Corrida

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     Faltam apenas três meses. Não estive me esforçando tanto nos últimos tempos... Não como deveria, e reconheço isso. Não só reconheço, como sei o futuro prejuízo que isso pode me trazer. Preciso me esforçar o máximo que eu puder a partir de agora, ou talvez não dê...-

– Julie! – E então, meus pensamentos foram interrompidos, às seis em ponto da matina.
– Eu já vou, pai!
– Você vai se atrasar para o nosso fim de semana! Carlos já está pronto, você vai demorar muito?
– Não! Já estou indo! – E lá se foram os meus cinco minutos de reflexão pessoal.

     Rapidamente, peguei uma bolsa simples e coloquei meu celular e minha carteira dentro dela, desci as escadas de madeira e me encontrei pronta para sairmos. Era um fim de semana especial: O FSFM. É sempre no segundo fim de semana de outubro. Até hoje, eu não sei de onde meu pai tirou a ideia de transformar uma data familiar em sigla. Mas, me lembro que, um dia, ele comentou algo comigo sobre o significado. Não me lembro bem, mas acho que soava como "Fim de Semana da Família Molina" ou "Fim de Semana Familiar dos Molina", algo assim.

– Ju?
– Oi, Carlos. Desculpa, você falou algo? – Mais uma vez, viajei pelos meus pensamentos.
– Você não vem? – Disse o pequeno Carlos, que já estava em frente a caminhonete azul do papai.
– Vou, Claro. – Era possível vê-lo através da porta principal da sala de estar, que estava aberta. Apertei meus passos para atravessar a outra metade da mesma, tranquei a porta e corri até a caminhonete. Me sentei no banco do passageiro e fechei a porta, enquanto Carlos estava sentado no banco de trás com seu boneco do Superman (que usava um pequeno jaleco branco que meu pai havia feito para ele, depois do pequeno ter insistido muito) e meu pai, no banco do motorista. Carlos estava olhando atentamente para a parte de baixo do banco em que eu estava sentada, mas, acreditava que não fosse nada importante.

– Na próxima, você dirige. – Disse Ray, enquanto um sorriso se formou em seu rosto, logo após soltar uma pequena gargalhada.
– Pai, se for assim, não terá próxima. Lamento lhe dizer. – Olhei para ele e dei uma pequena risada, pois dirigir não era uma das coisas que eu mais gostava de fazer.
– Ah, Juju! Por favooooooor! Gostaria muito de ver você passando pelos sinais verdes, e parando nos vermelhos, e estando atenta nos amarelos, e tomando cuidado com as pessoas, e...– Carlos disse rapidamente, com algumas pequenas pausas.
– Carlos, eu te levo todas as quartas para as suas aulas de patins. Você sempre me vê dirigir!
– Mi hija, se o seu irmão está pedindo, você vai o fazer. – Pensei bem antes de dar uma resposta. E, ele tinha razão. Não me custaria nada dirigir em alguma outra vez.
– Bem... O que vocês não me pedem sorrindo que eu não faço chorando, não é? – Me virei para Carlos e vi o sorriso que havia se formado em seu rosto. Pude ver que meu pai também estava feliz com a minha resposta. Não era algo grande, mas era algo que ele gostava de me ver fazer. – E, pai, qual a programação de hoje?
– Vamos primeiro fazer um picnic no alto do Runyon Canyon Park e depois...-
– Pai... Pera! Nós vamos para Hollywood? – Com toda a certeza, a minha expressão de surpresa foi notável.
– Surpresa! – Disse Ray, enquanto balançava suas mãos a altura da cabeça.
– Vou para Hollywood, vou para Hollywood! – cantarolou Carlos.
– Pai! Isso é incrível! Mas o parque fica há pouco mais de três horas daqui... – Pensei em voz alta, já que morávamos na Califórnia.
– Justamente por isso que hoje combinamos de sair mais cedo do que o normal. – O que era verdade. Geralmente, saímos às oito da manhã de casa. E, hoje, tivemos que acordar às cinco para sair às seis.
– Pai, você é incrível! Mas, não preparamos nada para comermos. E agora?
– Eu preparei. Tudo está em uma cesta em baixo do banco em que está sentada agora. – Então era isso que Carlos olhava.
– Ah, papai, então eu errei!
– Errou o que, mi hijo?
– Eu pensei que era um presente para mim e para a Juju. – Eu e meu pai rimos.
– Carlos, por favor! Passar o fim de semana com o papai já é um presente! – Sorri e olhei para Ray, que retribuiu.
– Eu sei, eu sei... Mas eu queria o Ironman também...
– Ué, mas você disse que só gostava de DC, não foi? – Brinquei.
– Eu gosto dos dois, tá bom? – Deu ênfase em suas duas últimas palavras, cruzou os braços e fez seu típico biquinho.
– Está bem, está bem. Bom, passamos dez minutos conversando – disse ao olhar no relógio e ver que já eram seis e dez –, vamos?
– Vamos! – Ray e Carlos disseram em coro.

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