Now

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O mal estar em seu peito nunca passava.

Não era como um má sensação ruim, porque isso era muito pouco perto de tudo que sentia. Era como se o seu peito inteiro fosse dilacerado por algo que ele não podia nem mesmo ver, uma fonte desconhecida que o matava cada dia que se passava. E ele estava longe de saber como matá-la.

Que dia do mês era? Quantas semanas faziam desde o fatídico dia que fora deixado pelo homem de sua vida? Eram perguntas complexas demais para o homem deitado em sua cama. Os lençóis brancos escondiam todo o seu corpo encolhido, deixando de fora apenas o seu rosto sofrido. As lágrimas presas em seus olhos, algumas conseguiam escapar sorrateiramente, se perdendo na imensidão branca dos cobertores grossos.

O ar condicionado estava ligado, deixando o ambiente totalmente frio. As cortinas fechadas faziam o lugar parecer um beco sem saída, úmido e escuro. O Malfoy jogado sobre a cama estava acabado, os cabelos bagunçados jogados pelo travesseiro, tremendo pelos soluços e pela frieza do quarto. O nariz vermelho entregava o choro, mas também a gripe que pegou pela falta de cuidados com si próprio. Se Harry estivesse ali, ele estaria com o aquecedor ligado, com o suéter em seu corpo, enrolado nas cobertas quentinhas enquanto tomava uma sopa recém preparada e tinha os cabelos acariciados, ao mesmo tempo em que levava uma bronca por ser tão descuidado.

Mas ele não estava.

Tudo que tinha era remédios jogados pela cômoda, uma garrafa de água no chão, pantufas infantis e solidão. A sua maior aliada no momento, e ele sinceramente a odiava, mas não sabia como expulsá-la dali.

E então, ele pensou brevemente. Poderia convidar outras pessoas, inciar novos romances, criar novas memórias. Mas como ele teria a ousadia de chamar alguém para aquele lugar? Como ele poderia despir o corpo de outra pessoa na cama onde fizeram amor pela primeira vez? Era tão, tão estúpido.

Junto de Harry, aquele ambiente era extremamente acolhedor. Era o seu lar repleto de amor. Agora, no entanto, é apenas uma casa cheia de lembranças felizes.

Abafou um grito no travesseiro, tentando extravasar a sua dor. Mas aquilo era mais difícil do que pensava, sinceramente. Nunca sofreu qualquer desilusão amorosa, mas sabia que elas costumavam doer menos com o tempo. Com Draco, entretanto, a dor apenas piorava dia após dia.

Pensou em ligar para Harry. Realmente pensou, sabia que ele não tinha trocado de número. Mas o que diria? Que estava no fundo do poço e queria mais que tudo consertar as coisas? E se ele já tivesse namorando um cara legal que lhe enche de amor e atenção e dança com ele todas as manhãs, depois de perguntar o que ele perdeu enquanto Harry dormia?

Refez todos os seus atos imprudentes. Quando o erro começou? Eles eram tão felizes. Pensavam em ter filhos correndo pela casa, como Draco pôde esquecer tudo aquilo tão facilmente, priorizando o trabalho do que a própria família que ainda estava se formando?

Harry amava crianças. Sempre amou. O seu sonho era ter vários pequenos filhinhos alegrando e trazendo esperança para a casa, ele nunca escondeu aquilo. E, mesmo que nunca tivesse pensado naquilo antes, a ideia de dividir uma família enorme com Potter jamais pareceu um absurdo para Malfoy; pelo contrário, durante diversas noites ele se pegou pensando em segurá-los em seus braços, enchê-los de beijo enquanto a loção infantil invadia as suas narinas. E ele sempre sorria; era inevitável, quando tudo que se passava em sua cabeça era o moreno com um bebê no colo, rindo a cada movimento que a criança desse.

E embora não fossem seus de verdade, ele já sabia que os amaria como se fosse. Que cuidaria, protegeria eles. Então, quando foi que essa ideia parou de soar maravilhosa para ele? Isso aconteceu, em algum momento?

Resmungou, se livrando das cobertas e caminhando até a lavanderia. Juntou as roupas sujas e jogou-as na máquina, ouvindo o barulho de início e se perdendo nas roupas que giravam dentro da máquina. Os barulhos dos pássaros lhe despertaram, e ele viu vários deles através da janela, voando animadamente em direção ao topo das árvores, todos andando em bandos que se tornavam pontos coloridos a medida que mergulhavam no azul do céu.

Era como uma porta, a casa estava bagunçada e o que ele fazia era pensar nas coisas ruins que chegou a fazer. Então decidiu agir; separou os produtos de limpeza e caminhou até a sala, onde passou a organizar os porta retratos que antes estavam virados de cabeça para baixo. Limpou toda a sala, partindo para os quartos, banheiros e por fim, a cozinha.

Quando finalmente acabou, se sentiu mais tranquilo. Embora ainda não estivesse exatamente acolhedor, aquele ambiente voltara a ter uma organização confortável. Antes, com os porta retratos escondidos, itens jogados pela casa e móveis meio sujos, o local passava quase desespero.

Respirou fundo e despiu as roupas que usava. Se encarou no espelho por minutos e minutos; fazia tempo desde a última vez que não fazia aquela terapia. Mas, de qualquer forma, precisava seguir em frente, certo? Embora doesse, era necessário. Então encarou cada detalhe seu; o pescoço razoavelmente longo, os fios loiros repartidos, as bochechas que emagreceram, os lábios finos, o corpo magro e os olhos fundos que examinaram cada centímetro do seu reflexo.

A barba rala já dava as caras, o que o deixava com aparência mais velha. Ele não ficava exatamente feio, mas preferia quando seu rosto estava liso; por isso, passou a gilete pelos pelos, evidenciando um mínimo sorriso satisfeito quando notou seu rosto limpo mais uma vez. Tomou um banho rápido e se serviu com comida pronta, e apesar do seu peito ainda latejar, ele estava disposto a mudar tudo.

De zero a dez, qual a chance de eu levar um pé na bunda caso o chame mais uma vez?, pensou consigo mesmo.

Sentado sobre o banquinho de frente ao balcão, ele pensou muito. Não estava tudo acabado, ele ainda podia salvar o amor da sua vida; e caso não conseguisse, pelo menos saberia que tentou no fim de tudo.

Agora, era saber como trazê-lo de volta.

🦁+🐍
© daeggucci

When I Was Your Man - dra.rryOnde histórias criam vida. Descubra agora