa líder.

     -Não, chega de invasão a propriedade na minha vida. - Eu disse revirando os olhos.

     -Lembre-se que não pagou o que me devia, e outra, isso vai valer tanto para mim, quanto para você. - Helena insistiu.

     Honestamente, eu queria muito invadir aquele local, mas estava tentando me convencer de que só estava indo por Helena ter insistido. Mas seguimos procurando a biblioteca para ver o que poderíamos ter de informação inicial.

     A cidade era bem movimentada, tudo nela parecia estar indo muito bem, pessoas se reuniam em praças, crianças brincavam em alguns parques, toda aquela cena feliz, ofuscava aos poucos as terríveis imagens de Tirty completamente destruída. Bom, ao menos em minha mente. Já para Helena, aquilo so fazia a mesma se lembrar cada vez mais de como era sua cidade, eu pude perceber isso pelo olhar distante da mesma.

     Procurando a biblioteca, acabamos por achar uma cafeteria, na qual paramos para comer algo. Pedimos um bom café com torradas, que comemos rapidamente e voltamos a buscar pela biblioteca.

     Enquanto caminhava, acabamos por chegar em um campo, ao final do mesmo havia neblina, olhei para todos os lados, ao longe me deparei com uma figura esquisita em meio a névoa, um ser que vestia um longo manto com capuz. Ele caminhava lentamente e um pouco desengonçado em direção contraria a nossa, quase desaparecendo na neblina.

     -Helena, consegue ver ali? No fim da neblina. - Eu perguntei sussurrando.

     -O que você acha que é aquilo? - Ela perguntou.

     -Não sei mas vou descobrir.

     Por causa de uma enorme curiosidade, comecei a correr na direção de tal ser, sem me preocupar com consequencias ou coisas do tipo. Helena me seguiu. Conforme eu corria, a criatura ficava mais nítida, seu manto se mostrou aos trapos, eu estava chegando perto quando a criatura sumiu, e no final da neblina pude ver uma silhueta de um lagarto gigante, era o lagarto demônio, e ao seu lado estava a silhueta de uma mulher, seus longos cabelos voavam ao vento, e uma voz sussurrou em minha mente.

     -Eu ainda espero o momento em que nos reencontraremos.

     Minha vista começou a escurecer, por um momento eu não sentia mais a minha perna, na verdade, a única coisa que eu sentia era o meu braço queimando, no local onde a agulha havia entrado, caí no chão e a última cena que vi foi aquele ser, caminhando lentamente ao meu lado, e a voz sussurrou novamente em meu ouvido.

     -Espero ansiosamente.

História de um Imortal 02Onde histórias criam vida. Descubra agora