Incendiar - o que corre em suas veias? *COMPLETO*

Capítulo 6 - ventania

Quando entraram no pavilhão do dormitório, paredes escuras os rodearam, algumas camas tinham sido colocadas meticulosamente umas ao lado das outras, lençóis cinzas estavam em cima delas, junto com um travesseiro. No pé das camas, uma placa indicava seus nomes.

Achando a sua, Pandora sentou em seu colchão, sentindo a dureza do mesmo abaixo de suas pernas, ao menos não estava mais sozinha naquele quarto horrível e não sentia cheiro de queijo estragado. Haviam janelas grandes rodeando as laterais do dormitório e cabines azuis marinhos nas paredes do fundo.

― Lá ficam os banheiros. ― Stefan disse, apontando com a cabeça para as cabines enquanto se aproximava.

Seus cabelos escuros estavam bagunçados acima da cabeça e ele tinha uma cicatriz que deixava uma falha na sua sobrancelha. Seus olhos castanhos combinavam com a cor de sua pele e os seus lábios eram carnudos. Usava seu macacão com as mangas arregaçadas e uma tatuagem descia pelo seu braço e subia até onde não dava mais para ver, em seu peito. Sua pele parecia ter algumas marcas de queimado, ele olhou para onde Pandora estava encarando.

― Não se preocupe, provavelmente eles não vão pegar tão pesado com você. ― Ele disse, colocando as mangas no lugar.

― Eles fizeram isso com você? ― Ela perguntou, sussurrando, enquanto cruzava os braços sobre o peito.

Ele assentiu e Pandora sentiu um buraco se formar no meio do estômago, uma pequena faísca de raiva desceu pela sua garganta e ela engoliu em seco.

― Somos basicamente um saco de pancadas. ― Ele disse, tentando parecer engraçado. Mas ela só o encarou séria. ― Ok, quer ver? A parte boa é que se você ficar boa o suficiente, pode dar uma surra neles também. ― Continuou, presunçoso.

― Vejo como isso deu certo para você. ― Ela disse, apontando para suas marcas e abrindo um sorriso fraco.

― Ei! Essa doeu, novata. ― Ele respondeu, mostrando seus dentes brancos. ― Vamos, temos que ir para o treinamento. ― Falou, levantando-se.

Saíram do pavilhão um ao lado do outro, colocando a mão no rosto para evitar os fortes raios de sol que passavam por entre as folhas das árvores, Pandora pode ver Ezra a distância, parado ao lado de um pavilhão com a letra E em azul, seus braços estavam cruzados sobre o peito.

Ezra encarou a humana, a analisando dos pés a cabeça, ela usava a mesma trança lateral com a qual ele tinha encontrado ela nas matas. Seu macacão bege indicava que agora ela já iria começar seu treinamento, e se estava com Stefan, então significava que ela queria ficar com a força.

Sua íris cintilou mais forte enquanto ele encarava o rosto dela, notando ainda a cicatriz em seu lábio superior. Ele não costumava se sentir atraído por humanas, afinal, seres elementares eram muito mais sensuais e divertidos, mas algo nela fazia com que ele não conseguisse desviar o olhar.

A mão de Stefan tocou as costas de Pandora e Ezra bufou, fazendo uma ventania começar a levantar a terra do chão e bater nos calcanhares das pessoas que passavam. Nuvens pretas ameaçaram se formar em cima de suas cabeças.

― Você vai se acostumar, eles ficam toda hora brincando de Deus. ― Stefan falou, colocando uma mão no rosto para se proteger da poeira que levantava do chão e outra mão nas costas de Pandora. Seguiram em direção ao pavilhão de treinamento.

Antes de colocar a mão no rosto para se proteger da ventania, Pandora encarou Ezra mais uma vez, vendo sua íris azul brilhar mais forte, ela sabia de onde aquele princípio de tempestade tinha saído.