2 Mauro

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Carreguei a garota nos braços, seguindo Sofia, que caminhava rápida em direção à casa. Assim que adentramos, percebi pela expressão de Francisca, que meus problemas para esse dia, não seriam só os que estavam sendo carregados em meus braços.

— Quem é essa moça, e o que houve? — Francisca nos seguiu não obtendo respostas.

— Coloque ela nesse quarto, papai! — Sofia abriu a porta do cômodo me deixando passar.

Deitei a garota na cama. Agora sem o chapéu cobrindo parte do seu rosto, eu percebia melhor seus traços e a delicadeza deles. Seu rosto era fino, seu olhar felino, doce, fraco e preocupado. Seus lábios carnudos e bem desenhados, embora secos e desidratados por contra das horas que esteve debaixo do calor abrasador do sol.

— Vocês não vão me responder, quem é a garota? — Francisca questionou mais uma vez exaltada, me fazendo desviar os meus olhos dela.

— Uma das trabalhadoras do canavial, que se sentiu mal. — Sofia, respondeu dando mais um pouco de água, a ela.

— E desde quando, a minha casa, passou a ser hospital para os empregados? — perguntou irritada.

— Francisca, pode nos dar licença, por favor? Você não está ajudando e ainda está me deixando mais nervoso. — caminhei até ela e a conduzi para fora da porta do quarto. — Chegará um médico para observá-la, o encaminhe para cá quando chegar. Ah, e só mais uma coisa, essa casa é minha também. — finalizei fechando a porta, deixando minha esposa com ar de incrédula do lado de fora.

— Você vai ficar bem. — Sofia dizia gentilmente para a garota deitada na cama. — Qual seu nome?

— Zuri. — respondeu com dificuldade, fechando os olhos de seguida. Ela estava tão debilitada, que nem os olhos conseguia manter por muito tempo abertos.

Em alguns minutos o médico chegou e rapidamente a começou a examinar.

— Precisamos retirar essa roupa dela. O quarto está quente e estão fazendo mais calor nela. — o médico começou a desabotoar as roupas dela. — Me ajude, por favor. — pediu para Sofia.

Sofia me olhou brevemente e eu desviei meu olhar deles. Seria constrangedor ver a garota em trajes menores.

— Se houver um ventilador na casa, pode trazer.

Saí do quarto buscando pelo ventilador, retornando uns minutos depois, já a garota estava coberta apenas pelo fino lençol branco, enquanto o médico a examinava.

— Vou deixar alguns medicamentos aqui, para a febre e também para as dores que ela está sentindo no corpo pelo esforço exercido. O nível de desidratação é elevado, e é essencial ela tomar pequenos goles de água e caldos, várias vezes ao dia. Se houverem outras complicações como vômitos, aí o ideal é que seja internada para receber reposição intravenosa.

— Tudo bem doutor, obrigada por ter vindo. — Sofia agradeceu, saindo do quarto com o médico, para acompanhá-lo até à porta da casa.

Liguei o ventilador e me aproximei da cama, a observando. Os olhos da garota me fitaram ainda mal conseguindo manter as pálpebras abertas.

— Desculpe por isso... — sussurrou fraca.

— Você foi teimosa. Eu já sabia que ia dar nisso. Mas tudo bem, descanse agora. — falei chateado, mais comigo mesmo, por ter cedido ao seu pedido, do que com ela. Afinal, ela só estava batalhando para poder sustentar a família. E isso eu sabia muito bem como era, pois já estive no mesmo lugar.

— Eu posso voltar para casa?

— Nem pensar. Não sai daqui até ficar bem.

— Mas...

Zuri ( 3/1/ 22 data de retirada ) Corre que ainda dá tempo! 🏃‍♀️💨Onde histórias criam vida. Descubra agora