11.

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“Ei, Akaashi?”

“Hm?”

“Quando você acha que vai nevar?”

“Eu não sei... A neve chega aleatoriamente.”

“Sim, mas... Você... acha que vai nevar em breve? Ou talvez em janeiro?”

“Eu espero que sim. Seria bom. Tokyo precisa de um pouco de neve de vez em quando.”

“É... É. Quando cair, eu quero ir lá pra fora e ficar nela.”

Akaashi sentou de pernas cruzadas no assento ao lado da cama de Bokuto. Ele olhou para o enfermo quando esse disse aquelas palavras, tentando encontrar seu olhar, mas não achando nenhum olho amarelo.  Bokuto tinha sua cabeça virada para o outro lado.

Ele encarava o exterior, as nuvens brancas que rodeavam o céu, hipnotizado pelo quão sem cor elas faziam tudo parecer. Era um daqueles “Dias brancos”, como Bokuto gostava de chamá-los, então ele prestou muita mais atenção no mundo atrás do vidro do que na sua própria vida confinada no hospital. Bokuto respirou profundamente, o som preenchendo o pequeno espaço em torno dele. Os lençóis da cama amassaram-se abaixo de suas mãos.

“Você tem certeza que deveria ir lá pra fora em um frio desses?”

“Eu acho que consigo suportar.”

Akaashi não queria mencionar o fato de que Bokuto possivelmente não teria mais a capacidade de andar, quando qualquer neve que seja tivesse a chance de cair, então ele manteve sua boca fechada. Ele esfregou as mãos fracamente, e jogou sua cabeça para o lado.

“Eu acho que você pode... Contanto que esteja se sentindo melhor.”

Bokuto zombou. Era um som baixo.

“Eu estou. Pare de perguntar, isso já foi a seis dias atrás”

“Eu sei, mas foi ruim.”

“Passou.” Bokuto virou a cabeça, o travesseiro amaçando-se de baixo do pescoço. Ele olhou para Akaashi com pesados olhos semi cerrados. Ele estava extremamente pálido, e de alguma forma ainda mais magro que antes, porém manteve aquele mesmo sorriso no rosto. “Estou bem agora.”

Akaashi não podia evitar sorrir de volta para ele. Ele inclinou o queixo contra a palma de sua mão e gargalhou.

“Ou ao menos tão bem quanto você consegue ficar.”

Bokuto encarou Akaashi afiadamente. Seus lábios estremeceram antes que ele pudesse formar palavras.

“Ca...la a boca” Uma risada mais forte quebrou de dentro dele, chacoalhando seu corpo enquanto ele deitava na cama. “Eu to parecendo... uma merda, eu sei.”

Akaashi encontrou-se rindo junto com ele. Seu riso baixo era mais alto do que a gargalhada sincera de Bokuto.

“Não. Você não tá parecendo uma merda.” Ele tentou esconder seu sorriso com a mão, mas ainda era visível pelos buracos entre seus dedos.

Bokuto estendeu uma mão, tentando sem rumo alcançar e abaixar a de Akaashi. Ele tentou acertá-la até o final, mas achou muito difícil. Da mesma forma, ele continuou.

“Não cubra ele.”

“Cobrir o quê?”

“Seu sorriso.”

“Porquê? Não é nada especi-”

“Eu quase nunca o vejo.” Os dedos de Bokuto tocaram as juntas de Akaashi. Foi o suficiente para ele lentamente remover sua mão de frente da boca, movendo-a para repousá-la no queixo. Akaashi sorriu para ele.

Os olhos de Bokuto fixaram-se em frente em um olhar absorto, seus tons amarelos tirando uma foto mental de algo que ele provavelmente nunca veria de novo. Muitas palavras traçaram sua mente, mas ele só pensou em três que seriam as melhores a se dizer para Akaashi. Ele tentou abrir a boca para dizê-las, porém executou outra ação ao invés. Inconsientemente, sua mão agarrou a de Akaashi, e ele a levou para baixo com a sua falta de força, fazendo ambos se assustarem. Os olhos de Bokuto se arregalaram.

“E-eu achei que você iria... segurar- ”

“Foi de repente.” Akaashi sufocou uma risada. “Me pegou desprevenido”

“Eu não queria...”

“Tá tudo bem.” Ele alisou seu polegar nos nós dos dedos de Bokuto . “Eu... estou segurando agora.”

Em silêncio e quase em facínio, Bokuto encarou Akaashi mais uma vez, por mais tempo antes de olhar paa cima, depois para baixo, e enfim para o outro lado. Ele virou sua cabeça para a janela , longe de Akaashi. Ele não conseguiria encará-lo.

Franzindo os lábios timidamente, Akaashi parou de falar. Ele estudou a parte de trás da cabeça de Bokuto, olhando para a bagunça de mechas pretas e brancas que se sobrepunham umas as outras. Seus olhos verdes então desceram para estudar a pele pálida, com as veias agora facilmente notáveis, que se inchavam sob sua carne sempre que ele se movia. Os olhos de Akaashi abaixaram-se, focando no braço preso à mão que ele segurava.

Ele estudou a pequena agulha que estava alojada no antebraço de Bokuto, olhando o fino tubo que prendia-se nela, e o seguiu para cima até a bolça de fluido intravenoso que pendurava-se sob a sua cabeça.

O que quer que tivesse sobrado do sorriso de Akaashi murchou-se.

Desde o último ataque de pânico de Bokuto, subitamente tornou-se mais difícil para ele controlar completamente suas palavras, movimentos e ações. Uma tarefa tão fácil quanto engolir agora era um problema para ele também, e depois de várias tenativas falhas de manter sua comida dentro, ou fazê-la ir para baixo primeiramente, as enfermeiras acharam que seria melhor para Bokuto receber alimentos da única outra maneira possível, e essa era por um tubo. 

Pelo período de seis dias, Akaashi descobriu que as únicas coisas que Bokuto era capaz de engolir eram pequenos lanches, como uvas, cubinhos de gelo e Pocky Sticks com um sabor específico de morango. Além desses, Bokuto achava praticamente  impossível  manter qualquer outra coisa no estômago. Sua única outra escolha era de deitar lá e aceitar o quer que o líquido intravenoso podia lhe oferecer.

Olhando de volta para Bokuto, ele se aliviou ao ver que o outro ainda tinha sua atenção na janela. Em algum enquanto Akaashi se afastava, o cobertor azul que envolvia Bokuto havia sido puxado para cima, abaixo de seu queixo, com apenas seu braço fora para segurar a mão de Akaashi. A respiração de Bokuto era sossegada, e sua mão nunca permanecia realmente parada por muito tempo. Ela se contorcia frequentemente, e toda vez que fazia, Akaashi a apertava suavemente em resposta. Esta era sua comunicação silenciosa.

Era a maneira de Akaashi deixar Bokuto saber que tudo ficaria bem, e isso sempre o confortaria, independente da situação em que estivessem.

Ambos acharam mais fácil acreditar naquela mentira, do que aceitar a verdade do que estava por vir.

In Another Life- Bokuaka; Tradução PTBROnde histórias criam vida. Descubra agora