Capítulo 04

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⊶⊷⊶⊷⊶⊷

Cheguei atrasado ao trabalho depois de perder mais ou menos meia hora no estacionamento, tentando colar pedaços de papel que pareciam formar uma carta que fora rasgada. Eu as encontrei de manhã na lixeira, enquanto limpava a louça do café da manhã e Changkyun se trocava para ir até o ateliê. Sem pensar muito em como isso estava se tornando doentio, peguei cada pedaço, os escondi nos bolsos de meu casaco e, dentro do carro, montei-os como se fossem um quebra cabeças.

Não era nada de mais afinal, apenas um rascunho escrito sobre tecidos. No canto inferior da folha, porém, havia um número. Peguei meu celular e conferi na agenda: aquele era o número de contato de Minhyuk.

No almoço, fui até o ateliê, mas Changkyun não estava lá. Mostrei o rascunho a Yeojoo, perguntando se fora ela quem havia escrito aquela numeração na folha e ela me respondeu que não, que aquela letra era, inclusive, de Minhyuk.

Mil coisas vagaram por minha mente e o fato de Changgie ter saído me fazia indagar se não estaria almoçando com Minhyuk naquele exato momento.

— Tem falado com ele esses dias? – eu quis saber e minha irmã negou.

— Nós "terminamos" – ela fez aspas com os dedos. – Não o tenho visto desde o fim de semana.

O que não era um bom sinal, pois ele parecia estar sempre por perto de Changkyun de alguma maneira.

Amassei o papel e o joguei no lixo, sentando-me numa das cadeiras do lugar, levando as mãos aos cabelos pelo nervosismo. Fechei meus olhos com força, tentando espantar aqueles pensamentos ruins, mas tudo me levava a acreditar que estava acontecendo de novo: que meu marido tinha descoberto por si mesmo o que o ligava a Minhyuk; ou ele havia mostrado-lhe que eram algo mais do que apenas conhecidos.

— Kihyun, pare com isso – Yeojoo disse, caminhando até mim. Senti suas mãos em meus ombros. – Vou puxar assunto hoje, está bem? Talvez eu possa descobrir alguma coisa...

— Não tem mais nada pra descobrir – eu retruquei. – Só tem uma resposta pra tudo isso.

Ficamos um pouco em silêncio, enquanto era óbvio que eu estava me remoendo em ódio.

— Não acho que Changkyun esteja te traindo – Yeojoo disse calmamente. – Sinceramente, Kihyun, não acho que seja isso...

— Você já esteve errada antes – eu falei, o que a deixou um pouco surpresa.

— Eu só... – ela continuou: – só acho que não é errado confiar nas pessoas...

— Você mesma disse que ele pode estar mentindo...

— Eu sei – ela concordou –, mas ver você assim me faz querer acreditar que ele não está.

Esperei por mais alguns minutos, mas Changkyun não retornou. Despedi-me de Yeojoo e voltei ao carro rumo ao escritório. Pensei em ligar para meu marido, perguntar onde ele estava, se eu poderia me juntar a ele, se estava sozinho ou não.

Então eu os vi.

Sentados a mesa de uma cafeteria não muito longe do ateliê, conversando. Prestei atenção aos semblantes e encostei o carro numa vaga ali perto, notando que parecia ser uma conversa séria. Changkyun tinha um copo nas mãos e bebericava dele quando terminava de falar alguma coisa, o que indicava que estava nervoso – ele sempre fazia isso quando estávamos perto de discutir. Minhyuk estava ligeiramente inclinado em sua direção, o que demonstrava que estava falando de algo que lhe parecia importante.

Estava falando deles, foi o que pensei, de certo explicando como as coisas eram antes do acidente, como os dois saíam pelas minhas costas, como eles se tornaram tão íntimos e tão ligados um ao outro. Talvez ele estivesse falando mal de mim, dizendo que eu havia escondido as coisas dele, que eu teria varrido parte de sua memória para que ele não voltasse a querer vê-lo.

Eyes Wide Open | ChangKiOnde histórias criam vida. Descubra agora