i. Ain't No Sunshine

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As palavras da sua Casa não deixavam sua mente. Insubmissos, Não Curvados, Não Quebrados. Ela não queria casar com Rhaegar Targaryen, mas o fez, porque era o seu dever. Quando o viu pela primeira vez ficou encantada com sua beleza e com o passar do tempo passou a amá-lo genuinamente. Ela lhe dera dois filhos, uma menina e um menino. Pela lei dos Sete Reinos, ela dera a Rhaegar seu herdeiro, deu a continuidade de sua dinastia, mas ele precisava de mais. "O dragão precisa ter três cabeças". Ela o amava tanto que, se ele tivesse dado apenas mais um pouco de tempo, ela teria engravidado e morrido no parto se precisasse, tudo para dar a ele a maldita terceira cabeça. Entretanto, seu marido não lhe oferecera mais tempo, simplesmente raptou uma garota, achando que ela era uma peça da tal profecia de Gelo e Fogo. "O Grande Mal está vindo", ele dizia, "Temos que estar prontos e a profecia diz como". Para os sete infernos este grande mal, Elia estava ali em sua frente, mas ele preferiu as palavras de uma bruxa e de um fantasma. Por vezes se perguntava se a loucura dos Targaryen estava começando a afetar seu marido, mas aquilo era diferente, ela não via o brilho de loucura, que tinha no olhar de Aerys, nos olhos de Rhaegar. Talvez ele genuinamente acreditasse em tais profecias e ela se perguntava se isso não seria mais perigoso.

Na Fortaleza Vermelha, sentia que estava rodeada pelas mais perigosas serpentes, mas essas não eram como as serpentes de Dorne. Em seu lar, ela poderia andar entre centenas de serpentes venenosas e mesmo assim nenhuma ousaria lhe fazer algum mal. Porém, Porto Real não era nada como Lançassolar ou Jardins de Água, aqui as serpentes estavam apenas esperando o momento certo para dar o bote. Sua vida como a Princesa dos Sete Reinos era tão diferente de como tinha imaginado. É claro que nunca pensou que os nortistas a recebessem de bom grado com os braços abertos, principalmente quando seu casamento com o príncipe dragão era somente uma forma de tentar desafiar Tywin Lannister por quebrar o acordo feito entre Joanna e sua mãe e, ao fazê-lo, oferecer Tyrion no lugar de Jaime. A partir do momento em que se casou, soube que sua responsabilidade para com o reino elevou-se num nível muito acima do que tinha esperado toda a vida, agora era ela quem deveria prover herdeiros e, como uma boa princesa e esposa, assim o fez. No início de sua relação com Rhaegar, ele prometeu o céu, como um nobre cavalheiro, dizendo que a protegeria, assim como protegeria seus futuros filhos. Quando a loucura de Aerys começou a afetar ela e Rhaenys, foram todos para Pedra do Dragão e lá ficaram por um tempo. Ali, realmente acreditou que o paraíso tinha a encontrado, mas era apenas uma ilusão. Depois disso tiveram que voltar a Porto Real e então veio o nascimento de Aegon. Ter o seu precioso filho foi o começo de sua ruína.

"A princesa não poderá engravidar novamente", o Grande Meistre Pycelle disse para Rhaegar depois do conturbado parto de Aegon, "Se ela engravidar, vai morrer durante o parto". "Pelo menos teve um menino, agora a linhagem está segura". Elia não aguentava mais ter de ouvir essas desculpas somadas com olhares de piedade, então sempre se retirava para o cômodo reservado para o pequeno príncipe. Regularmente, Rhaenys ficava junto com o irmão, sempre acompanhada por seu gato Balerion. Quando não estava com o pai, a princesa estava com a mãe ou com o irmão. Sua filha poderia ter nome valiriano, mas ela era uma dornesa da ponta da cabeça até a sola do pé e, por causa disso, às vezes pensava que o nome escolhido pelo marido para a primeira filha era uma forma de humor ácido, uma dornesa com o nome da mulher que tentou dominar Dorne. Sentia que muitas pessoas na corte desejavam sua morte, o motivo poderia ser diverso: por ela ser uma dornesa ou porque queriam que Rhaegar tivesse mais filhos, para que a linhagem da família real fosse fortalecida. Seu marido permanecia cortês, não mantinham mais uma relação sexual, mas ele sempre lhe era muito respeitoso, mas era somente isso. As pessoas ao redor notavam o respeito mútuo e algumas assumiam um amor crescente, mas era simples e puro respeito, até o fatídico Torneio de Harrenhal.

Nunca fora tão humilhada quanto naquele momento em que seu próprio marido coroou outra mulher como Rainha do Amor e da Beleza. Tinha conhecido Lyanna em uma das tardes que caminhava com Ashara, antes do episódio, e tinha achado a criança muito espirituosa e corajosa, ela se daria bem em Dorne. Todos a olhavam de uma maneira pior do que antes, incomodando-a ainda mais. Acreditou na menina quando ela veio lhe falar que não sabia de nada, que foi uma surpresa nada agradável para ela também. O que era para ser um evento divertido para ela tornou-se uma desgraça. Quase um ano depois, quando ouviu do sequestro de Lyanna, ficou com suas dúvidas. A Stark era meramente uma criança e lembrava-se de que ela não queria aceitar o futuro imposto pelo pai e, juntando com a obsessão de Rhaegar em ter mais uma filha, não fora difícil acreditar que ele poderia ter enganado a garota com falsas promessas. Por mais que lhe machucasse, Elia sentia que Lyanna era mais uma vítima.

Ao receber a notícia de que agora era uma viúva, pensou que sentiria mais tristeza, mas depois de tudo que Rhaegar a fez passar, a única tristeza que tinha era por seus filhos terem perdido o pai. Mais uma vez cercada por serpentes, Elia e seus filhos foram obrigados a ficarem na Fortaleza Vermelha enquanto sua sogra e seu sobrinho partiram para Pedra do Dragão, por um capricho do Rei Louco. A guerra estava praticamente perdida para os dragões e seus filhos eram sua maior preocupação, ela tinha que achar uma maneira de sair do castelo. Rhaella não teve tempo de lhe dar instruções, não tinha Ashara com ela mais e o único cavaleiro da Guarda Real deveria ficar protegendo o Rei, mas Sor Jaime lhe disse que seu dever era proteger ela e seus filhos e assim o faria. O calafrio que sentia constantemente cresceu para um pavor quando percebeu que soldados adentraram na cidade e, ao invés de ajudar, estavam saqueando. As bandeiras vermelhas com leões dourados lhe eram muito familiares. Por um momento pensou que Sor Jaime viria até ela, mas não quis esperar e depender somente dele. Pegou Aegon nos braços e tomou uma mão de Rhaenys e então estavam correndo pelos corredores para achar um cômodo mais próximo para se esconder. Soldados e mais soldados invadiam o castelo e Elia podia ouvi-los. Por coincidência do destino ou não, o cômodo em que entraram pertencia a Rhaegar. A princesa viúva arrastou a filha para perto, dizendo que logo tudo isso iria acabar, que Sor Jaime viria para ajudá-las. Rhaenys viu Balerion perto da cama e conseguiu se soltar, indo atrás do gato. Quando ouviu pessoas se aproximando, Elia fez um movimento para que a menina ficasse quieta e ela entrou debaixo da cama. Como mãe, ela sentia o medo da filha e rezava bem baixinho para os Sete, pedindo a proteção deles. No entanto nenhum dos deuses a ouvira. Sor Amory Lorch e Sor Gregor Clegane entraram no quarto e acharam os três. Foi frações de segundos para Elia, ter seu bebê arrancado de seus braços a assistir a morte de seus dois filhos. Foi violentada e morta, suja com o sangue de seu próprio filho. Até seu último suspiro, pensava nas palavras de sua Casa: Insubmissos, Não Curvados, Não Quebrados. Elia não se sentia assim, não mais. Em um lugar que deveria ser o seu lar, nunca esteve segura. No momento de desespero, confiou que uma das pessoas que pensava ser seu amigo iria vir em seu resgate, mas Jaime estava mais ocupado esquentando o lugar no Trono de Ferro.

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