BEFORE
2015
Eleanor Del Rio não confiava em ninguém. Ou pelo menos tentava.
Não era o tipo de pessoa que odiava mudar de ideia. Mantinha a mente flexível para mudanças e, olhando num panorama geral, não se importava de estar errada quando lhe provavam isso. Mas no que diz respeito a confiança, preferia se manter enrolada no plástico bolha, à prova de machucados e dores emocionais.
Dor, inclusive, era o que ela sentia nos pés enfiados naqueles sapatos ridículos enquanto voltava pra casa pelas ruas úmidas do Brooklyn. Remoía os eventos do dia de novo e de novo, encontrando só agora as palavras certas para responder sua (ex) amiga durante a discussão nada educada que tiveram no escritório. Droga de cérebro! Na hora ficara tão nervosa, travada, sem reação com os absurdos injustos despejados em seu colo que só ficou ouvindo, chocada, a voz tão embargada de choro que não deixava as palavras saírem direito.
Agora estava sem emprego, com a conta escassa e a cabeça borbulhando de preocupações. E tudo porque a pessoa que chamara de melhor amiga por dois anos decidira que era hora de tirá-la de campo. "Desculpe, Eleanor. Acho que você não tem mais nada a acrescentar a essa empresa", falou Victoria, com Aretha Donald, a dona da revista Chase, em seu encalço.
Aquilo só podia ser uma piada cósmica de mau gosto. Eleanor, que achava que aquele tipo de coisa só acontecia em novelas de baixo orçamento, estava enganada: Victoria, que costumava chamar de amiga, forjou um artigo revelando vários podres da dona da revista e substituiu a coluna semanal de Eleanor pelo texto repleto de mentiras. A coluna foi ao ar naquela manhã e "por sorte" não teve expressivas visualizações antes da coluna ser retirada do ar. Era um pesadelo. E como Eleanor sabia que Victoria era a culpada? Era a única que tinha acesso ao seus documentos e seu computador. E depois ela nem negou quando Eleanor, no único fôlego de coragem que teve, disse que sabia que ela tinha armado tudo.
Faziam uns meses que a relação das duas não estava boa. Depois que Eleanor fora promovida, Victoria parecia querer deslegitimar todas as suas palavras dentro da redação. Ela não entendia de onde vinha toda a raiva de Victoria, toda a antipatia e desgosto com o qual a garota a vinha tratando nos últimos tempos. Parecia que não a conhecia mais ou então que estava conhecendo de verdade agora. Como a covarde que era, ao invés de tirar tudo a limpo, Eleanor apenas se afastou dela até chegar o ponto de só trocarem um bom dia quando se cruzavam na copa para pegar café.
Pensou que a amiga tinha se cansado dela e só. Apesar da tristeza e da solidão, Eleanor achou que deixar pra lá era a coisa mais madura a se fazer. Até que, naquela manhã, tudo desmoronou.
E era isso que ela ganhava por tentar confiar em alguém.
Quando finalmente subiu os degraus do prédio onde morava, sentindo-se derrotada e com uma dor no peito que fechava sua garganta (era vontade de chorar, mas ela não admitiria isso nem a pau), descalçou os sapatos bonitos que machucavam e subiu as escadas até a caixa de fósforos que chamava de apartamento. O elevador nunca estava funcionando, então ela nem tentava mais.
Abriu a porta, largou a bolsa no chão, arrancou as roupas e se jogou na cama. O que ela ia fazer? Meu Deus, o que ela ia fazer? Não podia contar com ninguém. A mãe estava em Miami brincando de família com o novo marido, o pai em perdido no mundo fazendo algum estrago. Morava de aluguel, perdera o emprego que depositara toda sua energia por dois anos. Mas que porra, pensou. Quando achava que as coisas finalmente iam dar certo, quando estava se sentindo tranquila e esperançosa... Ela só queria dormir e acordar e perceber que tinha sido tudo um pesadelo.
Naquele dia, depois de chorar horas olhando para seu teto e pensando no que ia fazer, Eleanor dormiu com uma ideia na cabeça. Era loucura, claro, mas era um plano. Deitada sozinha em seu apartamento, sentindo o frio se aproximando de Nova York, ela finalmente concluiu: já não tinha mais nada a perder, então abraçaria seu próprio caos.
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EASIER || HS
RomanceEla nunca se sentiu em casa. Ele também não. Para Harry Styles sempre foi difícil criar raízes - com pessoas, lugares, sentimentos. Para Eleanor Del Rio, sempre foi mais fácil ir embora. Entre os acasos da vida, enfim encontraram um motivo para per...