Capítulo VII- Um Segundo

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  Construímos muitos muros e poucas pontes.

                                                               ISAAC NEWTON




















                                  UM SEGUNDO

  Seus pensamentos estavam vagos, observando a lareira da casa de seus pais, não se lembrava como havia chegado lá, mas sabia que era calmo, relaxante até, levando em conta as coisas que aconteceram neste lugar. O calor sobre sua pele, a luz quente que batia em seu corpo despido, o chão gelado de madeira, os violinos tocando no rádio antigo, embora tudo isso ser relaxante, o que mais acalmava era o cheiro que estaria vindo da cozinha, talvez café feito na hora, quente e forte, era um aroma que invés de fazer com que ela levantasse, fazia com que ela ficasse ali mesmo, sentada sobre suas pernas e apreciando as chamas. Pensará, o fogo é quente, suas chamas dançam enquanto queimam a madeira, as brasas pulam, talvez querendo fugir para espalhar seu caos, pelo visto os seres humanos eram semelhantes ao fogo, isso explicaria porquê de a humanidade ter evoluído depois da descoberta do fogo.
  -Anne? -Escuta uma voz, por trás de si, uma mulher, não sabia bem quem era, mas estranhou quando tudo começou a escurecer, seu desespero. Talvez achasse que fosse morrer, que quando a morte chegasse, seria assim.
  Mas de vagar, Anne foi abrindo os olhos, havia uma luz forte que brilhava em seus olhos, mas era uma luz diferente, uma luz branca. Sabia que não estava mais na lareira, mas sim em um quarto branco, seu braço havia uma sonda, seu dedo um fio que ligava à uma máquina ao lado de sua cama, seu tórax cheio de fios, e Jane a encarava sentada na poltrona ao lado da cama. Anne admirava como ela era linda, para uma pessoa tão séria e possivelmente assassina de homens. Mas talvez esse fosse o perfil de uma assassina, encantadora, com um leve toque de morte.
  -Vejamos só. -Jane se levanta. -A realeza acordou. Graças.
  -O que houve? -Disse Anne tentando se sentar na cama, mas uma forte dor de cabeça à pegou, fazendo com que a deitasse novamente.
  -Retiramos o chip de sua cabeça, mas havia algo estranho. -Disse Jane sentando Anne na cama.
  -O que seria? -Anne a encara, e vê que a roupa que estaria usando era realmente feia. Roupa de paciente hospitalar não era um look de se usar.
  -Seu chip havia resíduos de sangue.
  -Ainda bem né. -Disse. -Sinal de que eu tenho sangue no meu corpo.
  -Você não entende. -Jane anda até a ponta da cama. -Alguns chips que tiramos, nenhum havia resíduo de sangue, pois a camada protetora dele, impede que o sangue entre em contato com ele. Pense como um repelente sanguíneo. Mas só que o seu, havia sangue nele, não sabemos ao certo o por quê, mas sabemos que agora você está nova em folha.
  -Não me importa, só quero sair dessa cama e ir embora. -Disse Anne.
  -Você terá que esperar mais alguns dias pequena Lunaire. -Jane caminha até a porta. -Você precisa repousar, o corte para a remoção do chip pode ter sido pequeno, mas não deixa de ser um corte. Em três ou quatro dias você já poderá sair do quarto.
  -Quatro?
  -Isso mesmo, por mais que repouse no quarto, você terá que ficar em observação por uma semana, para vê se a remoção do chip haverá alguma consequência.
  -Consequência? Ninguém me avisou nada de consequência.
  -Não sabíamos do sangue, mas sabemos agora, e queremos saber se terá algum efeito em você.
  -Se soubesse não teria permitido tal procedimento. -Anne cruza os braços.
  -Nem nós teríamos permitido. -Jane sai do quarto, deixando Anne sozinha com seus pensamentos em um quarto vazio. Por mais que a porta esteja fechada, dava para ouvir os passos do salto de Jane, como um ferro batendo sobre uma plataforma de vidro. Imaginou como ela conseguia lutar com aquele salto.
  Não saberia dizer se era de noite ou de dia, não havia nenhuma brecha de luz entrando no quarto, não havia relógio. Só máquinas ao seu lado, e uma poltrona ao lado da cama. Não tinha nem mesmo uma pequena decoração nas paredes. Eram totalmente brancas, sem nenhum pó, e nem se quer uma sujeira. A cama da por sí só, era velha. O ferro que a sustentava já estava gasto. Como preservaram um quarto e esqueceram da cama.
  Sabia que levantar não seria uma boa ideia, poderia cair e acabar se machucando, e a última coisa queria era ficar mais tempo naquele quarto.
  Imaginou o que iria fazer agora, se realmente o chip lhe dava inteligência, o bastante para aprender coisas mais rápido, como iria fazer parte dessa comunidade de feministas extremistas. Será que iriam aceita-la assim mesmo? Não saberia, mas ficar pensando nessas coisas não iria fazer com que ela ficasse melhor.
  Aos poucos seus olhos foram repousando, até que uma escuridão tomou conta de sua visão, e no sono ela pegou.

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