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Me afastei um pouco de Taehyun, sem desfazer o abraço, e observei seus olhos, que aparentavam esconder um universo inteiro, e refleti sobre como eu me perderia facilmente nesse olhar.

- A verdade é que eu também senti saudades - confessei.- Fiquei ansioso durante cada segundo até agora.

- Então acho melhor nos divertirmos muito hoje, já que eu também contei os minutos até agora - o mais novo disse, cruzando os braços.

- E você já ficou entediado em algum momento em que esteve comigo? - ele negou. - Então vamos entrar logo e jogar com três estranhos.

Ele riu e indicou que eu entrasse primeiro. Escolhemos dois computadores que ficavam um ao lado do outro e nós sentamos nas cadeiras. Após alguns minutos já estávamos na última rodada da primeira partida e, felizmente, estávamos ganhando.

- Ah! - Taehyun suspirou, pela décima vez. - Por que eu morri tão rápido outra vez?

- Você tá jogando errado. - Eu ri. - Não pode sair correndo e atirando que nem um louco como faz em CoD. - Expliquei, enquanto mantinha os olhos na tela. - Quando você corre, os inimigos podem te escutar. E atirar parado dá mais precisão.

- Se é assim, eu não gostei desse jogo.

- Podemos jogar outro quando a partida acabar.

- Certo, nós vamos jogar CS:GO

Voltei minha atenção ao jogo enquanto o mais novo observava. Quando estava terminando de implantar a bomba, um questionamento surgiu em minha mente, então eu perguntei ao Kang, sem hesitar:

- Seus pais sabem sobre nós dois?

- Eu ainda não falei sobre nosso relacionamento para eles. Minha mãe sabe da minha sexualidade e me apoia em tudo, - Começou a dizer, mordendo o lábio em seguida, com certeza aquele deveria ser um assunto complicado. - mas meu pai com certeza não vai aceitar isso bem.

- Entendo, quer dizer, eu não sei como você se sente, mas sei que é complicado. Sabe, o Soobin passa pelo mesmo. - falei, assim que vi a animação que indicava que havíamos ganhado a rodada e a partida.

- Infelizmente ter pais homofóbicos é muito comum - suspirou e passou a olhar para o monitor, abrindo o jogo que iríamos jogar agora.

 - Você sabe que pode contar comigo para tudo, não é?

- Eu sei - sorriu. - Eu já te contei que tenho um namorado incrível?

- Não, mas eu tenho certeza que ele é incrível mesmo.

- Não tem nem graça te elogiar. - Deu um tapinha em meu ombro. - Você é muito convencido.

- Vai me dizer que não falaria a mesma coisa se eu fizesse a mesma pergunta? - Ele riu, balançando a cabeça em negação. - Vou te pegar despercebido então, aí vamos ver.

- Pode tentar - se virou, voltando a atenção ao client do jogo e eu fiz o mesmo.

- Você ainda não percebeu que eu sou competitivo?

- Eu sou mais.

...

- Por que você é melhor que eu em jogos? - Taehyun perguntou, enquanto andávamos lado a lado no caminho de volta a casa do mais novo.

- Tenho talento para isso, talvez?

- Okay, eu vou aceitar isso, mas quero achar algo que eu sou melhor.

- Certo, você vai escolher algo que é bom, nós vamos sair e eu vou mostrar que sou melhor - brinquei.

- Aí eu escolho algum jogo no qual saber diferenciar as cores seja essencial.

- Isso é cruel, Tyun!

- Eu sei, eu não faria isso contigo. 

- Eu acredito em você, se lembra de quando jogamos uno? - perguntei e ele acenou. - Jogos nos quais eu preciso diferenciar cores sempre foram desesperadores, parecia uma tortura quando eu jogava. Mas naquele dia, o que você fez significou muito para mim. Eu me senti tão bem, eu me sinto a pessoa mais sortuda do mundo desde que te conheci - falei e sorriso que surgiu nos lábios do Kang só não era maior que o meu.

- Eu também me sinto assim, - ele disse, enquanto viravamos em uma esquina - te conhecer foi um dos melhores acontecimentos do ano.

- Espero que todos os nossos momentos juntos estejam entre as nossas melhores memórias. - Andamos alguns metros até parar em frente a casa de Taehyun. - Pronto, está entregue.

- Hyung, eu quero te levar para casa!

- Eu sou mais velho, - argumentei - então eu tenho que te deixar na sua casa quando saírmos.

- Se a gente considerar idade mental, eu sou mais velho. - Segurou meu braço e começou a me puxar. - Então vamos lá, vou te acompanhar pelo resto do caminho.

- Não precisa fazer isso, nós já estamos em frente a sua casa.

- Então por que você não fica comigo hoje? - propôs.

Pensei um pouco sobre isso, passar mais uma noite na casa do Kang seria muita folga da minha parte, não seria? Entretanto eu tinha certeza que o orgulho não deixaria que ele desistisse de me levar em casa e eu também não estava disposto a deixá-lo andar mais algumas quadras sendo que já estávamos em frente ao prédio em que ele morava. Por esse motivo tomei a dolorosa - convenci alguém? - decisão de ficar mais um tempo com meu namorado.

- Vamos entrar, então?

O Kang sorriu e segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos. Nós entramos no prédio e subimos as escadas até o andar onde ficava o apartamento do mais novo. Esperei alguns segundos até que ele terminasse de digitar a senha da fechadura digital, então o mais novo entrou e eu o segui.

- Você quer assistir um filme? - Perguntou, quando nos sentamos no sofá.

- Qual filme você quer ver?

- Você pode escolher? Eu vou pegar alguma besteira pra gente comer.

Assenti, pegando o controle e ligando a televisão, colocando na Netflix. Fiquei alguns minutos observando o catálogo de filmes, ultimamente o serviço de streaming tem deixado a desejar. No fim, acabei escolhendo uma comédia romântica adolescente qualquer.

Assim que terminei de escolher, Taehyun voltou da cozinha trazendo lanches nada saudáveis para comermos.

Nós focamos em assistir o filme que se mostrou condizente com as espectativas que eu tinha sobre ele, sendo um romance totalmente clichê com algumas cenas cômicas.

Levei minha mão em direção a embalagem de peperos e notei que estava vazia. Olhei para Taehyun e vi que ele segurava um pepero.

- Esse é o último, não é? - Fiz um bico ao constatar isso.

- Você quer um pedaço? - Perguntou e eu assenti. - Você pode pegar um pedaço. - Ao contrário do que eu esperava, o Kang levou o pepero até sua própria boca, deixando apenas a metade dentro da mesma.

Demorei um segundo para entender o que estava acontecendo, até me tocar que o mais novo queria reproduzir uma cena clássicas de clichês. Assim que percebi sua intenção, não hesitei em me aproximar, mordendo o pepero até que nossos lábios se tocassem eu um simples selar.

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