Capítulo II

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"Não há nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã."

—Potter.

—Lupin.

Os dois amigos se cumprimentaram formalmente como sempre faziam quando estavam na presença de outras pessoas. Remus fez um gesto com a cabeça indicando para que James o seguisse até seu escritório, no segundo andar do clube. Quando chegaram ao escritório, James despiu o paletó e se sentou, enquanto Remus servia doses de conhaque para os dois.

—Estou com problemas, Remus.

—O quê foi?

—Lembra-se de Emmeline Vance? –Remus sabia quem era a garota. Loira de olhos azuis a Srta. Vance era encantadora e também estava em uma situação financeira deplorável. –Bem, ela me fez um convite um pouco indecoroso.

—O quê ela sugeriu? –Perguntou Remus mais interessado pelo assunto.

—Sutilmente ela disse que talvez devesse ser minha amante. Me convidou a visitar sua cama.

—Oh. –Automaticamente Remus descartou a Srta. Vance de sua lista de possíveis noivas, o mínimo que ele esperava de uma esposa é que ela fosse honrada. –O que você disse?

—Fiquei sem reação e ela me disse que eu poderia pensar até o baile da Sra. Longbottom. –James olhou desesperada para Remus. –O que eu faço?

—Acho que é um pouco óbvio, não? Ora James, ela pode ser linda o tanto que for, você pode arrumar uma amante com a mesma beleza e que não tenha uma reputação a zelar. Se ela iniciar um escândalo você terá que se casar com ela.

A menção da palavra 'casar' causou arrepios em James.

—Tem razão. No baile da Sra. Longbottom vou convidá-la ao passeio nos jardins e vou negar sua oferta educadamente. –James se levantou e foi até a porta. –Obrigado Remus. A propósito o White's reformou todos os bancos. Agora eles são de couro.

Como Remus não podia ir a outros clubes, James o informava sobre a situação dos concorrentes, contando pequenos detalhes que ajudavam Remus a corrigir falhas antes mesmo delas aparecerem.

—Já sabia disso, Sirius me disse. –Disse Remus em um sorriso satisfeito. –Reformei toda a sala de jogos e trouxe bancos de mogno com estofado de veludo. Quer ver?

—Claro. –James adorava jogar e era um jogador muito bom. –Vai na festa da Sra. Longbottom?

—Com certeza. Preciso de uma noiva, lembra?

—Ah. Você ainda está com essa ideia idiota. –Disse James revirando os olhos. Ele achava uma idiotice Remus se casar para ter mais poder, não porque ele acreditava no amor, mas simplesmente pelo fato de que a mulher que se casasse com Remus seria uma interesseira e isso não era bom para o amigo. –Você já é poderoso por si só, Remus. Não precisa se casar.

—Não vamos discutir isso novamente. Eu já me decidi. –Oh, sim. Remus, James e Sirius haviam conversado sobre aquela ideia e mesmo a contragosto concordaram em ajudar o amigo a encontrar uma noiva. Esse foi um dos motivos de James ter procurado Remus em relação a Srta. Vance. Isso e o fato que sua outra opção era Sirius e que ele provavelmente aconselharia James a usufruir de tudo que a Srta. Vance o oferecesse. –De qualquer forma, a Sra. Longbottom organiza grandes bailes e será um ótimo lugar para começar minha pesquisa. Além disso, vai ser divertido.

—Claro. –Disse James ironicamente e tendo certeza de que aquele baile seria tudo para ele, menos divertido.

Dorcas desceu as escadas de sua casa mais rápido do que deveria. Mas as regras de etiqueta poderiam perdoá-la só dessa vez, afinal ela estava animada com o tom de voz de sua mãe. Vivo, confiante, feliz, como ela não escutava a muito tempo.

—Sim, mamãe?

Sua mãe se virou para ela e estendeu o braço em direção a um vestido de baile em um cabide.

—Não é maravilhoso? Você ficará encantadora com esse vestido!

O vestido em questão é de um tom claro de violeta, com o busto e o tronco cravejado com ametistas e pequenos diamantes, provavelmente falsos, e as saias volumosas cobertas com rendas violetas escuras com lindos bordados de flores em dourado. O vestido provavelmente não usava os tecidos finos que aparentava, mas isso não quer dizer que não tivesse sido caro.

—Mãe quanto esse vestido custou? A senhora sabe que temos que evitar gastos banais!

—Bobagem, querida. –sua mãe fez um gesto com a mão para evidenciar o quanto a preocupação é banal. –Ainda podemos pagar alguns vestidos novos para você. E esse nem foi tão caro quanto parece: as pedras são falsas, a renda não é francesa e aquilo dourado não é ouro de verdade, além de que o tecido não vai aguentar por muito tempo. Mas, ele vai servir perfeitamente para esse baile e se Deus quiser algum nobre se interessará por você!

Dorcas admira a fé e a esperança de sua mãe depois de todo esse tempo. Olhando melhor para Anne Meadowes pode-se ver as marcas claras da falência da família: o tecido de seu vestido estava puído e as pequenas joias que usava dificilmente eram verdadeiras, o cabelo estava preso em um coque com alguns fios soltos, pois eles só podiam pagar uma camareira e hoje ele havia arrumado Dorcas. Sua mãe está cansada, percebeu Dorcas, e mesmo assim ainda lutava pela filha. Guerreira.

—Sim, mamãe. É deslumbrante! –Dorcas decidiu não reclamar mais, afinal sua mãe estava se esforçando e isso era o melhor que ela podia fazer. –A senhora terá de me ajudar a encontrar joias que combinem perfeitamente com ele!

—Você sabe que suas joias serão compradas do charlatão, não sabe?

—Sei sim, mãe. Mas quem se importa? Estarei linda como as outras, não é?

Anne sorriu tristemente e assentiu. E Dorcas soube que mesmo que seu vestido e suas joias fossem falsos, ela estaria linda no baile da Sra. Longbottom e que não deixaria que ninguém a diminuísse. Ela encontraria um nobre que ficaria fascinado por ela. Faria isso por sua mãe.

E o destino sorriu satisfeito. E com um estalar de dedos conseguira reuniar aquelas seis pessoas em um mesmo lugar. Sexta-feira seria o dia. Ele as faria se encontrar no lugar certo na hora certa. Ou melhor, no lugar errado na hora errada.

Libertinamente MarotosOnde histórias criam vida. Descubra agora