IV

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12/04/1912.

Luiz acordou na manhã seguinte com algumas batidas na porta, a vibração dos motores do navio e resmungos dos seus colegas da terceira classe. Quem estaria querendo entrar? Seria João? Ele não havia passado a noite na cabine. O historiador se levantou cambaleante para atender a porta e se espantou ao ver que era Helen do outro lado.

Os homens às costas de Luiz se ergueram de pronto sobre as camas. Olhavam atônitos para a senhorita da primeira classe que surgiu entre os humildes como se fosse a virgem Maria para os seus devotos.

– O que está fazendo aqui, Helen?

– Nossa, você está horrível – riu-se a moça. – Bebeu como se o navio fosse afundar.

– Péssima escolha de palavras – reclamou Luiz, sentindo a cabeça latejar. – Como soube onde me encontrar?

– Eu te segui enquanto o senhor fazia seu retorno para cá. Temi que o excesso de álcool ingerido o desequilibrasse e o fizesse cair pelos corredores, seria lastimável.

– Agradeço pela preocupação. Nossa, parece que levei uma pedrada na cabeça. E você ainda não me disse o que está fazendo aqui.

– Vim solicitar sua presença para irmos explorar outras áreas deste lado do navio. Quando nos conhecemos você confirmou meu pedido com a cabeça, ou entendi errado?

Luiz se lembrava. Não queria, porém aceitou ser o acompanhante da moça. Felizmente, a dor de cabeça em razão da ressaca acabou findando graças a massagem que Helen insistiu em fazer em suas têmporas. Os dois tiveram um dia agradável. Foi a primeira vez desde que acordou no Titanic, que o historiador se sentiu bem dentro do navio.

A hora do almoço fora anunciada. Luiz se despediu e seguiu para o salão de jantar. Em sua mente, ecoava algumas palavras ditas por Helen naquele dia: "esta viagem representa o índice do meu novo ciclo." Era certo que outros passageiros também pensavam dessa forma. E o Titanic precisava chegar seguramente em terra para que as pessoas ali viajando continuassem vivendo e lutando pelo que ambicionavam.

Meditar sobre, levou Luiz a imaginar se João o queria no navio para fazer com que o naufrágio fosse impedido de algum modo – mas por quê ele? Como poderia fazê-lo? E por que João não tentou impedir o afundamento, já que ele era um ser poderoso segundo suas próprias palavras?

O navio dos sonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora