Capítulo 4

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Heloisa

Uma semana que eu já tinha que me virar em duas. Uma semana que a cada segundo eu queria esganar Fernanda. Primeiro, que com a viagem dela as coisas ficaram ainda mais corridas. Segundo e o pior de tudo, eram as encomendas que ela disse que não seriam muitas. Só que agora, em todos os segundos que eu recebia uma ligação da portaria do seu prédio, avisando sobre mais uma entrega de mercadoria, eu queria morrer.

Já possuía uma vida conturbada demais para dar conta de tudo aquilo sozinha. Igual nesse momento que fui acordada com uma garrafa sendo quebrada, o som vinha da sala, por isso, levantei-me depressa e corri até o lugar.

Quando vi a mesma cena, de todos os meses desde que meu pai morreu, se passando à minha frente me deu vontade de sair gritando pelo mundo. Só para ter um pouco de paz, pela vida estar sempre me batendo de várias formas que eu achava que não podia aguentar.

— Mãe, para com isso — pedi, sentindo a minha voz ficar embargada completamente.

— Não posso, você não entende Heloisa. Eu preciso beber e você tá me proibindo de encontrar a minha felicidade. Você sempre é o estorvo que aparece em meu caminho.

— Mãe, não fala assim.

— Por quê? Se o seu pai morreu foi por culpa sua, se não fosse por você ele ainda estava aqui. Agora, você quer me proibir, de tomar o que me tira de tanto sofrimento.

Era sempre a mesma história.

— Mãe, a senhora não precisa encher a cara com álcool para se sentir melhor. A senhora pode conversar comigo, eu posso chamar um terapeuta.

— Cala a sua boca, garota estúpida. Você deu um jeito de acabar com todo o álcool que tinha nessa casa, mas uma hora vou conseguir o que tanto quero. E você não vai poder me impedir.

Ela passou por mim, dando um empurrão em meu corpo, deixando-me completamente desnorteada. Como minha mãe tinha coragem de me culpar por algo que eu não tinha cometido?

Olhei os cacos de vidro no chão e deixei as lágrimas escorrerem por meu rosto. Acho que ela nunca melhoraria, ela sempre procuraria um jeito de beber até cair, ou até fazer algo muito ruim contra sua vida.

Desde que me pai morreu e por eu estar presente, minha mãe além de culpar a mim por sua morte, ela ainda começou a descontar todo o seu luto na bebida. E eu não sabia mais o que fazer, no entanto, toda vez que algo assim acontecia eu lembrava das palavras de Fernanda, sobre interná-la em uma clínica.

Eu não queria pensar naquilo, mas no fundo sabia que aquela era a única opção que tinha.

Fui até a despensa para pegar uma vassoura e a pá, para recolher os cacos, antes que algo pior acontecesse. Depois que os joguei no lixo, retirei o saco e coloquei no lugar indicado, após finalizar o processo voltei para o meu quarto.

Ainda eram quatro da manhã, mas pelo visto o sono não voltaria tão cedo para mim. Por isso, preferi, tomar um banho e me arrumar para começar mais um dia. Hoje ao menos não tinha que ir a empresa, mas precisava dar uma passada na cobertura de Nanda para arrumar a bagunça de encomendas que estavam espalhadas pela sua casa.

Vesti uma calça jeans colada ao meu corpo e um cropped, coloquei um casaquinho por cima da roupa, pois estava um pouco frio. Depois calcei um tênis, e dei meu look do dia finalizado. Completamente diferente do que vestia para ir a empresa, que sempre pedia um salto – algo que eu odiava. Preferia muito mais estar tranquila na segurança e conforto de um tênis.

Eram cinco e meia quando saí de casa, antes disso, passei no quarto de minha mãe e percebi que ela estava dormindo. A cuidadora que tinha contratado logo chegaria, então eu poderia sair tranquila.

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