FOUR // HIM

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AFTER

2019

A cena da primeira vez que se falaram passava pela cabeça dele sem parar, pensava as possibilidades que se abriram para eles naquele dia, naquela abordagem desajeitada. Era torturante retomar o assunto, mas, ao mesmo, memórias eram tudo que lhe restava naquele momento. Será que se tivesse se jogado de cabeça num relacionamento com ela antes, as coisas seriam diferentes?

Não. O que eles tiveram foi especial porque aconteceu como aconteceu. Ele não se arrependia de nada que fez. Mas estava começando a se lamentar do que não fez.


Eles não chegaram a se envolver romanticamente depois do fatídico café. Com os desencontros e agenda lotada dele, seu relacionamento com ela passou a ser estritamente amistoso. Eleanor, na verdade, se tornara uma confidente e ele chegou a pensar que talvez tivesse confundido as coisas com ela, na época. Afinal, ele se apaixonou por Camille logo depois e, nossa, como tudo foi intenso.

Harry e Eleanor, apesar de terem se visto apenas em ocasiões profissionais (já que ela começou a produzir a maioria dos clipes dele), passaram a trocar mensagens regularmente sobre música e cinema desde o encontro, em 2016. Ele descobrira que ela era uma roteirista muito talentosa, não apenas produtora. Tinha tantas referências sobre arte que o fascinava, o levava a questionar quanto conhecimento cabia em uma cabeça só.

Durante seu relacionamento com Camille, Harry tivera certeza que Eleanor era apenas uma ótima amiga. E por um ano, assim foi. Até que o relacionamento dele se estremeceu e ele não tinha mais certeza de nada.

Mas, depois disso, Eleanor - se envolver com ela - fora fácil demais. Era muito fácil se apaixonar por ela. Mas não de um jeito que causava deslumbramento (ele sabia muito bem, pois fora assim com Camille). Com Eleanor, tudo parecia natural e leve. Tudo tinha um gosto do sabor favorito dele, que não enjoa. Não era agridoce. Mas continuava a ser surpreendente.

E na metáfora mais idiota que ele podia pensar, o relacionamento com Eleanor era como os avocados que ele amava: você poderia temperá-lo para uma salada, guacamole. Poderia misturar com açúcar. Colocar nas torradas do café da manhã, fazer uma vitamina ou comer puro. Ou seja, era um mundo de possibilidades. Assim como era com ela.

E ele sabia exatamente porque. Desde o início, ele não esperava nada de Eleanor. E nem ela dele. E essa liberdade foi responsável pela amizade que nasceu entre os dois. E do amor que depois evoluiu naturalmente.
Remoendo e tentando adivinhar o momento que tudo começou a dar errado, ele apertou as mãos no volante do carro. Será que fora só um momento? Ele achava que não, possivelmente vários. Ele não a culpava por nada também. Sabia que não era sua culpa, mas, ao mesmo tempo, também sabia que fora sincero com ela o tempo todo. Talvez tivesse sido relapso. Não, isso com certeza tinha sido um agravante.

Harry entrara num vórtice de pensamentos sem fim, correndo atrás de uma resposta que ele nem sabia se queria. Tinha visto Eleanor Del Rio escapar por entre seus dedos e seu erro foi achar que pudesse tê-la nas mãos. Jamais. Ela era um espírito livre. O erro dele não foi deixá-la ir, o erro dele foi não seguí-la.

EASIER  ||  HSOnde histórias criam vida. Descubra agora