Capítulo V

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   Me revoltava a falta de poder que me era concedido. Eu poderia ser uma rainha mas sendo uma rainha consorte tinha menos poder até do que as amantes do Rei. E infelizmente, eu não herdara a extrema perspicácia da minha querida mãe, não que eu me considerasse burra ou algo do tipo, mas não conseguia arquitetar os mais miraculosos planos de mínimos detalhes que sempre funcionavam como Iolanda de Aragão. Nada que eu havia tentado para salvar Joana havia adiantado, ninguém com quem eu havia conversado até agora parecia disposto a me ajudar naquilo e aquilo cada dia mais me agoniava porque eu sabia que a cada dia que passava de fracasso naquilo era um dia mais próximo de eu perder Joana para sempre. Isso me tirava o sono e não me deixava em paz por um só segundo durante o dia.

- Está um dia lindo, não é? Poderia dar um passeio mais tarde, faria bem, parece tão abatida nos últimos dias - uma de minhas damas de companhia falava enquanto arrumava meu cabelo.

- Talvez mais tarde - respondo em tom baixo, desinteressado, talvez até um tanto grosseiro, olhando para a janela.

   Era um dia agradável de fato mas bonito era uma palavra forte demais, não conseguiria enxergar "dias bonitos" em tempos como aquele.

- Andas tão chateada Majestade - uma das mulheres me olhava com atenção, enquanto eu apenas desviava o olhar para a direção oposta, desejando profundamente a maravilha que seria estar sozinha.

- Eu estou bem, pode por favor me alcançar meus colares para eu escolher algum? - as damas apenas se olharam, logo me estendendo as jóias.

- Esse muito é bonito, Majestade - a mais bela delas falou, admirando um dos colarem cheio de pedras preciosas, tinha de fato grande beleza apesar de eu não o usar muito, era chamativo demais.

- Pode pedir um parecido para Carlos da próxima vez que se deitar com ele - as palavras saíam da minha boca em um tom frio, irritado, por algum motivo, diferente do que seria em qualquer outro dia, eu não me importei com isso - Ou melhor, pegue esse para você, é melhor eu poupar os gastos que meu marido teria tirando dinheiro da França para comprar o colar para você e já lhe dar ele de uma vez!

- Majestade, eu... - a mulher estava corada, constrangida e apesar de tudo, eu me senti mal por tê-la deixado assim.

   Não era uma mentira que ela não era leal a mim como deveria, era leal ao Rei, não a mim. Mesmo que como Dama de Companhia devesse servir a mim, era a Carlos que ela servia. Mesmo assim, sempre tentei ser educada e gentil, não adiantava me rebaixar tanto por algo que continuaria acontecendo. Então, mesmo que estivesse com os nervos à flor da pele e que a preocupação e a angústia me tomassem inteiro, junto com a tristeza, me senti culpada.

- Eu... Me desculpe, falei sem pensar, não estou em meus melhores dias - respiro fundo - De qualquer forma pode ficar com o colar já que gostou dele - digo forçando um leve sorriso.

- Não deve se desculpar Majestade, suponho que toda a França Armagnac esteja um tanto abalada no momento.

- Por que? - a frase da mulher me deixou confusa, o que teria acontecido de tão ruim?

- Vossa Majestade não ficou sabendo?

- Do que? - pergunto já agoniada com a curiosidade.

- Joana, a Donzela, foi condenada por bruxaria, morrerá na fogueira, é uma pena, ela me parecia ser uma boa menina e...

   Não conseguia mais ouvir o que ela falava, era como se tudo estivesse escurecendo e as palavras ecoavam em minha mente "Condenada por bruxaria, morrerá na fogueira", as palavras repetiam sem parar enquanto eu sentia um enorme embrulho no estômago. Minha Joana, ela não poderia morrer, isso não poderia ser real.

Invisível - A paixão secreta de uma rainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora