Quando Ezra a deixou perto dos dormitórios, eles se despediram sem se encostar, ela viu suas costas desaparecerem por entre as árvores e um vazio começou a fazer seu peito doer novamente.
Algumas pessoas já estavam deitadas em suas camas quando ela entrou no dormitório, algumas delas liam livros e outras conversavam baixo com seu parceiro de colchão. Quando olhou para sua cama, uma menina com cabelos castanhos estava sentada nela, uma menina muito parecida com Mila, sua amiga de infância.
Devo estar ficando maluca.
― Mila? ― Pandora perguntou baixo para a menina, então tomou um susto quando sua amiga virou e se jogou em seus braços.
― Eu senti taaaanto a sua falta! ― Mila disse, com voz esganiçada.
― Eu não acredito, como? ― Pandora perguntou, piscando várias vezes, tentando se convencer de que ela não é uma miragem.
― Eu vim atrás de você, eles me pegaram. Você já viu os poderes? São tão legais! Espere só eu poder contar para todos quando for para faculdade após o verão. ― Mila respondeu, extasiada. Algumas pessoas a volta a encararam com um semblante feio por ela estar fazendo tanto barulho no meio da noite.
― Mila, nós não podemos sair. ― Pandora disse baixo para a amiga. Tentando despistar qualquer um que estivesse ouvindo por curiosidade.
― Eu sei, mas nós vamos. ―Mila contrariou, piscando.
Pandora balançou a cabeça e abraçou Mila novamente.
― É bom ter um rosto familiar aqui. ― Suspirou, enquanto apertava ainda mais os braços em volta de Mila. ― Essa é minha amiga, lá de fora. ―Pandora disse, quando viu Stefan se aproximar de seu colchão.
― É, ela já me contou tudo. Então você foi educada em casa hã? ― Stefan respondeu, sorrindo enquanto sentava em sua cama e encarava as duas.
O sorriso de lado que ele deu para as duas fez o rosto de Pandora esquentar, ela desviou os olhos do dele e deu um no braço de Mila.
― Não acredito que contou toda minha vida para ele. ― Resmungou.
― Não só a sua, como a minha também. ― Mila gargalhou.
― Pessoas que foram educadas em casa são... Estranhas. ― Stefan continuou, fazendo uma careta para Pandora.
― Falou o cara que está em cativeiro com um bando de criaturas estranhas. ― Pandora rebateu.
Ele levantou as mãos em sinal de derrota e deitou no colchão.
Agora mais do que nunca, ela teria que armar uma maneira de tirar as duas dali. A culpa invadiu seu corpo quando percebeu que isso significava deixar Ezra. Seria isso uma traição? Contra seu povo, seus poderes, provavelmente sim. Seja lá o que ela achava que estava começando a sentir por ele, não poderia ser maior do que sua família. Ela não podia ser egoísta agora. Seria justo com passar a vida inteira como uma refém, servindo de saco de pancadas de Elementares? A resposta era curta, clara e amarga: não.
Quando acordaram pela manhã, Pandora encostou sua mão nas costas de Mila, que dormia em sua cama com ela, como quando eram crianças. Ela suspirou aliviada se dando conta de que não fora um sonho, ela estava ali.
Treinamentos de força e de corrida os acompanharam nos dias que se passaram, e Pandora não viu mais Ezra nem mesmo de relance. Sem querer, ela se pegava procurando por ele entre as pessoas e a cada macacão azul que ela via a distância, seu peito se enchia de esperança. Por mais que ela tentasse lutar contra o desejo que a consumia, não conseguia. Metade de seu coração sentia falta de casa e a outra metade sentia falta dele, das suas mãos, de seus lábios, do jeito que ele a fazia se sentir, do fogo que a consumia quando estavam juntos.
Com determinação, ela aproveitou toda raiva que sentia de estar presa ali dentro e a frustração de estar desenvolvendo sentimentos por um Elementar para treinar e pegar cada vez mais pesado. Ela sentia o corpo ficando mais ágil, forte e resistente. Dylan estava impressionado e dizia a todos que tinha a melhor novata em sua equipe, que nunca tinha visto alguém evoluir tão rápido aos treinamentos. "Você com certeza fará parte da força, mesmo sem os testes, mas não conte aos outros", ele disse uma tarde.
Os testes ocorriam todo final de uma semana, duas pessoas da força eram colocadas para lutarem uma contra a outra, o vencedor recebia 3 pontos e o perdedor, 1. Quem perdesse três lutas seguidas estava fora e deveria ir achar outro grupo para participar.
― Nas próximas semanas, iremos ver a luta dos Elementares todos os dias, para vocês terem uma ideia do que podem enfrentar. ― Dylan disse, os guiando novamente para o pavilhão de treinamento Elementar.
― Tente ficar fora de problemas. ― Alertou a Pandora, que assentiu firmemente.
De braços dados com Mila, Pandora respirou profundamente enquanto adentrava o pavilhão, Stefan as seguia a alguns centímetros de distância. Em um dos bancos, Ezra estava sentado, encarando a luta que ocorria no ringue. O corpo de Pandora se tencionou quando ele virou o rosto para encara-la, uma sensação quente subiu pela sua barriga e suas mãos começam a formigar, ela apertou mais forte o braço de Mila.
Quebrando o contato visual entre os dois, ela encarou seus pés enquanto passava por ele. Ele sentiu o cheiro de seu nervosismo, dúvida e culpa. Um cheiro muito forte de culpa. O que você está aprontando, Pandora? O que você está pensando?
― Ezra. ― Stefan cumprimentou.
― Stefan. ― Ezra responde, tirando os olhos de Pandora e encarando sua face.
Quando sentaram em um dos bancos próximos do último ringue, Pandora avistou Abigal ao longe encarando ela e Mila, com cara de poucos amigos.
― O que ela está olhando?
― Deixa quieto. ―Pandora pediu a amiga, que insistia em encarar a Elementar de volta.
― EI, o que foi? ― Mila perguntou e Abigail sorriu maleficamente, caminhando a passos duros até as duas.
― Venha. ― Pediu, e Mila se levantou, encarando os olhos vermelhos cintilarem em sua direção.
― Mila, eu vou. ― Pandora disse, tomando a frente.
― Melhor ainda, fantástico! ― Exclamou Abigal, dando as costas para Pandora.
Quando entraram no ringue, o ambiente começou a esquentar e cheiro de fumaça começou a invadir o ar, Pandora engoliu em seco, mas suas tentativas de não tossir eram todas em vão. Endireitando o corpo, Pandora se colocou em posição de combate, enquanto pelo canto do olho pode perceber um grupo se formar para assistir a luta.
Sem piedade alguma, Abigail começava a lançar socos ardentes sobre o corpo de Pandora, suas tentativas de desviar da oponente eram todas em vão. O calor da pele da mesma encostando na sua fazia seus braços arderem. Antes que pudesse perceber, um chute acertou seu rosto, e antes que ela cambaleasse para trás, Abigail agarrou seu pescoço.
O calor começava a se formar em sua garganta enquanto ela apertava cada vez mais forte. Seus dedos queimavam sua pele, mas Pandora não conseguia gritar, o ar começava a fugir de seus pulmões. Seus olhos foram se fechando aos poucos, enquanto entre vozes ela conseguia ouvir alguém pedir para pararem. Antes de ficar tudo escuro, visões de seus pais passaram em sua cabeça. Sua mãe a abraçando e seu pai sorrindo. E então, olhos azuis.
― Já chega. ― Stefan disse, enquanto invadia o ringue e empurrava Abigal para longe.
Quando as mãos da Elementar soltaram Pandora, Stefan a pegou nos braços antes que ela caísse no chão. Ela tinha desmaiado. Ele a carregou por entre o pavilhão, passando por seus colegas, Mila corria atrás deles. Ezra viu o corpo fraco e machucado de Pandora passando e sentiu todos os músculos do corpo tencionarem.
Com passos firmes ele foi até Abigal e pegou em seu braço.
― Encoste mais um dedo nela, Abigal, e eu juro pelos céus que mato você.
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Incendiar - o que corre em suas veias? *COMPLETO*
ActionA milhares de anos atrás existiam dentro das florestas seres chamados Elementares, eles eram ágeis, fortes e tinham poderes sobrenaturais. Eram divididos em dois clãs, Firelands, conhecidos por controlar o fogo e a terra; e Aquairs, conhecidos por c...