In Another Life- Bokuaka; Tradução PTBR

17.

Akaashi se sentou na beirada da cama de Kuroo e olhou pela janela sem foco. Kuroo falou com ele, e Akaashi ouviu e respondeu. Mas na maior parte do tempo, ele apenas se sentou lá e continuou a encarar o nada.

Kuroo estaria preocupado se já não soubesse o que havia acontecia mais cedo naquele dia. Ele estava como Akaashi, se sentando no mesmo lado da cama, á uma boa distância de seu visitante. Aqueles seus olhos amarelos iam frequentemente para o chão, e em seguida para o teto, percorriam o quarto, e depois de volta ao chão, mas ele nunca olhava para Akaashi.

Ele tinha medo de que, se o fizesse, ele não seria mais capaz de manter suas emoções sob controle.

"Como ele estava?" Kuroo perguntou com um tom de voz abafado.

Demorou um tempo para Akaashi responder.

"Quando eu acordei?"

"Sim..." Kuroo olhou para baixo.

Akaashi deixou escapar um grunhido meio estúpido e continuou encarando a frente.

"Pálido. Doente. Morto."

"Como você percebeu que ele não... Estava mais ali?"

"O corpo inteiro dele estava relaxado. Sua cabeça descansava na minha com o peso de alguém que estava inconsciente."

Naquele momento, Kuroo foi aquele que grunhiu, o som vindo profundamente de dentro de seu peito. Ele demorou para falar novamente, mas o fez de qualquer maneira.

"Você vai para o funeral dele?"

"Não."

A resposta veio muito mais rápido do que Kuroo achou que viria. Ele ficou chocado enquanto Akaashi continuou.

"Eu me recuso a ir. Minha última memória de Bokuto não será dele bem vestido, pálido, rígido, e enfiado em um cachão, rodeado de uma quantidade incontável de pessoas que não se importaram nem um pouco com ele até o dia em que souberam sobre sua morte. Minha última memória com Bokuto já está comigo, e morrerá junto comigo.

O tom de Akaashi era monótono, porém Kuroo não errou em detectar o veneno que revestia cada palavra até sua última frase. Ele entendeu de onde Akaashi teria vindo e nem pensou em manter seu tom frio com ele. Kuroo era apenas tão amargo quanto. Ele, também, não tinha intenção de aparecer em funeral nenhum. Ele ficaria furioso com qualquer um ali, e sabia que a mesma dor queimava com Akaashi, também.

Kuroo se inclinou para frente e juntou suas mãos. Ele encarou a parede e balançou uma perna par cima e para baixo enquanto suas emoções lentamente começaram a recuperá-lo.

"Sabe... Hum..." Ele olhou para baixo e esfregou o pescoço com força, deixando profundas marcas vermelhas. "Bokuto, ele... Ele realmente gostava- uh- se importava com você... Ele falou de você o tempo todo quando acabara de te conhecer-"

"Não."

Kuroo congelou. Com sua mão agarrada no pescoço, ele lentamente olhou para cima para achar Akaashi o encarando com os olhos vagos, vazios de qualquer emoção conhecida.

"Não faça isso, Kuroo. Apenas... Não faça."

Ele engoliu em seco, e virou sua cabeça para olhar pela janela mais uma vez. Akaashi enlaçou seu dedos e e esfregou com as unhas atrás da mão. Estava redirecionando a dor.

"Desculpa." Foi a última palavra que Kuroo murmurou antes que ele encarou a frente também, não tendo mais nada para falar.

Ele compartilharam a companhia um do outro em silêncio pelo que pareceu durar 5 minutos, e nesse tempo, Akaashi não olhou mais para o lado para dar uma olhada em Kuroo. Não foi até que ele viu sua forma dobrar que Akaashi realmente olhou em sua direção, e quando o fez, foi saudado com um Kuroo soluçante e silencioso, com seu rosto enterrado nas palmas das mãos. Apesar de ter demorado, Akaashi por instinto se moveu para sentar-se mais perto de Kuroo. Ele colocou uma mão em seus costas largas e esfregou gentilmente, esperando reconfortá-lo e ser o mais forte entre os dois. Mas quando um segundo apenas se passou, Akaashi sentiu sua própria dor crescendo mais e mais em si. Ele desejou que pudesse lutar contra, mas sabia que não havia uma maneira possível.

Não demorou para que Akaashi encostasse sua cabeça no ombro de Kuroo e para que ele, também, fosse vítima da tristeza que lentamente o consumia vivo.