08 - Bem vindo ao lar-doce-lar

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Kihyun foi compreensivo no carro, isso me deixou mais leve. Ter lhe contado essa parte da minha vida tirou mesmo um baita peso da minha mente. Por alguma razão, me deixou sossegado. Mas outra coisa está martelando em meu sistema nervoso nesse momento: ele quer que eu vá morar com ele. E mais inusitado do que isso? Não se importa em coisa alguma da minha vida. O fato de que sou pai solteiro não lhe importa, todo o escândalo daquele tempo... Nada de ruim sobre mim parece fazer uma drástica diferença em sua vida, mesmo que esteja se envolvendo demais. Eu não sei bem o que isso significa. Não sei se é por não estarmos juntos de verdade ou... Se ele realmente me vê com outros olhos. Acontece que eu sou julgado e "fofocado" desde que me envolvi com a mãe do Kohyosu. Tudo piorou quando ele nasceu, e, mais ainda, quando ela me deixou. Com exceção da Lucy e do Shownu, nenhum outro contato social meu é estável, menos ainda os que surgiram depois que meu filho nasceu. É por isso que o Kihyun me intriga. Tem algo diferente nele, em seu modo de pensar, que me deixa realmente curioso.

Bem, agora é outro dia. E já que aceitei o convite de morar em sua casa, o CEO Yoo Kihyun, renomado, comentado e cobiçado, encontra-se me ajudando a empacotar tudo o que possuo nesse mini apartamento quase, mas quase mesmo, minimalista.

-- Você é um leitor assíduo, Changkyun-ah! Não imaginei que tinha tantos livros.

Kihyun parece realmente surpreso ao fechar mais uma caixa de livros, é a terceira e ainda restam alguns. Eu sei, você deve estar pensando que eu não li todos eles. Para o seu não-espanto, não, eu não li mesmo. Acho que li uma caixa e meia na minha juventude e mais uma durante as minhas viagens pelo mundo. O restante, suponho eu, deixei de lado ao voltar para casa. Parece confuso, é verdade, mas eu tinha um lugar para onde voltar. Mantive minha casa pelos anos que estive fora e até voltava, vez ou outra, ao sentir saudade da minha cidade. Sabe, eu cresci aqui e tenho muito apreço, independente de quaisquer não-regalias. Para viajar pelo mundo, eu me virava cantando e tocando onde quer que fosse, em bares, restaurantes e praças. Mas, se quer saber, compus algumas músicas que ainda não cantei em público. Nem sei se irei algum dia, já que a minha vida mudou drasticamente. Todavia não se engane, eu gosto da vida que levo, embora ela ainda não seja onde quero chegar.

A maioria dos meus livros são sobre música, mas também há os de poesia, fantasia e literatura. O meu preferido, que já li e reli tantas vezes que perdi as contas, é um que tive o prazer de ler no Brasil. A tradução pra o inglês é boa. Ele se chama "histórias lindas de morrer" e uma médica o escreveu. Aborda sobre a finitude, mas também sobre a imensidão da vida, através de histórias, relatos e experiências vívidas de pessoas que estão partindo daqui. É realmente lindo de ler, me emociono todas as vezes.

-- Eu ainda não li todos eles. - respondo a Kihyun - Mas pretendo.

-- Você é realmente uma caixinha de surpresas. - ele me observa, fechando a última caixa de livros - Pronto, só faltava isso, então agora podemos ir. Vou levar as caixas pro carro e você leva o Kohy Kohy.

(Deus, o jeito terno que ele fala do Kohyosu me deixa encantado. Não é possível que ele não perceba esse sorriso bobo nos meus lábios que insistem em retribuir o seu.)

Me recompondo agora: levo o Kohyosu para o carro e coloco-o devidamente na cadeira para bebês que o Kihyun fez questão de comprar. Eu não sei quanto foi essa cadeira toda acolchoada, mas ela parece valer mais do que a minha cama atual. No banco da frente, espero Kihyun finalizar com os livros e me perco em seu andar despreocupado até que esteja ao meu lado. Ele está um pouco suado, mas seu sorriso mostra que não se importa muito com isso. A verdade é que foi ideia dele empacotar e levar logo os objetos pequenos e roupas. Eu acharia melhor deixar um caminhão de mudanças cuidar disso, mas ele assegurou que gostaria de fazer e que não precisaria levar muito, já que lá em sua casa teremos tudo o que quisermos. Em outras palavras, ele pediu para que levasse apenas o que me fizesse lembrar de casa para que me sentisse mais confortável morando lá. Assim fizemos. Livros, roupas, algumas pinturas e as coisas do Kohyosu é tudo o que levo desse apartamento, onde não voltarei durante um ano.

Confesso que o caminho até a casa de Kihyun é um tanto longo. Kohyosu já dormiu no banco de trás há uma hora. Ele não disse que morava no fim do país.

-- Kihyun...

Ele olhou para mim como se pudesse ler os meus pensamentos e seus olhos viraram riscos em uma risada alta.

-- Eu estava esperando a hora que você perguntaria sobre o tempo de viagem, porque não fez isso em momento algum desde que eu te chamei pra viver comigo. - ele disse -

Ainda era possível ler o sorriso em suas palavras. Ele parecia estar se divertindo bastante. E é contagiante, porque, ao olhar no retrovisor, estou sorrindo também.

-- Então me diga, sr. Yoo divertido Kihyun, quanto tempo falta?

-- Falta pouco mais de uma hora, mas você vai ver que vale a pena, de verdade.

Ok... Mais de duas horas de viagem então. Se minha casa fica a dez minutos do hotel e eu já acordo cedo... Certo, tudo bem, isso é o de menos, né? Se ele está dizendo que vale, eu acredito.

Observo o tempo passar pela janela do carro, nem sei quanto passou, mas, aos poucos, o que eram imensos prédios e pontos de comércio vão se transformando em tons de verde e azul. Eu não imaginava que a vibe dele seria essa, há mesmo muita beleza no caminho que fazemos até que ele pare o carro e eu perceba que estamos em frente a um enorme portão escuro de madeira. O muro alto é cercado por árvores de todos os tipos e algumas são bem floridas, coloridas em demasia. Kihyun abriu a janela somente para que o ar puro invadisse minhas narinas — se não foi, pareceu demais —, e é então que começo a acreditar que realmente irei gostar daqui.

-- Bem vindo ao lar-doce-lar, Changkyun-ssi. - fala doce, manso, quase em sussurro -

Dessa forma o portão abre e a imagem de um verdadeiro paraíso me é revelada. Deus, eu vou mesmo, mesmo gostar daqui.

Noivo de aluguel [Changki]Onde histórias criam vida. Descubra agora