4 Zuri

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Novas batidas na porta do quarto me sobressaltaram. Quando Mauro veio me ver mais cedo eu me senti exposta demais, apenas com o lençol me cobrindo, e depois do seu aviso para não deixar seu filho entrar lá novamente eu fiquei assustada. O olhar de Luan me deixou nervosa e eu não senti uma boa energia vinda dele.
Dei permissão para entrar, e logo Sofia entrou com um lote de roupas bem dobradas nas mãos.

— Aqui estão algumas roupas minhas, Zuri. Penso que ficarão bem em você. — falou colocando-as  na beirada da cama.

— Obrigada, Sofia. São muitas, eu penso que apenas uma dessas mudas será o necessário. Amanhã já devo poder ir embora. — falei esperançosa.

Eu não estava me sentindo confortável naquela casa. Ainda mais, depois de ter ouvido a família discutir mais cedo, e de perceber que eu era mais um problema para eles.

— Nem pensar, você só sai daqui quando estiver totalmente recuperada. E você está mais confortável aqui que num quarto de hospital, não acha? — esboçou um sorriso. — Se meu pai não tivesse aceite você trabalhando lá no canavial, nada disso teria acontecido.

— A culpa foi minha, eu insisti com ele. Com meu pai doente, eu precisava garantir nosso sustento.

— Aquele trabalho não é para você, e meu pai devia saber disso.

— Tem muitas mulheres trabalhando nos canaviais. Ele tentou impedir. Eu pensei que daria conta também. — admiti envergonhada.

— O que você faz na vida?

— Eu cuidava de uma senhora idosa que faleceu mês passado. Então, estou buscando outro trabalho agora. Tenho um irmão menor e com meu pai doente as coisas estão difíceis para nós.

— O que tem seu pai?

— Cãibras e está travado por causa do trabalho no canavial. Ele trabalhou demais mas últimas semanas.

— Espero que ele melhore rápido.

— Obrigada.

— Meu pai sempre contou como o trabalho de corte da cana era duro, e como ficou também travado e sofrendo com as cãibras várias vezes. Ele foi um cortador quando mais jovem. — percebi orgulho na voz de Sofia ao falar do pai.

A escutei curiosa pois eu nunca pensei que seu pai algum dia tivesse trabalhado no duro. Quem o visse diria que era um homem que sempre teve regalias na vida. Tinha um porte forte, elegante, bonito, e parecia ostentar riqueza.

— Então ele sabe o quão penoso esse trabalho é. Talvez seja por isso que é dos poucos patrões, que realmente parece se importar com os trabalhadores.

— Sim, ele realmente tenta dar melhores condições a eles. Mas infelizmente, os cortadores ganham consoante as toneladas de corte feitas, e muitos vão até ao seu limite para conseguirem ganhar mais um pouco.

— Foi o que aconteceu com meu pai. Ele praticamente chegava em casa, tomava banho, bebia um pouco de sopa e ia dormir para levantar bem cedo no dia seguinte e voltar para a lida.

— E seu irmão, que idade tem?

— João, tem 9 anos.

— Sua mãe?

— Eu não tenho, ela faleceu faz muitos anos já. João é filho do segundo relacionamento do meu pai.

— Entendi. — Sofia me olhou e pegou uma das roupas. — Consegue se levantar para ir até o banheiro?

— Acho que sim. — enrolei o lençol em torno do meu corpo e coloquei os pés no chão me levantando.

Alguém bateu na porta do quarto novamente, não esperando permissão para entrar, e eu apertei o lençol diante de mim.

A mãe de Sofia entrou com cara de poucos amigos e me encarou séria.

— Não tem uma roupa para colocar, garota?

— Mãe está sendo grossa com a Zuri. Ela não tinha roupas disponíveis até agora.

— Já pensou se fosse seu pai ou seu irmão entrando aqui agora? Pelo amor de Deus. Vá, vá, se componha. — agitou suas mãos me indicando o banheiro.

Caminhei até o banheiro e Sofia me entregou as roupas. Tomei uma ducha rápida, e vesti uma calça moletom e uma camiseta de manga curta. As roupas ficaram um pouco largas e compridas em mim, pois Sofia era um pouco mais alta que eu. Fiz algumas dobras nas calças para que elas não rastejassem, e podia ainda ouvir do lado de fora do banheiro, Sofia e sua mãe discutindo.

Pelo que percebi Sofia defendia seu pai, enquanto sua mãe defendia seu irmão.
Me perguntei o que ele teria feito para deixar sua família tão nervosa logo pela manhã. Hesitei se entraria no quarto ou se esperava que terminassem a discussão mas, quando Sofia chamou meu nome me perguntando se estava tudo bem, eu respondi que sim abrindo a porta do banheiro.

Sua mãe passou os olhos por mim de forma constrangedora.

— Bem mais apresentável agora. — falou de forma seca.

— Mãe, por favor. — Sofia a encarou envergonhada. — Minha mãe está um pouco nervosa, Zuri, desculpe.

— Eu que peço desculpa pelo transtorno.— respondi sem olhar sua mãe.

— Se recupere logo. Já temos problemas que cheguem para cuidar. — suas palavras foram ásperas, saindo do quarto de seguida.

Sofia ficou sem jeito, vendo ela sair.

— Eu peço desculpa pela minha mãe. Ela está num mau dia. Meu pai e ela brigaram.

— Tudo bem, não se preocupe comigo. — a sosseguei.

— Você gosta de ler?

— Gosto sim. — um grande sorriso nasceu em seus lábios.

— Então deite novamente na cama, precisa de repouso. Eu volto já.

Sorri perante suas palavras de ordem saindo do quarto, e me deitei tal como pedido. Eu já conseguia caminhar embora me sentisse ainda um pouco zonza, com dor de cabeça e no corpo, mas enquanto eu não recuperasse totalmente, Sofia não ia me deixar voltar para casa. Eu só desejava melhorar logo e ir embora. Estava sendo muito bem cuidada por Sofia, seu pai tinha se mostrado realmente preocupado e gentil, mas o ambiente na casa era hostil e sua mãe tinha deixado bem claro que não suportava minha presença.

Sofia chegou trazendo vários livros, interrompendo meus pensamentos.

— Gosta de romances? — perguntou entusiasmada.

— Gosto sim.

— Aqui estão alguns. Super indico esse, Amor em tempos de Guerra, do Júlio Magalhães.

— Começarei por esse então. Fico grata por sua amabilidade, Sofia.

— Ora não é nada, Zuri. Eu peço desculpa pelas circunstâncias, e pelo caos que está essa casa. Mas eu juro que somos pessoas normais.

Ri junto com ela de suas palavras e peguei o livro que ela tinha sugerido.

— Se importa que eu fique lhe fazendo companhia?

— Claro que não. — respondi esboçando um sorriso. Eu gostava da sua companhia e me sentia até mais segura com ela presente.

Sofia pegou em um dos livros e se sentou também na cama do meu lado.
Passamos assim o dia lendo e conversando sobre as leituras.

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Acho que já percebemos a quem deve ter puxado Luan. 😏

Mulherzinha azeda e chata essa Francisca. 😖

Já Sofia é um amor 😍 será que puxou ao seu pai?

Espero que estejam a gostar da história.

Deixem o vosso voto ⭐️

Um beijo e até o próximo 😘

Zuri ( 3/1/ 22 data de retirada ) Corre que ainda dá tempo! 🏃‍♀️💨Onde histórias criam vida. Descubra agora