Minha cabeça girou e me senti tonto com o toque que arrepiou-me a espinha. A boca de Kihyun, movendo-se contra a minha em meio ao desespero da minha existência, eu não consegui entender, ainda não consigo. Quando ele se afastou, metade de mim seguiu inerte. Eu o observei repuxar os lábios em um sorriso tão terno que poderia me desmontar se ele quisesse, mas não pude retribuir, porque a confusão que ele instalou em mim era maior do que a ansiedade que se foi.
-- O que foi isso? - perguntei, receoso, querendo uma explicação que ajudasse a resolver metade dos meus sentimentos sobre ele.
-- Foi um beijo entre noivos. - respondeu, caminhando em direção à porta de saída - Te espero lá fora.
E então ele se foi, me deixando sozinho com meu reflexo no espelho e uma porção de sentimentos confusos.
Quando deixei o banheiro, Kihyun estava me esperando próximo à passarela vazia, conversando com alguém que não parecia muito próximo devido à distância que dirigir-se à ele.
-- Precisamos ir. - disse ao me ver chegar, suas mãos alcançaram a minha cintura e ele me guiou com sutileza até a saída. Quem nos visse de fora com certeza pensaria que somos um casal.
Esperei que Kihyun pegasse a chave de seu carro com o manobrista e, ao entrarmos, finalmente pude respirar. Deixei minha cabeça repousar no banco macio, os olhos fechados e o coração vacilante. Meu corpo estava tenso. Acho que Kihyun percebeu, porque uma música calma preencheu o espaço.
Olhei para o homem ao meu lado, seus olhos estavam fixos na estrada e ele cantarolava baixinho. Seus murmúrios complementavam bem a música, tornando-a mais angelical. Ou essa seria apenas a minha percepção influenciada pelo que estou sentindo?
-- No que está pensando? - a voz de Kihyun soou ansiosa, como se precisasse de uma resposta rápida. Eu não consegui destinguir se era por eu estar olhando diretamente os seus movimentos ou pelo que aconteceu mais cedo.
-- Em você. - respondi, sincero - Por que exatamente você me beijou? Está jogando um jogo muito perigoso, Kihyun.
Como se minhas palavras não o abalassem em nada, ele sorriu. Algo em mim paralisou quando ele estacionou o carro e me olhou diretamente nos olhos, ainda com aquele maldito sorriso no rosto.
-- Sendo sincero, Changkyun, eu quis tirar o foco do seu passado conturbado. Não gostei de te ver daquele jeito, eu não sei, me embrulhou o estômago. - ele fez uma pausa, intrigante, como se precisasse medir as palavras que viriam - E eu gosto de beijar você.
Aquilo não podia ser verdade. Eu analisei seu rosto, precisava de algum resquício de expressão que justificasse uma piada ou uma inverdade de sua parte. Porque ele estava preocupado comigo. Porque ele gosta de me beijar. Eu não achei a expressão. E ele gosta de me beijar. Minhas mãos estão suando, meu estômago está revirado. As borboletas não voam, mas me consomem de dentro para fora. Isso não pode acontecer. Ele não pode pedir para eu não me apaixonar por ele e me dizer essas coisas, me tratar assim. O jogo perigoso me tem como único alvo e, apenas talvez, eu queira que ele me acerte, mas não posso me deixar levar. Eu não vou passar por isso de novo.
-- Eu agradeço a sua preocupação, Kihyun, mas eu estava lidando com a situação do meu jeito. Você não pode me beijar assim e me falar essas coisas sem fins contratuais... Porque, como você mesmo disse, eu não posso estar me apaixonando por você.
-- Estou complicando a sua vida, não é?
-- Você não faz ideia. - respondi, inquieto, mas aliviado por ele ter entendido.
-- Eu estive pensando nisso, e eu vou ser sincero com você, Changkyun-ah. Algo em você me faz ter zelo; eu quero cuidar de você, é quase como se eu precisasse. - ele riu, sua preocupação quase paupável - Eu nunca me senti assim em relação a outro alguém. Então me desculpe por ser confuso e beijar você enquanto te peço pra não se apaixonar por mim, mas eu também estou confuso aqui dentro. - ele apontou para o peito e seu olhar, quase instantaneamente, desviou para a estrada.
Eu não sei se deveria falar alguma coisa, estou surpreso. Eu entendi quando Kihyun me mandou a real, eu estava sendo zeloso quanto aos meus sentimentos. Então agora ele me desmonta com esse discurso de estar confuso e querer cuidar de mim e eu... Eu não sei o que espera de mim.
-- O que você espera de mim, exatamente? - extremamente receoso, perguntei.
Fui hipnotizado por seu olhar em mim novamente, sua expressão agora poderia ser a mais bela das confusões que eu, outrora, vira.
-- Você pode jogar comigo? - perguntou, fazendo da sua confusão a minha.
-- O quê?
-- Você disse que eu estou jogando um jogo muito perigoso, então jogue comigo.
Eu tenho certeza que essa frase não vai me deixar dormir à noite, mas eu preciso de uma comunicação livre de ruídos e charadas. Isso ficou para trás.
-- Por favor, clareie a minha mente, Kihyun. Eu não preciso que seja mais vago nas suas palavras.
-- Ok, você vai mesmo me fazer falar... - ele riu, divertido - Nós podemos realmente nos entregar a isso? Sabe, hm, deixar a relação fluir pra saber o que estamos sentindo... Se gostamos um do outro de verdade.
Eu ri quando ele desviou o olhar, claramente envergonhado. Suas bochechas rosadas evidenciaram o constrangimento por proferir tais palavras cujo, tenho certeza, nunca precisou antes.
-- Vou pensar no seu caso. - foi o que eu disse, mordendo os lábios em uma tentativa quase falha de conter as borboletas que queriam sair por minha garganta.
Kihyun ligou o carro novamente, o GPS indicando o caminho da comemoração do desfile de sua amiga, seu sorriso indicando que estava contente com a nossa conversa, meu coração indicando WATCH OUT em letras garrafais.
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Noivo de aluguel [Changki]
FanfictionKihyun vê, em Changkyun, a oportunidade para sair de um casamento arranjado: um noivado de mentira, onde pode ter liberdade. ©2021