Smaug

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Fili e Bofur deitaram Kili na mesa. Eu conseguia ver que ele estava piorando rapidamente.

- O que podem fazer? - Fili parecia desesperado.

Eu também estava, mas não demonstrava. Todos eles confiavam em mim para ajudar Kili, e eu sabia que ele não tinha muito tempo se não fizéssemos algo logo. Os efeitos do veneno estavam começando a aparecer. Eu mantinha a fachada calma por fora, para ajudar os anões a não se desesperarem.

- Vocês tem a folha-do-rei? - Eu perguntei.

- Sim. É alimento dos porcos, mas não posso usá-la. - Disse Bard, hesitante.

- Eu posso- Disse. O povo élfico chamava essa erva de Athelas, ou asëa aranion, e eu já tinha aprendido a usá-la em Valfenda, a muitos anos. Eu não sabia nada sobre a minha linhagem, mas sempre pude usá-las.

- Porcos? Entendi - Disse Bofur - Não saiam daí - Então ele correu porta afora.

Não havia muito a fazer a não ser esperar. Eu tirei o pedaço de pano que tinha usado para cobrir o ferimento, e limpei o sangue com água.

Mas depois não tinha muito o que fazer para me livrar dos meus pensamentos. Eu estava impaciente pela volta de Bofur. Tinha medo de que ele não voltasse a tempo. Mas eu tinha que manter as esperanças, para que pudesse ajudar Kili da melhor forma que pudesse.

Mas eu sabia, que estávamos ficando sem tempo.

                                                                                               ...

- Então, eu tenho que encontrar essa pedra.

Bilbo tinha seguido um pouco a frente. Ballin o acompanhava. Mas agora Bilbo teria de seguir sozinho.

- Sim. Uma grande jóia branca.

- Mas acredito que tenham várias iguais lá.

- Só existe uma pedra Arken. Você vai saber quando a encontrar.

Bilbo assentiu.

- Não precisa fazer isso se não quiser, não é desonra desistir...

- Não Ballin. Eu prometi que faria isso. E acho que devo tentar.

O anão riu.

- Nunca deixa de me surpreender. A coragem dos hobbits. - ele fez uma pausa - Eu não sei o que você vai encontrar lá embaixo. Vá agora. Com a maior sorte que puder levar.

O hobbit assentiu, e começou a descer as escadarias que levariam até  local onde todo o ouro estava. Mas foi interrompido pela voz de Ballin novamente.

- Bilbo... Se por acaso, você encontrar um dragão vivo lá embaixo.... Não o acorde.

Bilbo, assentiu, engoliu em seco, e prosseguiu. Não muito tempo descendo o levou até um salão cheio de ouro. Era muito mais do que ele imaginava. Muito mais do que sua imaginação poderia suportar imaginar.

- Uma grande pedra branca. Isso não ajuda muito... - ele disse para si mesmo.

Ele começou a procurar pela pedra, em meio a todo aquele tesouro. Mas ele sabia que levaria muito tempo.

Até que, sem querer, ele fez deslizar uma montanha de ouro. E quando o barulho cessou, é que ele percebeu o erro que tinha cometido. Embaixo de todo aquele ouro, havia um olho. Estava fechado, mas com o barulho, e o impacto dos objetos caindo, havia se aberto.

Imediatamente, Bilbo colocou o anel em seu dedo. As coisas estavam apenas começando a dar errado.

O dragão se levantou. Smaug era uma criatura terrível. Era difícil imaginá-lo quando estava no condado, ouvindo as histórias dos anões. Mas ali, naquela montanha, em meio a tanto ouro, ele era muito real. O dragão farejava, pois já havia sentido a presença do estranho.

- Ladrão - Sua voz era grave, e ameaçadora - eu sinto seu cheiro, ouço sua respiração. Eu sinto seu ar. Onde está você?

Nessa hora, Bilbo escorregou, provocando barulho, que atraiu Smaug até onde ele estava.

- Vamos, não seja tímido. Venha para a luz. - ele sorriu, maliciosamente - Existe algo com você. Algo que carrega. Algo feito de ouro, porém mais precioso.

A carga que o anel exercia sobre o hobbit, e a voz hipnotizante de Smaug estavam tornando difícil manter o objeto em seu dedo. Ele trazia uma aura pesada e sufocante. A palavra "Precioso" foi a gota da água. A palavra que Gollum usava para chamar o anel. O hobbit foi obrigado a tirá-lo.

- Aí está você, ladrão nas sombras - A criatura disse.

- E-eu não vim aqui roubar de você, ó Smaug o incrivelmente rico. Eu simplesmente quis admirar sua magnificência. Ver se é mesmo tão grandioso quanto as histórias dizem. Eu não acreditava nelas.

O dragão bufou, e se levantou.

- Agora acredita? - ele trovejou.

- N-na verdade. Os contos e canções não estão a altura de sua enormidade ó Smaug o estupendo.

- Acha que sua bajulação o manterá vivo?

- N-não.

- Não de fato. Parece estar familiarizado com o meu nome, embora eu tenha a impressão de não ter sentido seu cheiro antes. Quem é você, e de onde você vem, posso saber?

Nessa hora Bilbo a viu. A pedra Arken. Era inconfundível, como Ballin dissera.

- Eu vim de baixo da colina. E sob as colinas, e por elas meus caminhos conduziram. E através do ar, sou o que caminha sem ser visto.

- Impressionante - Smaug parecia estar se divertindo com esse jogo de palavras - E o que mais você diz ser?

- Sou o afortunado. O descobridor de pistas.

- Títulos adoráveis. Continue.

- Montador de barril.

- Barril? Agora ficou interessante. E quanto aos seus amiguinhos anões? Onde se escondem?

- A-anões? - Bilbo fez sua melhor imitação de surpresa - Não, não tem anões não. Você entendeu tudo errado.

- Ah, eu acho que não, Montador de barril. Eles enviaram você para fazer seu trabalho sujo, enquanto estão lá fora escondidos.

- Digo, que está completamente errado, ó Smaug, a mais importante das calamidades.

- Você tem boas maneiras para um ladrão, e um mentiroso! - ele gritou a última palavra - Eu conheço o cheiro e o gosto de um anão. Ninguém conhece melhor. É o ouro. Eles são atraídos por tesouros como moscas por carne morta.

Enquanto ele falava, Bilbo tentava se aproximar da pedra Arken. Mas o dragão acabou pisando com tanta força que a fez rolar para longe. Bilbo, num impulso, correu atrás dela.

Smaug bateu em um pilar, provocando um grande barulho.

- Achou que eu não sabia que esse dia chegaria? que uma turba de anões hipócritas voltaria rastejando para a montanha!?

...

Lá fora, os anões ouviram o barulho, e se assustaram.

- O que foi isso? Um terremoto?


- Isso, meu caro. Foi um dragão - disse Ballin.

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