3 - O tempo não cura

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Estou de volta :) Que capítulo difícil de escrever, enrolei mais do que imaginava, mas espero de verdade que vocês leiam e gostem, pois foi escrito com muito cuidado, carinho e amor.

"Não me deixe rezar por proteção contra os perigos, mas pelo destemor em enfrentá-los.

Não me deixe implorar pelo alívio da dor, mas pela coragem de vencê-la.

Não me deixe procurar aliados na batalha da vida, mas a minha própria força.

Não me deixe suplicar com temor aflito para ser salvo, mas esperar paciência para merecer a liberdade.

Não me permita ser covarde, sentindo sua clemência apenas no meu êxito, mas me deixe sentir a força da sua mão quando eu cair."

Rabindranath Tagore

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Naquele dia eles chegam em casa um pouco tarde, ambos cansados dos acontecimentos recentes.

Ela é a primeira a entrar no banho e, enquanto isso, Germán brinca um pouco com o Comissário. Logo as luzes do apartamento são desligadas e os dois estão deitados na cama, abraçados.

A única luz que ilumina o quarto vem de uma fresta na cortina e eles conversam um pouco até que a conversa vira um monólogo, pois Alicia já está dormindo.

Ele sorri ao sentir sua respiração profunda e a puxa para mais perto dele, acariciando sua barriga com uma das mãos.

Mas ele não consegue dormir.

Não consegue se deixar relaxar e sua cabeça não para de girar.

A imagem do rosto do médico não sai da sua memória. Aquela imagem era prova suficiente de que algo estava errado. Ele já sentia, no fundo sabia que algo sério estava acontecendo com ele.

Ele olha para sua esposa novamente e a preocupação se intensifica a ponto de, por um breve momento, esquecer como respirar. Não queria preocupá-la, não queria assustá-la, não queria magoá-la. Nunca. Ainda mais agora que eles esperavam um filho.

Um filho.

Ele sorri e a imagem de uma pequena menina de cabelos ruivos dormindo em seu colo é o que o acalma.

Ele, que nunca foi muito religioso, se pega implorando em silêncio para que Deus lhe proteja e proteja sua família. Para que tudo isso não passe de uma preocupação tola.

Assim, ele tenta dormir.

Na manhã seguinte, no momento em que Alicia sai para trabalhar, ele liga para seu chefe e pede o dia de folga. E isso se repete por mais um ou dois dias.

Ele começa a fazer os exames e estranha que eles são muitos e que seus pedidos são feitos pelo médico com o termo "prioridade" estampado em todos eles.

E as noites se passam como a do dia do acidente. Alicia dormindo em seus braços e ele com os olhos vidrados no teto, imaginando, se preocupando. Chorando em silêncio.

Três dias depois ele está sentado em um consultório com todos os exames e resultados em mãos. O médico, depois de analisar tudo com uma expressão séria, pergunta sobre sua esposa e ele fala que ainda não conversou com ela, que não queria preocupá-la à toa.

Mas o médico, então, lhe explica que essa possibilidade já não existia.

Câncer de pâncreas estágio IV.

Promessas quebradasOnde histórias criam vida. Descubra agora