16. Kass Reaparece

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Já tinha se passado exatos dois dias desde que descobri a minha verdadeira história. Ainda estava confusa e perdida, porém, estava lidando melhor do que no princípio.

Dani e o resto dos Devón ficaram repassando o plano várias vezes, tentando descobrir se realmente era isso que deveria ser feito. Nada foi mudado realmente, o principal ainda era o mesmo: Eu seria isca viva.

Deitei enquanto esperava por uma salvação. Uma salvação que nunca chegaria. Tive muitos sonhos estranhos durante esses dois dias que se passaram. Sonhava várias vezes que tinha asas e voava por um lugar estranho, desconhecido. Sonhava também com um ser sem rosto, com um corpo musculosamente ameaçador, quase diabólico. Era o Kass, ou melhor, a imagem que criei para o Kass. E era terrível.

Na escola a desculpa que deram para justificar as minhas faltas era de que estava doente. Minha mãe foi pessoalmente a diretoria avisar que não estava bem, como se fizesse alguma diferença. Acreditava que nunca mais voltaria para lá, depois de tudo, nem tinha certeza se ainda estaria viva.

Tentei ser menos pessimista e pensar positivo. Os Devón eram guardiões, seres com uma incrível força e poder, eles me protegeriam de qualquer coisa. Eu sou a filha do rei deles, eles não podem voltar para noticiar a minha morte. Querendo ou não eu era meio que a pessoa mais importante do mundo deles, certo? Ao menos tinha certeza que meu ego estava inflado de uma forma assustadora e desagradável;

O meu único conforto nessa história toda era o Dani. Meu amor por ele crescia cada vez mais. Ele era tão paciente comigo, carinhoso, atencioso, teria enlouquecido ser não fosse por ele.

Minha mãe também estava sendo uma verdadeira mãe. Assim como meu pai. Os dois estavam sendo maravilhosos comigo, não teria chegado até onde cheguei sem o apoio desses três.

Naquele momento eu senti falta dos dois patetas. Fazia tempo que não pensava neles, meus queridos irmãos. Toni mandava alguns e-mails de vez em outra. Já Patrick parecia ter se esquecido de nós, mas ainda assim eu queria que os dois estivessem aqui. Qualquer coisa que me fizesse esquecer por alguns instantes o que toda aquela história estava me causado já era de grande ajuda.

Naquela manhã eu havia recebido visitas especiais. Algumas inesperadas, mas não menos especiais.

– Alice, desculpe não ter vindo antes. – Bia já se acomodava no sofá da sala com a sua mochila vermelha e branca.

– Nós viemos ver como você está! – Mel entrava delicadamente, deixando suas sandálias na porta, junto ao tapete. – Nós não queríamos trazer, mas ele insistiu muito!

Meio timidamente, Roger era quem entrava. Sentou ao meu lado e deixou Mel sentar no chão, tendo apenas uma almofada amarela entre as pernas. Estavam tão aflitos e preocupados, se eles soubessem da verdade.

– E a Milena? – perguntei.

– A Mili não quis vir. – Bia respondeu. – Ela ainda está "brigada" com você.

– Mas eu estou aqui! – Roger tentava ser simpático.

– Acredite se quiser, mas fiquei feliz que tenha vindo. – disse com um sorriso meio torto.

Não tentei fingir cara de doente, provavelmente eu estava muito abatida. Talvez se tentasse fingir não convenceria tão bem.

– Nós trouxemos as matérias que você perdeu, mas se quiser podemos copiar para você! – Bia sempre solidaria. Como se eu tivesse com cabeça para lembrar que estava perdendo matéria, quanto mais copiar.

– Nós não aparecemos antes por que não tivemos tempo mesmo. Você sabe, chegando semana de provas a escola inteira enlouquece! – Mel completou.

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