A luz que entrava pela janela trazia a sensação de nostalgia junto com o cheiro café recém passado. A casa continuava como havia deixado: todos os móveis como antes, os quadros e porta retratos no lugar, a geladeira cheia. Tudo estava como havia deixado.
Exceto pelo dono. Jimin sentava-se ao lado do corretor, em silêncio, cada um com uma xícara na mão. Havia torradas na mesa, mas ninguém as tocou. O homem ao seu lado mexia no celular, casualmente, como se estivesse fazendo o que fazia todos os dias. E realmente estava. Enquanto isso, Jimin segurava o choro e controlava-se para não sair cobrindo tudo que fazia parte do apartamento - que agora era seu. Mas ele não queria que fosse. Evitava olhar para as paredes e, ainda que já estivesse se acostumado com a sensação de luto, lembrar-se do pai ainda trazia uma sensação esquisita e dolorosa.
Perdido em pensamentos, notou um barulho lá fora. Barulho de pneus passando sobre pedras. Finalmente, ele pensou, levantando-se junto do corretor e correndo até o lado de fora. Seu irmão desceu do carro, sozinho, abrindo um sorriso enquanto andava até ele.
- Oi, Ji - disse enquanto o abraçava. Jimin ficou na ponta dos pés para abraçar o irmão, apertando-o com força, tentando demonstrar conforto e se confortar ao mesmo tempo. - Boa tarde, senhor.
- Boa tarde, Namjoon - o corretor respondeu, apertando a mão que lhe fora estendida.
O clima pesou. Entreolharam-se por um segundo, sem saber exatamente o que fazer, e entraram. Namjoon olhou em volta, esperando que algo estivesse diferente. Mas não. Tudo estava como antes, no mesmo lugar, como se nada tivesse mudado. Viu a mesinha ao lado da porta com as chaves, lembrando-se de como sempre sabia que o pai havia chegado pelo barulho das chaves sendo jogadas na cumbuca de barro que trouxe de uma das viagens e usava para guardá-las. Suspirou, crispando os lábios e tentando sorrir na intenção de parecer forte. Ele precisava ser. Sabia como Jimin era sensível e não ia aguentar segurar as pontas o tempo todo.
- Bom, vamos ao que interessa? Ou quer tomar um café antes, Namjoon? - o corretor perguntou, aproximando-se da mesa onde antes estava sentado e segurou a pequena caixa de madeira em mãos.
- Não, podemos começar - o filho mais velho respondeu, ficando em pé ao lado do homem. Jimin parou ao seu lado, esperando pelo que viria. Prostrou-se ali porque sabia que, dependendo do que estivesse naquela caixa, teria que se escorar em alguma coisa - e preferia que fosse o irmão do que o corretor.
- Tudo bem. - O homem trajando ternos disse, pegando fôlego. Não sabia qual seria a reação dos irmãos ao que tinha a dizer. - Bom, vocês precisam saber de uma coisa antes de abrir a caixa.
Namjoon e Jimin se olharam por um segundo e o encararam novamente. Namjoon, depois de alguns segundos, assentiu apreensivo.
- Seu pai queria ser cremado - o homem disse, puxando um documento de dentro do paletó. Namjoon arregalou os olhos e uma expressão de incredulidade emoldurou seu rosto, ao passo que Jimin parecia surpreso, somente. - Ele deixou claro aqui, antes de falecer. Esse documento foi feito há um ano, então ele decidiu faz tempo. Vocês podem respeitar sua decisão ou não, mas... foi o que ele pediu.
- Ser cremado? - Namjoon vociferou, mais alto do que queria. Jimin apertou seu braço. - Meu pai, cremado? Claro que não.
- Joon... - Jimin começou, afastando-se dele e escorando na mesa.
- Não, Jimin! Por que ele iria querer ser cremado? Ele teria nos dito se quisesse. Pior ainda, não teria feito túmulos em conjunto com mamãe pra que os dois fossem enterrados juntos. Isso não faz sentido.
- Namjoon, não é nada demais - o corretor disse e logo se arrependeu depois de receber um olhar frio e duro do cliente. Não falou mais.
- Namjoon, fica calmo. Talvez ele tenha deixado algo explicando o motivo - Jimin disse, tentando mantê-lo calmo e controlar a situação.
- Calma nada! - o mais velho respondeu, jogando o celular na mesa, sem motivo. - Mamãe era cristã, você sabe disso, e sabe que ela não ia gostar disso. Eles tem um túmulo feito pra serem enterrados juntos, pelo amor de Deus! Ela tá esperando faz anos, Jimin.
Jimin não respondeu. O corretor não disse nada, achou melhor não se meter. Se eles não quisessem ouvi-lo e respeitar a decisão do defunto, que seja. Ele não tinha nada a ver, só estava passando o recado.
- Vamos, abra a caixa, por favor - Namjoon disse enquanto passava as mãos pelo rosto, falando com o corretor. Ele assentiu e tirou do bolso uma pequena chave, encaixando-a na fechadura da caixa e abrindo-a. Os irmãos se aproximaram.
Jimin pegou a primeira coisa que viu: um grande envelope amarelo. Enquanto o abria, o corretor pegou os documentos abaixo, ao passo que Namjoon permanecia parado.
- Ele guardava todos os recibos... - o corretor comentou, rindo levemente. Era um velho conhecido de Jeongguk e sabia que aquilo era a cara dele.
Jimin cutucou o irmão e, quando este se virou, sorriu. Ele segurava algumas fotos do pai, deitado sobre um lençol, na grama, sorrindo para a câmera.
- Olha... ele ainda usava o medalhão - Namjoon comentou, pegando outra foto. Haviam várias, em lugares diferentes.
- Ele não devia ter 30 anos nessas fotos... - Jimin comentou, virando a foto para ver se tinha data. - Aqui. Julho de 2023. Tinha... 27.
Namjoon assentiu, levando sua atenção até o corretor, vendo o que mais havia na caixa e não reparou quando Jimin se afastou. Ele tirou outro envelope do pacote, um menor dessa vez, e o abriu.
Dentro, havia uma carta. Escrita a mão, em um papel comum - agora amarelado pelo tempo -, com uma letra que ele não conhecia. Jimin caminhava devagar pelo apartamento, confuso, sem entender o que era aquilo. Antes que pudesse terminar, tirou o outro pedaço de papel que tinha no envelope e o abriu, mais rápido dessa vez. Essa era profissional, pelo que parecia, com a assinatura de uma advogada em baixo. Parecia um atestado de óbito.
Chegou na sala de estar, longe do irmão e do corretor e parou, subitamente, quando voltou a ler a carta anterior. Olhou o pacote novamente, com medo de ter mais alguma coisa estranha ali, e achou.
Uma chave.
Jogou-a na mesa, fazendo o barulho de metal com vidro ecoar pelo ambiente. Voltou seus olhos para a carta e foi se afastando, lendo enquanto voltava para a sala de estar.
- Namjoon - ele o chamou, enquanto o irmão conversava com o corretor sobre algum documento que acharam ali. O mais velho não o ouviu. - Namjoon.
Agora, o irmão o encarou, confuso.
- O que?
- Você precisa ver isso.
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bridges | jjk + kth
FanfictionJeongguk decide passar uns dias em sua propriedade no campo, afastada da cidade, e um estranho bate à sua porta pedindo abrigo durante a tempestade. Ele descobre que o fotógrafo, dirigindo pela região para realizar um importante trabalho, mostra-se...